Sucesso de crítica na Broadway, montagem nacional encena a "dor de perder um filho"

Patrícia Cassese/Hoje em Dia
29/08/2014 às 08:43.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:59
 (PRISCILA PRADE/)

(PRISCILA PRADE/)

Ao assistir à montagem de “A Toca do Coelho” na Broadway, a atriz e produtora Simone Zucato percebeu de pronto o potencial do texto em tocar também corações e mentes dos brasileiros, ao abordar temas universais: superação, amor, família. Mas foi uma cena em particular que a fez bater o martelo que sim, faria tudo para trazer a montagem para cá.

“Foi quando o pai descobre que a mãe apagou as últimas imagens do filho, que não está mais ali. Aquilo mexeu muito comigo, porque não somos preparados para enfrentar a morte – ainda mais a de uma criança. Pensei em todos os pais que perderam seus filhos”, confessa ela, ao Hoje em Dia.

Simone conseguiu não só cumprir seu objetivo, como fazer circular a peça, que chega a BH este fim de semana para duas apresentações, sábado e domingo. Em cena, além de Simone, Reynaldo Gianecchini, Bárbara Paz, Neusa Maria Faro e Felipe Hintze. A direção é de Dan Stulbach.

A cena citada, rememora Simone, a fez refletir sobre “as nossas dores”, sobre como o amor é capaz de superar as piores coisas. “Era algo que queria mostrar. O mundo precisa de amor”, diz ela, que, na peça, interpreta a irmã de Becca (Bárbara Paz), mulher de Paulo (Gianecchini). Os dois tentam tocar a vida após a perda chocante e súbita do filho, oito meses antes.

Ou seja, o tema é árido, espinhoso. “A gente fala de dor e eu sei o que é dor, já tive minhas dores na vida. Não passei pela dor de perder um filho, mas a gente sabe os caminhos da nossa dor”, diz Gianecchini, que, mesmo tendo vindo de uma jornada pessoal intrincada, se dispôs a entender a dor deste pai – “que é muito identificável”.

“A morte te coloca numa posição de rever sua vida e cada um tem seu tempo para entender a ausência, a perda. Acho que o que vale é saber que de alguma forma conseguimos tocar as pessoas. Elas saem dali refletindo, pensando no que se deve dar importância realmente na vida”, diz o ator.

Bárbara Paz, por seu turno, conta que teve que trabalhar com o não movimento, para compor a sua Becca. “A trabalhar com o corpo morto, com o peso que, ao perder um filho, o corpo adquire. Essa dor que não tem cura, mas da qual é preciso sair para continuar a viver. A peça fala sobre isso, sobre como passar do luto para a superação”.

“A Toca do Coelho” – Neste sábado (30), às 21h, e domingo, às 19h. No Cine Theatro Brasil (Praça Sete). Leia mais sobre o espetáculo no Portal Hoje em Dia.

 

Minientrevista 

Dan Stulbach é uma figura conhecida (e querida) do público que acompanha a teledramaturgia brasileira. Mas, em "A Toca do Coelho", ele optou por ficar nos bastidores, assinando a direção da montagem que chega agora à capital mineira. O que, vale dizer, não é necessariamente uma novidade em sua trajetória. A seguir, a entrevista que Stulbach concedeu ao Hoje em Dia. Confira...

Poderia esmiuçar um pouco o seu trabalho de direção nesta empreitada específica? Está sendo prazeroso trabalhar com esse grupo, mesmo o texto tendo tantas camadas de dramaticidade?

No elenco, eu tinha atores experientes, que já trabalharam em diversos veículos e de diferentes maneiras. O primeiro passo foi diminuir a velocidade. Parar, pensar, experimentar, errar, experimentar de novo. Um processo no qual eles, atores,  puderam criar com liberdade. Assim, puderam experimentar coisas novas, estimulados a isso. As marcas eram livres por boa parte do processo. Depois, foram se definindo naturalmente. Fomos rígidos com o texto, junto a um estudo aprofundado de compreensão. Até que se diluísse na memória e no entendimento. Os atores tiveram aula de corpo quase todos os dias e uma terapia dos personagens com um profissional, para que fosse possível entendê-los melhor. Depois, defini as marcas, limpamos os gestos, dando um acabamento cênico e uma clareza maior. Foi tudo muito prazeroso, e o fato do texto ter várias camadas de dramaticidade deixou o trabalho mais interessante e profundo. Ninguém terminou como começou.  

O que te fez encarar este desafio? Qual o trunfo deste texto, em sua visão?

Sempre gostei muito de dirigir. Fiz isso por 11 anos no teatro amador, junto a assistências de direção para outros profissionais. No caso de "A Toca do Coelho", era o texto certo, a hora certa. O trunfo do texto é a sabedoria e a simplicidade com que o autor desenha esta histórias e os personagens. A maneira elegante e sensível com que ele mistura alegria e tristeza. É profundamente humano. E perceber que nada está lá a toa, tudo tem um significado e descobrir isto com os atores. E depois ver a plateia fazendo este mesmo caminho.

Com o tempo e mesmo a mudança de elenco (Maria Fernanda Cândido/Bárbara Paz), a peça sofreu algum ajuste, ou tem seguido a trajetória prevista? 

São atrizes de registros diferentes, e isso obriga todos a se renovarem. Com a entrada dos atores novos, não só estes personagens mudam, mas todos. Ensaiamos, ajustamos. Algumas marcas mudam, é como uma roupa nova. Mas a estrutura é forte e lógica, então deu segurança e tranquilidade para os que entraram. 

Como está a trajetória do espetáculo?

Depois de São Paulo, fizemos Vitória e agora BH. Serão mais oito cidades neste ano.

 

A Toca do Coelho no programa Cultura em Cena, confira:

 

SAIBA MAIS SOBRE A PEÇA

Grande sucesso na Broadway ("Rabbit Hole", 2007), escolhido melhor texto (de David Lindsay-Abaire) no seu ano de estreia e Premio Pulitzer, a peça traz Becca (então interpretada por Cynthia Nixon - de “Sex in The City” - Prêmio Tony de melhor atriz pelo espetáculo) casada com Paulo, papel agora a cargo de Reynaldo Gianecchini. Eles precisam retornar à sua existência cotidiana, após uma perda chocante e súbita. Oito meses antes, formavam uma família feliz. Tinham tudo que queriam. Agora, eles estão presos a um labirinto de memórias, desejo, culpa, recriminação e sarcasmo, controlados de forma rígida, de onde não conseguem escapar. Após o inusitado, Becca e Paulo seguem caminhos opostos. Enquanto Becca encontra dor nas lembranças familiares, Paulo encontra conforto. Becca hesita em se abrir para sua mãe (Neusa Maria Faro) ou para a irmã divertida (Simone Zucato); que aparece grávida. Mas, secretamente, estende a mão ao adolescente (Felipe Hintze) envolvido no acidente que provocou todas as mudanças em sua vida, dando início a uma estranha amizade. E nesse tempo, Paulo pode encontrar consolo com outra mulher. (Duração: 110 minutos, indicação etária: 12 anos)

Uma curiosidade: o texto também foi transportado para as telas de cinema, com Nicole Kidman e Aaron Eckhart no elenco. O filme foi batizado de "Reencontrando a Felicidade" (2010), está disponível em DVD.
 

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