Série animada, com família disfuncional, é a mais longeva da história da TV

Paulo Henrique Silva
16/04/2019 às 10:25.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:15

Já são mais de 650 episódios desde que, numa noite de 17 de dezembro de 1989, Homer, Marge, Bart, Lisa e Maggie apareceram pela primeira vez na TV americana. Nenhuma outra série ficou tanto tempo no ar, de forma ininterrupta, quanto essa família disfuncional de cor amarela, quatro dedos em cada mão e dona de ironias sem precedentes.

Na 30ª temporada, “Os Simpsons” continuam sendo campeões audiência. A série foi eleita a melhor já produzida em todos os tempos, segundo o livro “TV (The Book)”, de Allan Sepinwall e Matt Zoller. Nos últimos tempos, virou sinônimo de bola de cristal, após “prever” vários acontecimentos, como a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.

“É muita coincidência ou realmente os roteiristas são visionários”, observa Mariangela Cantú, que dublou a matriarca Marge em algumas temporadas. Ainda hoje, quando a titular Selma Lopes não pode emprestar a sua voz, por motivo de saúde ou viagem, é Mariangela quem assume o posto da mulher de Homer, um abobalhado pai de família e estereótipo da classe média americana.

Para a dubladora, a razão do sucesso de “Os Simpsons”, exibido no Brasil no canal pago Fox, está no fato de falar a verdade em forma de brincadeira. “As coisas que abordam são aquilo que todo mundo gostaria de falar. Por ser uma comédia de animação, acaba tendo essa ‘permissão’, abrindo a porta para este tipo de entretenimento, voltado para adultos”, registra.

Aos 90 anos, Selma soma 25 temporadas dublando Marge. Lembra que teve que passar por uma seleção de atores que precisou da aprovação dos criadores da série. “O estúdio formou três famílias, fizemos os testes e eles analisaram dentro das exigências que queriam, chegando a mandar de volta para refazermos. No último teste, vieram ao Brasil e a minha família ganhou”. 

Já Mariangela passou a fazer parte da família Simpsons na oitava temporada. “Na época, a VTI, que não existe mais, não trabalhava com quem não fosse contratado do estúdio. A Selma teve que sair e, apesar de se pôr à disposição para continuar com a Marge, preferiram substituí-la. Liguei para a Selma e, com a bênção dela, aceitei o desafio”, recorda.

Sem voz

O desafio também estava em imitar a entonação “arranhada” do original. Resultado: depois de três horas seguidas de dublagem ela praticamente perdeu a voz. “Acabei colocando no lugar errado da garganta”, lembra. 
Após a greve dos dubladores, em 1997, Mariangela saiu da VTI e passou o bastão para a veterana Nelly Amaral. Com o falecimento desta, Selma retomou a personagem.

“Marge é a personagem que gosta de fazer a coisa certa, mas de vez em quando erra. E feio. Tem uma moral bem distorcida. Uma situação que me vem à memória é quando ela estava com Lisa no supermercado e chupa uma uva. Lisa dá uma lição, dizendo que a mãe tem que pagar pelo que comeu. No supermercado, ninguém sabia como cobrar”, destaca Mariangela.

A aquisição da Fox pela Disney, ano passado, já se reflete nos roteiros, de acordo com Selma. “Marge passou a vestir roupas de cores diferentes e está mais amorosa com Homer, sem chamar muito a atenção dele. Há mais cenas de beijo e de cama”, salienta Selma, despedindo-se do repórter com a voz de Marge: “Quando você for a Springfield, eu irei ao aeroporto lhe receber”.  Resta achar a cidade no mapa, já que é fictícia.

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