Sessões especiais atendem público que não abre mão do escurinho do cinema

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
24/04/2017 às 19:22.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:16

Antes da TV por assinatura e dos sites de streaming, esperar pela chegada de um filme na telinha não era algo tão rápido como hoje. Demorava pelo menos um ano para o lançamento em vídeo (no antigo formato VHS) e o triplo disso no caso da TV aberta. Quando uma continuação de “Rocky” ou “Rambo” estreava, quem não tinha visto o original no cinema mal sabia do que se tratava. Apesar das múltiplas plataformas de agora, em que um clique no mouse ou no controle remoto separa o espectador de uma produção, bastando pagar mais para ter o filme em casa (em serviços como o VOD, video on demand), a magia da sala escura ainda parece longe de se apagar. Prova disso é a exibição, somente hoje, do clássico “E o Vento Levou” nos cinemas do BH Shopping, Diamond Mall e Pátio Savassi. O filme é de 1939, tem quatro horas de duração e já ganhou vários formatos, mas a rede Cinemark aposta numa experiência familiar, casada com a qualidade de imagem (projeção em 4K, de alta definição). “É um épico que marcou história e vem atravessando gerações. Uma nova geração quer conhecer, dentro de uma sala de cinema”, afirma a diretora de marketing Bettina Boklis. A exibição faz parte do projeto “Clássicos Cinemark”, que contará ainda com mais dois longas-metragens nessa leva, com horário cativo na última terça-feria do mês: “2001: Uma Odisseia no Espaço” (30 de maio) e “O Mágico de Oz” (27 de junho), sempre às 20h. Essa é a 13ª edição do programa, que teve um hiato de mais de um ano desde as últimas projeções.  “Há toda uma burocracia para conseguir os filmes e é bom voltar com títulos realmente legais. E é muito bom ver nas redes sociais o pessoal adorando a notícia e levantando (o projeto)”, destaca Bettina, que não teme que uma produção de 240 minutos afugente os espectadores. “Já exibimos óperas de cinco horas. É um público diferente, que quer outras opções”, salienta. Nicho a ser exploradoEla assinala que, embora a rede se volte principalmente para os lançamentos, há um nicho que pode ser bem explorado. “Há um público grande que absorve esses clássicos. E o fato de ser uma exibição em digital traz uma experiência que não será igualada em casa”, registra Bettina, que não descarta a possibilidade de outros clássicos ganharem as telonas no segundo semestre. Realizado na época de ouro de Hollywood, “E o Vento Levou” ganhou oito estatuetas do Oscar, entre elas melhor filme e diretor. Na cerimônia, subiu ao palco Victor Fleming, mas a produção foi atribulada e vários cineastas conduziram as filmagens – George Cukor, Sam Wood, William Cameron Menzies e Sidney Franklin. Fleming teve um colapso nervoso, dirigindo 45% do total. Baseada no livro de Margareth Mitchell, a trama acompanha uma família rica da Georgia, detendo-se principalmente em Scarlett (Vivian Leigh), uma garota mimada que acaba se envolvendo com o bon vivant Rhett Buttler (Clark Gable). A realidade deles é transformada pela Guerra Civil Americana.  MARES FILMES/DIVULGAÇÃO / N/A

"A Criada", filme de Chan-wook Park é um dos representantes asiáticos que serão exibidos no Cine Humberto Mauro Oportunidade para conferir filmes que ‘passaram batido Perder um filme no cinema não chega a ser o fim do mundo, já que há sempre a possibilidade de assisti-lo em outras plataformas, no conforto de casa. Mas há ainda quem goste de ver um lançamento primeiramente na sala escura. É para esse público que, anualmente, acontece a mostra “Inéditos/Passou Batido”, em exibição no Cine Humberto Mauro até 31 de maio, com entrada franca. Além de filmes mal lançados, que muitas vezes não passam de uma semana em cartaz, em horários ruins, a mostra de 48 longas-metragens, de 29 países, contemplando trabalhos que não chegaram aos cinemas da cidade, como o turco “Sono de Inverno”, de Nuri Bilge Ceylan, e o brasileiro “Guerra do Paraguay”, de Luiz Rosemberg Filho. “Existe uma carência de salas de exibição para um tipo de filme mais independente. Muitos dos espaços que temos hoje estão comendo mosca ao não perceberem um nicho crescente. Além de um público interessado, há distribuidoras novas que estão trabalhando com esse conteúdo”, registra Bruno Hilário, coordenador do cinema do Palácio das Artes. Até mesmo filmes que estiveram em cartaz há poucos dias em Belo Horizonte retornarão dentro dessa programação. É o caso de “Cinema Novo”, de Eryk Rocha, e “Os Belos Dias em Aranjuez”, de Wim Wenders. “(Em relação a este último) ele será apresentado em 3D, tal como o diretor concebeu originalmente, de acordo com as suas propostas estéticas”, sublinha.  O mineiro “A Cidade Onde Envelheço”, de Marília Rocha, ganhador do Festival de Brasília de 2016, também esteve em exibição há pouco tempo, mas o coordenador avalia que seu retorno agora é positivo para se pensar uma proposta de dramaturgia diferente, em que se trabalha com atores e amadores e experimentando tanto a ficção quanto o documentário. NegociaçãoOutros filmes vieram do contato direto com seus realizadores. Um exemplo é “Cavalo Dinheiro”, do português Pedro Costa. E também de algumas produções premiadas na Mostra de Tiradentes e que não entraram em circuito comercial, como “Aracati”, “Planeta Escarlate” e “Jovens Infelizes ou um Homem que Grita Não é um Urso que Dança”. Mas Bruno admite que há uma certa dependência das distribuidoras, do cardápio que elas têm a oferecer. Por isso, por exemplo, nota-se a falta de algumas cinematografias importantes, especialmente a latino-americana. “O mercado acaba acompanhando algumas tendências. E, não por acaso, os latinos estão fora do Festival de Cannes desse ano”.

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