Sérgio Ricardo lança 'Bandeira de Retalhos' na Mostra de Tiradentes

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
22/01/2018 às 15:45.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:53
 (Beto Staino/Universo Produção/divulgação)

(Beto Staino/Universo Produção/divulgação)

TIRADENTES – Há 40 anos, o compositor, músico e cineasta Sérgio Ricardo se separou da primeira mulher e saiu do bairro da Urca para morar num barraco do Morro do Vidigal, no Rio de Janeiro. A ex não o deixou à míngua, como poderia se supor. O artista se mudou por causa da vista para o mar.

 “A música ainda me dava um bom dinheiro. Comprei um apartamento e o barraco. Era de origem pobre e sempre fui cercado de amigos do morro. Mas assim que mudei, a Prefeitura queria desapropriar todo mundo para construir um hotel de luxo e, para impedir que isso acontecesse, tivemos que nos unir”, lembra Ricardo.

 A história resultou no argumento de um filme, “Bandeira de Retalhos”, que ficou anos na gaveta até se transformar numa peça em 2012. O sucesso da produção, comandada pelo grupo Nós do Morro, criado no Vidigal, levou à retomada da ideia do longa-metragem, exibido pela primeira vez ontem, na 21ª Mostra de Cinema de Tiradentes.

 “Foi uma história bonita. Consegui o apoio do pessoal do asfalto, principalmente do jurista Sobral Pinto (conhecido por sua preocupação com os direitos humanos), que topou nos defender na hora. Vencemos e mostramos que o povo tem força. Só é preciso se conscientizar disso”, observa Ricardo.

 Com 85 anos, o músico anda amparado por uma bengala, mas não desiste do cigarro. “Pode fumar aqui?”, indaga ao repórter, no QG da Mostra, no Centro Cultural Sesiminas Yves Alves. Ele ainda se diz um marginalizado que, por não “fazer parte da patota”, não tem projetos aprovados e apoio da mídia.

 É assim que ele explica os 45 anos sem dirigir um longa – o último foi “A Noite do Espantalho”. Até mesmo a desclassificação do 3º Festival da Música Popular, da TV Record, palco da famosa cena em que quebra o violão após se irritar com as vaias do público, ocorrida em 1967, ganha essa interpretação.

 “A plateia vaiava todo mundo. Naquele ano, só a música do Edu Lobo não teve apupo. Aquela foi a melhor solução para o momento; Mas só muito depois fui me dar conta que a música ‘Beto Bom de Bola’ criticava os cartolas e o dono da Record (Paulo Machado de Carvalho) era um deles. Acredito que foi tudo preparado”, avalia.

 Sérgio Ricardo está em busca de recursos para filmar “Estória de João-Joana”, outro roteiro escrito há muitos anos, baseado no primeiro cordel escrito por Carlos Drummond de Andrade. “É uma história sobre os nordestinos, que também fala sobre a condição da mulher, tema bastante atual”, adianta.

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