Dia 25 de janeiro. Estreia do projeto "Sala da Toscaria" no Granfinos. A proposta era improvisar no palco a partir das faixas do clássico álbum "Da Lama ao Caos". Ninguém sabia ao certo o que essa proposta geraria – nem público, nem músicos. Toda a banda começava a tocar a partir das frases melódicas de Chico Science & Nação Zumbi para depois criar situações bem diversas, sem qualquer ensaio ou pré-combinação. Uma oportunidade de conferir de perto um verdadeiro laboratório sonoro. Uma jam session de afrobeat e dub de pura criatividade.

O dono da estranha ideia é o produtor, compositor e percussionista Lenis Rino, de 33 anos. A intenção é que a Sala da Toscaria na Base (o nome faz referência ao estúdio dele, agora num momento de transição entre os bairros Santo Antônio e Vale do Sol, em Nova Lima) aconteça mensalmente, sempre homenageando um álbum. Esta noite, será a vez de "Transa", de Caetano Veloso. No futuro, virão álbuns de Gilberto Gil e Racionais MC’s.

Como a proposta provocou interpretações equivocadas na primeira edição (houve quem esperasse por arranjos mais próximos dos originais), dessa vez Rino faz questão de deixar mais claro o projeto. Nas redes sociais, postou: "Lembre-se: homenagem da Sala da Toscaria não é cover, é desconstrução. Não é versão, é aversão".

"É uma celebração da música e dos músicos. Temos já um conceito instrumental baseado no afrobeat, maracatu e no dub, que é a minha principal veia. Temos como ponto de partida o disco e as nossas referências musicais", explica Lenis Rino. Segundo ele, a preparação para o show é feita apenas em trocas de e-mails entre os integrantes da banda. Antes de subirem ao palco, nenhum deles sabe qual será o resultado.

Afinados

Só é possível desenvolver uma sonoridade agradável e instigante, sem preparação prévia, porque há uma afinidade entre os músicos que abraçaram o projeto.

Rino divide a responsabilidade com Thiago Corrêa (baixo), Anderson Guerra (guitarra), Leonardo Brasilino (trombone), Juventino Dias (trompete) e Rafael Nunes (percussão).

Fernando Catatau, do Cidadão Instigado, é o convidado desta noite

Cada edição da "Sala da Toscaria" conta com um convidado. O primeiro show teve a participação de Russo Passapusso, vocalista do Baiana System. Na noite desta quinta-feira (21), os holofotes estarão sobre o guitarrista Fernando Catatau, líder do Cidadão Instigado e requisitado produtor. "Quero trazer para o projeto amigos bem próximos", diz Rino, adiantando, durante a entrevista, já ter feito convites a Marcelo Jeneci, Vander Lee, Siba e Bruno Buarque (baterista que trabalha com Céu e Karina Buhr).

A presença de convidados só é possível porque Rino tem garimpado parceiros das mais diferentes formas. Nada aqui é feito com lei de incentivo. Parece incrível, mas o produtor descobriu que há, sim, pessoas interessadas em participar de um projeto musical, mesmo que não passe por um plano de renúncia fiscal. "Estabeleci cotas e fui atrás de parceiros. Consegui alguns na região do Vale do Sol, onde eu moro. Com isso, consegui pagar cachê para todos os músicos envolvidos e as passagens de avião dos convidados".

Nascido em Lavras, Rino tem tantos contatos dentro da frutífera cena musical de São Paulo porque viveu na megalópole dos 5 aos 21 anos de idade. Começou a tocar profissionalmente na adolescência, em bares e boates da Vila Madalena, onde teve os primeiros contatos com músicos hoje destacados. O chorinho foi sua principal escola.

Veio para Belo Horizonte em 2000, após participar de uma oficina de maracatu na Spasso Escola Popular de Circo e se apaixonar por uma artista. Em 2010, lançou seu primeiro álbum, "Cabeça de Pipa", com vários convidados (Anelis Assumpção, Bruna Caram, Kiko Klaus, entre outros) e muito afrobeat, é claro.


Serviço

"Sala da Toscaria" no Granfinos (avenida Brasil, 326, Santa Efigênia). Nesta quinta-feira (21), às 22 horas. Ingressos a R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia) e R$ 25 (lista amiga). Informações: 31 3241 1482.

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