Sepultura lança álbum com músicas extraídas de lives

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
15/08/2021 às 14:17.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:41
 (MARCOS HERMES/DIVULGAÇÃO)

(MARCOS HERMES/DIVULGAÇÃO)

Com o lançamento do álbum “SepulQuarta”, produzido durante a pandemia, sem que os quatro integrantes do grupo mineiro de heavy metal se encontrassem, “o Sepultura mostrou que pode ser uma banda sem o palco”, nas palavras do  guitarrista Andreas Kisser.

“Após quase dois anos, a gente reinventou o Sepultura. Perdemos os shows, as turnês, o camarim, os ensaios, momentos em que a gente falava de tudo, criava ideias, brigava, enfim... Mas foi importante para entender que a banda é muito mais que o show em si”, registra.

O novo trabalho é fruto das lives semanais veiculadas pelo quarteto – um projeto que apenas buscava entreter os fãs com bate-papos, jam sessions e boas histórias envolvendo uma trajetória de 37 anos, iniciada no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte.

“Não tínhamos planos de fazer um disco. Ele se formou por si próprio, depois desse movimento às quartas-feiras, logo no início do lockdown. O Metallica fez o ‘Metallica Mondays’, disponibilizando shows completos às segundas, e nós o ‘wednesday’ (quarta em inglês)”, assinala.

Kisser, o mais falante do grupo, lembra que o Sepultura estava prestes a sair em turnê, por Estados Unidos e Canadá, quando viu toda a agenda de shows ser cancelada devido à pandemia, em março de 2020. Eles tinham acabado de lançar “Quadra”, 15º álbum de estúdio do grupo.

“O ‘SepulQuarta’ foi o nosso tudo, o nosso palco, camarim, tour bus (ônibus de turnê)... Desse movimento saiu um disco, em que a gente só masterizou e remixou as 15 músicas. Foi um trabalho sensacional que a gente não esperava fazer. Um processo em que a gente cresceu muito”, afirma Kisser.

O guitarrista não tem dúvida de que o Sepultura “está mais forte do que nunca”, após sobreviver a um período tão difícil para o setor de entretenimento. “Ficamos sem o palco, que é algo inimaginável para um músico”, salienta Kisser, que se encarregou de mixar o material, sem precisar sair de casa.

Ele permaneceu em São Paulo, onde também mora o baterista Eloy Casagrande. O baixista Paulo Xisto veio para Belo Horizonte, para ficar ao lado da mãe e da irmã. E o vocalista Derrick Green voltou para a terra natal, nos Estados Unidos. Mesmo com todas essas dificuldades, Kisser acredita que o Sepultura criou o disco mais “honesto e autêntico” da carreira.

“Não é um disco ao vivo nem de estúdio. É um formato novo, em que cada um ficou na sua casa. A gente percebeu que é possível fazer um álbum assim com qualidade e rapidez”, sintetiza. Para o integrante, “SepulQuarta” é um trabalho voltado especialmente para os fãs do grupo. ‘Sem eles, não teríamos como fazer. Foram eles que se inscreveram no canal e viram os nossos vídeos, participando ativamente”.

"Há um ano e meio que durmo na mesma cama", afirma Andreas Kisser

A distância ofereceu seus desafios, mas não a ponto de prejudicar a qualidade musical de “SepulQuarta”. De acordo com o guitarrista Andreas Kisser, as dificuldades foram vencidas com adaptações que resultaram num processo bem equilibrado.

“Para o disco, não fizemos nenhum overdubbing (parte pré-gravada que se junta ao original). Esá lá o que saiu na live, mas com uma mixagem mais profissional e a masterização para o formato disco. Todas as músicas ficaram muito exclusivas, únicas”, avalia.

A tracklist de “SepulQuarta” passa por faixas menos frequentes nos  shows do grupo mineiro, como “Apes Of God”, “Hatred Aside” e “Slaves of Pain”, juntamente com hits indispensáveis, como “Ratamahatta”, “Sepulnation” e “Kaiowas”.

 “Ratamahatta” reuniu três bateristas – além de Eloy Casagrande, participam Charles Gavin (Titãs) e João Barone (Paralamas do Sucesso). “O Gavin mandou o material do quintal da fazenda dele. Fez um vídeo e usamos esse áudio para colocar na música”, conta Casagrande.

“A bateria já é um instrumento complexo. Imagine com cada um gravando à distância, de um jeito diferente. O João Barone tem um home estudio e ele mesmo microfonou. Já o Gavin fez as filhas dele carregarem os instrumentos até chegarem à chácara. O resultado ficou incrível”, relata o baterista.

A ausência forçada de show teve seu lado positivo, em que a marca Sepultura foi repensada para além dos shows, além de possibilitar atividades paralelas impensáveis em tempos de agenda apertada. “Usei esse espaço para estudar mais violão e ter uma rotina que não tinha. É a primeira vez, em um ano e meio, que durmo na mesma cama”, sublinha Kisser.

“Nas turnês”, lembra o guitarrista, “a gente come e dorme mal. A pandemia nos deu essa reestruturada e abriu novas possibilidades”. Casagrande pondera que, por outro lado, as criações não foram tão leves. “Não dá para sentar na bateria e esquecer o que está acontecendo lá fora”, lamenta.

A expectativa do grupo é retomar os shows em novembro. A primeira cidade a acolher o grupo deverá ser Copenhague, na Dinamarca. “Está tudo pronto para sair em turnê.  Mas não tem nada muito garantido ainda.  É um monte de coisa nova que a gente terá que começar a lidar”, destaca Kisser. 

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