Se não polemizar, Oscar consagra "Argo" na noite deste domingo

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
24/02/2013 às 09:11.
Atualizado em 21/11/2021 às 01:18
 (Divulgação)

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Cabe ao Oscar referendar a escolha dos principais sindicatos americanos e dar o prêmio máximo ao thriller "Argo", na cerimônia que acontece na noite deste domingo (24). Ou, mais uma vez, criar polêmica e entregar o troféu a filmes que correm por fora, como "Lincoln".

Embora muito criticada ao longo de uma trajetória de 84 edições, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles – colegiado com mais de seis mil representantes de vários setores da indústria – tem razões de sobra para não ser "do contra": por trás de "Argo" está o nome de Ben Affleck.

Em seu terceiro longa como diretor, Affleck tem um perfil querido pelos acadêmicos: o chamariz de bilheterias como ator que brilha também ao passar para o outro lado das câmeras. Robert Redford, Kevin Costner e Mel Gibson também fizeram esse caminho, consagrando-se nas duas funções.

Ladeira abaixo

Affleck já ganhou o Oscar como roteirista de "Gênio Indomável" (1997), ao lado do amigo Matt Damon. Após produções independentes, como as de Kevin Smith ("Barrados no Shopping"), foi alçado ao panteão dos astros, liderando o elenco do tecnicamente excelente "Pearl Harbor" e "A Soma de Todos os Medos".

Definido como canastrão, não perdurou por muito tempo nesse reinado, seguindo "ladeira abaixo" em filmes ruins, principalmente quando teve como parceira de cena a ex, Jennifer Lopez. O que pode ter precipitado sua estreia como diretor.

Affleck tinha 35 anos quando lançou "Medo da Verdade", drama policial que surpreendeu os críticos e estimulou o ator a investir na nova faceta. Três anos depois apresentou o thriller de ação "Atração Perigosa", em que também protagoniza – a exemplo de "Argo".

Ao lado de Alan Arkin e John Goodman, ele revela um lado divertido na dramatização de um fato real: o resgate de funcionários da embaixada americana num Irã pós-chegada ao poder do aiatolá Khomeini, em 1979. Foi o primeiro candidato a estrear, imediatamente entrando na bolsa de apostas do Oscar.

Em comparação a outros atores que levaram a estatueta como diretores, a história de Affleck é daquelas que a Academia adora: a oportunidade de uma segunda chance.

O Oscar será transmitido pelo TNT (20h30 - pré-show) e 21h30 (premiação); pela Globo, após o "BBB 13".

Astros investiram na carreira de diretor e foram bem-sucedidos

O trabalho de atores/diretores ganhou evidência no Oscar a partir das décadas de 80 e 90. Fruto da maior autonomia dos intérpretes, cujos cachês subiram para a casa dos milhões – em 1978, Marlon Brando recebeu US$ 4 milhões para uma aparição de dez minutos em "Superman".

Já distantes dos anos de studio system, em que eram atrelados a contratos draconianos pelos estúdios hollywoodianos, os atores criaram suas próprias produtoras e parcerias com as distribuidoras. Com a fundação da Icon Productions, em 1989, Mel Gibson assinou "Coração Valente", ganhador do Oscar de melhor filme e direção em 1996.

Foi a última vez que uma estrela do momento no campo da atuação faturou o prêmio. George Clooney passou perto em 2006, com "Boa Noite, Boa Sorte". Cinco anos antes de Gibson, Kevin Costner, no auge com filmes como "Os Intocáveis" e "Campo dos Sonhos", levou os troféus de diretor e ator por "Dança com Lobos".

Cavaleiro solitário

Costner também tinha a sua própria produtora, a Tig Productions, que levantou recursos para o astro fazer "Rapa Nui" e "Wyatt Earp". Mas quem se deu melhor neste sentido foi Clint Eastwood, revelado nos faroestes "spaguetti" dos anos 60 e que virou legenda com o papel do tira durão Dirty Harry.

Eastwood fundou a Malpaso ainda quando se fazia de cavaleiro solitário, em 1968, e gradualmente foi deixando de lado as fitas de ação e de guerra para abraçar projetos ousados na direção, como "Bird" (1988) e "Coração de Caçador" (1990). Ganhou o duplo Oscar com "Os Imperdoáveis", em 1993, e repetiu a dose em 2005, com "Menina de Ouro".

Dos grandes nomes da metade do século passado, quem se saiu melhor foi Robert Redford, que, apesar de ter demorado a assinar um longa, subiu ao palco justamente em seu début, em 1981, por "Gente como a Gente". Quem mais perto chegou dele foi Warren Beatty, que tentou duas vezes, com "Reds", em 1982, e "Bugsy", em 1992.

Ingleses no páreo

No mesmo ano de "Bugsy", quem também ficou apenas na indicação foi Barbra Streisand, por "O Príncipe das Marés". A estatueta, porém, já estava em sua estante desde 1968, quando venceu o prêmio de atriz por "Funny Girl – A Garota Genial". Ela pode se dar por satisfeita, pois o grande mestre Charles Chaplin nunca foi indicado.

Em 1929, Chaplin recebeu um Oscar honorário por "O Circo", devido "à versatilidade e genialidade em atuar, escrever, dirigir e produzir". Laurence Olivier, outro inglês, teve melhor sorte, recebendo por "Hamlet", em 1949, o troféu de melhor filme e melhor ator.

Atores que ganharam o Oscar como diretores

1930 – Harry Beaumont ("Melodias na Broadway")
1931 – Wesley Ruggles ("Cimarron")
1934 – Frank Lloyd ("Cavalgada")
1936 – Frank Lloyd ("O Grande Motim")
1937 – Robert Z. Leonard ("Ziegfeld - O Criador de Estrelas")
1949 – Laurence Olivier ("Hamlet")
1978 – Woody Allen ("Noivo Neurótico, Noiva Nervosa")
1981 – Robert Redford ("Gente como a Gente")
1991 – Kevin Costner ("Dança com Lobos")
1993 – Clint Eastwood ("Os Imperdoáveis")
1996 – Mel Gibson ("Coração Valente")
2002 – Ron Howard ("Uma Mente Brilhante")
2005 – Clint Eastwood ("Menina de Ouro")

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