Sucesso de bilheteria em 1995, filme de Helvécio Ratton se mantém encantador

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
16/03/2015 às 08:12.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:22
 (Samuel Costa/Hoje em Dia)

(Samuel Costa/Hoje em Dia)

“É um filme atemporal”, registra Helvécio Ratton, em entrevista ao Hoje em Dia, no canteiro da avenida do Contorno, próximo ao “tobogã” que serviu de pista de carrinho de rolimã para os protagonistas mirins de “O Menino Maluquinho”.

O diretor tenta enumerar algumas razões para o filme, duas décadas após o seu lançamento nos cinemas, continuar a despertar o interesse de novas levas de crianças, identificadas com o garoto sapeca que anda com uma panela na cabeça.

A resposta está a poucos metros dali, na Pium-í, onde Helvécio se divertia na rua com seus colegas, “num tempo em que as crianças ainda brincavam fora dos apartamentos”. 

Ele está falando dos anos 60, época em que, não por acaso, a história de “Menino Maluquinho” transcorre. Ratton admite: “Estava mostrando a minha infância. Era uma forma de também criticar a sociedade de consumo”, assinala.
Os produtores ficaram com medo de a opção de Helvécio não vingar – em 1995, a criançada já ficava apertando botões na manete do videogame.

Além disso, também foi a maneira como o realizador mineiro, em sua segunda produção infantil (a primeira foi “A Dança dos Bonecos”, outro clássico do gênero), encontrou para evitar a inserção de merchandising. “Sempre fui contra esse tipo de exploração”, afirma.

Baseado no livro homônimo de Ziraldo, o filme foi o segundo sucesso – depois de “Carlota Joaquina” – na retomada do cinema nacional, que tinha perdido todos os incentivos no governo de Fernando Collor. Levou 800 mil espectadores aos cinemas.

“Claro que o livro, que já era muito conhecido, ajudou na bilheteria. Ziraldo transformou o Maluquinho num personagem poético, drummondiano”, destaca Ratton.

O livro tinha um grande personagem, mas não uma história. O cineasta acrescentou várias informações, como a morte do avô, e ampliou a questão da separação dos pais do protagonista.

Na verdade, Ratton não queria fazer um segundo filme infantil, mas como a produção de “Era uma Vez em Brasília” não saía do papel, ele topou o convite do produtor Tarcísio Vidigal.

Rever o filme? Nem pensar. Não porque desgoste dele, mas é uma característica de Helvécio, receoso em ficar querendo mudar seus filmes em sua cabeça.

Protagonista troca o estrelato pelo comando de produtora

“Não tem filme mais conhecido que esse”. A frase é de quem experimentou na pele o sucesso do Menino Maluquinho no cinema: Samuel Costa, hoje um “trintão”, perdeu as contas de quantas vezes foi parado na rua por crianças e adultos fãs do personagem criado por Ziraldo.

Ele ainda se lembra bem do dia em que estava comendo um hambúrguer num rede de fast-food e uma mulher abordou sua mãe, propondo a realização de um book fotográfico. “Eu tinha uma carinha legal”, recorda Samuel, em entrevista de São Paulo, sobre o ato que o levou para a carreira artística.

Na hora achou “demais!” aparecer na televisão em comerciais. Dois anos depois, veio o convite que mudou a sua história. “Foi tudo bem espontâneo, natural. Não tinha vergonha em ficar de frente para a câmera. Sabia das minhas obrigações, que estava sendo pago por isso, mas levei como uma diversão”.

Entre as cenas mais marcantes está o momento mais triste da narrativa, quando o avô do Menino Maluquinho morre. “Nunca tinha lidado com a morte até então. Eles me pediam para pensar em coisas tristes. Achei aquilo engraçado”, registra.

A boa recepção ao filme de Helvécio Ratton e à sua atuação abriu as portas para Samuel, que fez também a segunda parte, dirigida por Fernando Meirelles, uma novela (“Meu Bem Querer”) e uma minissérie (“Aquarela do Brasil”).

Aos 17 anos, porém, resolveu que era de parar. “Não queria ser só mais uma carinha na TV, ao mesmo tempo também não queria fazer todo o caminho de dedicação para ser um ator de verdade. Foi interessante porque saí meio no auge”.

Claro que ele não deixou de aproveitar esse bom cartaz, ajudando-o a montar uma produtora, a Blues Filmes, realizando projetos voltados principalmente para a internet – um modelo mais atrativo atualmente, segundo ele.

O desejo de ficar atrás das câmeras já estava manifesto nas filmagens com Helvécio pelas ruas de Belo Horizonte e Tiradentes. “Eu era até meio chato. Se via alguém fazendo foco, medindo com uma trena a distância da câmera para o ator, queria saber o porquê”.
 

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