Shows cancelados deixarão produtores sem receita por até seis meses

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
18/03/2020 às 19:59.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:00
 (FOTOS DIVULGAÇÃO)

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 O The Ten Tenors seria uma das atrações do Grande Teatro do Palácio das Artes nesta sexta-feira. O grupo australiano chegou a desembarcar em São Paulo, onde também tinha apresentação marcada, mas viu a turnê brasileira ser cancelada devido à disseminação do coronavírus. Permaneceu ainda três dias na capital paulista até conseguir remarcar as passagens e retornar à Oceania. Todos estes gastos de transporte aéreo e hospedagem saíram do bolso de Manoel Poladian, um dos maiores produtores de espetáculos no Brasil, há mais de 50 anos à frente da Poladian Produções. “As companhias aéreas não atendiam ao telefone, rendendo cenas surreais. Esse prejuízo foi feito e não é recuperável, já que nenhum seguro no mundo cobre catástrofes”, lamenta Poladian. Em maior ou menor proporção, outros produtores estão passando pelo mesmo problema, ainda incertos sobre a extensão da pandemia, que poderá estabelecer uma crise sem precedentes no mercado de shows. “A gente perde muito. Vamos ter que pagar salários por seis meses. Só custos, sem receitas. Muitos pequenos produtores, aqueles que matam um leão a cada dia, infelizmente, devem desaparecer”, analisa. Além do The Ten Tenors, vários espetáculos internacionais estavam previstos para Belo Horizonte, como Metallica, McFly, Richard Clayderman e Dire Straits Legacy, todos eles adiados. O grupo de heavy metal, segundo apurou o Hoje em Dia, deve ter o show no Mineirão remarcado para dezembro. O pianista Clayderman subirá ao palco do Palácio das Artes em novembro, mesma data do Ten Tenors. A preocupação atual, além do abalo financeiro, é manter os shows, disputando as datas com outros mercados. “Os artistas estão sendo muito profissionais e responsáveis. Sabem que é um problema mundial. O grande problema hoje é saber se tudo voltará à normalidade a partir de julho ou agosto”, assinala Poladian, que aproveita para elogiar a postura do Palácio das Artes, que rapidamente se disponibilizou a apresentar novas possibilidades de datas e, assim, poder informar ao público. Essa rapidez, de acordo com o produtor, é fundamental para que não haja uma grande quantidade de pedidos de devoluções. “(Pedir reembolso) Só aumenta a catástrofe”, endossa. Os artistas têm feito a sua parte: Clayderman, por exemplo, sairá da Romênia em 4 de novembro, chegando ao Rio no dia seguinte. Sem tempo para descansar, se apresenta no Theatro Municipal no dia 6. Na noite posterior, vez de BH. A agenda do segundo semestre foi, em parte, mantida. “A gente sente o prejuízo, mas a vida segue. Não abalará as estruturas”, garante Poladian, que se põe no “grupo de risco” do coronavirus: “Tenho 77 anos, sou cardíaco e diabético, mas sou um otimista. Haverá solução”. N/A / N/A

Banda inglesa McFly teve a data da apresentação remarcada para 3 de outubro Produtor pede ao público para não solicitar devolução de bilhetes Um dos principais produtores de Minas Gerais, com mais de quatro décadas de experiência no setor de espetáculos, Gegê Lara faz um apelo: “Não peçam a devolução dos ingressos. Do contrário, dará um nó no sistema”, ressalta o produtor local do show do Metallica, que aconteceria em abril, no Mineirão. “Como é um fã e ele adquiriu o ingresso, certamente irá querer ver o show na nova data. Então, é só manter (o bilhete)”, registra Lara, acentuando a situação difícil dos produtores mineiros. “É ainda pior por sermos locais, dependentes da programação de Rio e São Paulo”. Lara diz que, dependendo da extensão da disseminação do coronavírus, a produtora dele, Nó de Rosas, que já trouxe a Belo Horizonte nomes como Paul McCartney, poderá entrar em dificuldade financeira. “Sinceramente, não sei até quando iremos aguardar. Vamos avaliar dia a dia a situação”, registra. Ele também destaca o choque de datas que haverá com a retomada de vários eventos. “O Lollapalooza passou para dezembro e dificilmente será realizada a edição de 2021. Virou uma bola de neve”, lamenta o produtor. Grandes shows como o do Metallica, que exigem uma estrutura maior, recorrendo muitas vezes a estádios, precisarão concorrer com o calendário de futebol para a obtenção de novas datas. Esta talvez seja a principal razão de os produtores do show da banda de heavy metal ainda não terem confirmado as mudanças. Só o mês parece ter sido definido – em dezembro. “Estamos numa situação de altíssima gravidade. O setor de entretenimento está muito vulnerável, o que já vinha ocorrendo devido á economia em baixa, sendo que as artes são vistas como bens descartáveis. Confesso uma certa aflição”, analisa Gegê Lara.

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