Davi Pretto é um dos responsáveis pela renovação do cinema gaúcho, imprimindo novos olhares para espaços míticos como os pampas–que serviu de cenário para épicos do chamado “cinema de bombacha”. Em “Rifle”, que será exibido amanhã, às 19h50, no Cine Belas Artes, a região é reflexo da realidade social do país. “Sempre me interessou a história do êxodo rural, sobre o que está acontecendo hoje. Minha abordagem é mais melancólica, sobre um lugar esvaziado, em que os poucos que ficam vivem uma batalha perdida”, registra Pretto.  Esse olhar está estampado em Diones, um peão de fazenda que recebe a notícia que ela será vendida. “A reação dele é de romper com o real, como se nossa reação hoje não existisse no plano realista”, observa o cineasta, que optou por escalar um não ator na própria região das filmagens. Este é outro elemento que vai na contramão do épico gaúcho, protagonizados por rostos conhecidos da capital porto-alegrense.  “Incomodava-me bastante essa representação que faziam daquelas pessoas. Queria desconstruir um pouco isso. Por muito tempo, o cinema gaúcho teve uma narrativa única. E quando mostramos diferentes linguagens, é também uma maneira de falar frontalmente sobre o que já foi criado”, destaca. SurdezAssim, à medida que o Diones tenta ir à frente com seu revide contra o capital, a narrativa vai ganhando contornos cada vez abstratos. Som e fotografia têm papel fundamental na construção de “uma sensação sensorial do que é viver num não lugar, na fronteira entre o real e o fantástico”. A intenção foi promover uma espécie de descoberta para o espectador em torno de um interior brasileiro já esquecido. “As pessoas parecem surdas para a gente mesmo. Ninguém mais se entende. É engraçado quando dizem que não compreendem o que o personagem fala, como se fosse preciso uma legenda”.

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