Com bom humor, Lília Cabral interpreta solteirona em BH

Elemara Duarte - Do Hoje em Dia
25/07/2012 às 11:17.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:50
 (Guga Melgar/Divulgação)

(Guga Melgar/Divulgação)

"Maria do Caritó" faz reestreia em Belo Horizonte, de 3 a 5 de agosto, no Sesc Palladium (sexta-feira e sábado às 21 horas e domingo às 20 horas). A peça estrelada pela atriz Lília Cabral traz o lado lúdico, doce, de fé, da trajetória de uma solteirona de 50 anos que ainda é virgem, pois foi prometida pelo seu pai a São Djalminha. História dramática? Não. Pura comédia.

Em tempos de liberdade sexual, independência feminina, entre outros avanços comportamentais contemporâneos, é difícil imaginar que ainda existam pessoas que se veem presas a situações como essa. Será mesmo? Vai saber...

"Mas o público logo se identifica com a personagem, não é por ela querer encontrar um amor, mas por fazer valer uma trajetória de vida que ela acredita", diz Lília, pelo telefone, do Rio de Janeiro, onde vive.

A comédia foi escrita pelo pernambucano Newton Moreno e tem direção de João Fonseca, que faturou a Melhor Direção no Prêmio Shell 2010, pelo trabalho na peça. No elenco, estão os atores Dani Barros, Fernando Neves, Eduardo Reyes e Silvia Poggetti.

Lília encomendou o texto a Moreno. Nele, por causa da castidade que lhe foi imposta, Maria Caritó decide se casar, ainda que, para isso, precise enfrentar a fúria do pai e de toda cidade, pois todos acreditam que ela é santa.

Maria sente uma frustração imensa por não ter se realizado como mulher. Diante da busca pela concretização de algo tão natural é que os conflitos acontecem, sempre com humor, mas conforme garante Lília, sem cair na "caricatura".

Ao sobreviver no parto, em que sua mãe morre, Maria foi prometida pelo pai ao santo. "O pai é um homem fracassado, que faz projeções através da filha", explica o ator Fernando Neves.

Fininha é a fiel escudeira de Maria do Caritó, que a ajuda a fazer simpatias para conseguir um marido. Entre os personagens, há ainda Dona Cosma, uma beata que acredita que Maria do Caritó concebeu o milagre de fazer sua galinha voltar a botar ovos.

Brincadeira? Mas a coisa não para por aí. Há ainda um artista de circo que ilude a Maria do Caritó, fingindo-se de apaixonado, e José que é a versão masculina de Maria do Caritó. Vítima da própria ingenuidade? "O mais bonito nessa personagem é que ela é pura, mas no sentido dos sentimentos", frisa a atriz.
 
Munida dos costumes e crendices que permeiam o imaginário do brasileiro, Maria, para não fugir da regra, faz promessas a Santo Antônio e todas as simpatias para sair do destino que a promessa do seu pai lhe impôs. "O que mais me encantou nesse texto é que ele fala sobre fé. A Maria do Caritó não deixa de acreditar".

Ainda sobre a pureza, Lília Cabral lamenta que estejamos vivendo o declínio da pureza. Isso por causa de hábitos como a alta competitividade, entre outros tipicidades do século 21. "O que está em jogo é sempre colocado como maior e nem sempre é".

Caritó é...

No Nordeste, caritó é uma prateleira no alto da parede, onde se guarda objetos para que crianças não alcancem. Nesse sentido, caritó é também um local das casas de taipa, onde as mulheres se escondiam. E assim, a moça que ficou "no caritó" é aquela que estava na prateleira, sem uso, esquecida, intacta.

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