Espanca! aborda conflitos e costumes em "O Líquido Tátil"

Elemara Duarte - Do Hoje em Dia
30/08/2012 às 10:30.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:52
 (Guto Muniz/Divulgação)

(Guto Muniz/Divulgação)

Quem curte cultura, mas não é "especialista", deve estar se perguntando sobre o que o levaria a ir ao Centro de BH, neste sábado (1°), à noite, para assistir a nova peça de um grupo de teatro. A resposta é: reflexão. E é a isso que se propõe "O Líquido Tátil", quinta peça do Espanca!, que vem reafirmar esta espécie de missão do grupo. Em cena, um casal e o cunhado que o visita botam a pulga atrás das duas orelhas do público. Arte, taras e manias também vêm junto.

O Espanca! se reúne numa garagem/loja pavimentada com piso hidráulico. Coisa antiga. Adaptada com cadeiras floridas – cerca de 60 – hoje o ponto chama-se "teatro" e foi inaugurado no ano passado. Já o grupo é de 2004.

No boteco da mesma rua, sai uma fornada de empadinha de frango no capricho. O atendente diz que nunca deu uma escapulida curiosa para assistir peça no teatrinho, cuja entrada é R$ 10.

"À noite dá muito movimento aqui", justifica. Até o Duelo de MCs, embaixo do viaduto, que é de graça, ele só vê de longe. "Sexta-feira, o bicho pega", justifica.

E assim, a vida corre. Arte bombando e a preço "popular" e o povo correndo para pegar metrô, ônibus lotado, sem olhar para o lado, para dentro.

Ensaio

O ensaio começa. Cenário basicão. Figurinos que são roupas comuns. Os personagens podem ser um de nós. O público está ali, respirando a fumaça do cigarro dos atores. E as cutucadas vindas do texto tocam a ferida.

Os atores Gustavo Bones, Grace Passô e Marcelo Castro entram em cena. O Espanca! ainda tem a atriz Aline Vila Real, que não participa da peça. Grace Passô como a personagem "Nina" expõe seu fascínio canino. Uma tara que ao longo da montagem vai sendo exposta.

"No 'Por Elise' (primeira peça do grupo) uma frase dizia que o 'amor espanca os homens, docemente'", lembra-se Grace, sobre a origem do nome do grupo. Ali nascia a máquina de fazer pensar do grupo mineiro. "O Líquido Tátil" pega carona nessas contradições. No caso, nos costumes.

Peça mostra que amor e ódio se misturam em família

O pequeno grupo familiar mostra o que é comum entre os humanos, mas, também, o que é mais absurdo. "Eu não sou cadela", grita Nina, em exorcização.

Exorcismo cai bem. Principalmente em tempos de músicas populares apelidando mulheres de "cachorras" como se fosse um adjetivo lúdico para ser cantado em festinha de crianças.

"Essas reflexões estão buscando espaço para serem feitas. Falar de sexo em música, nem sempre é sinal de liberdade", observa Grace. Para a atriz, o importante é o respeito à mulher. "Temos o direito de fazer o que quisermos com o corpo".

Fumar é comum, mas é nocivo à saúde. O trio queima tabaco a peça inteira. Cigarro vira brinquedo, os irmãos jogam-no um para o outro capturar com a boca. Como se jogassem uma bolinha para o cachorro adestrado.

Será brincadeira? Certamente, não. Mas faz pensar. O argentino Daniel Veronese escreveu o texto em 1997 e dirigiu a montagem mineira. Em dezembro de 2011, o Espanca! participou de "residência" com o autor, no país hermano. Talvez lá, há 15 anos, o fenômeno verde-amarelo das "cachorras" não existisse.

Brigas

Mas, obviamente, sempre existiram brigas em família. Até um comentário amistoso pode ser contestado - um integrante grita para seus entes. É normal? É real. Mentimos que não somos viciados, que não temos taras. Amamos docemente, mas agredimos. A mulher é santificada, mas também pode ser “cachorra” e até gostar de sê-la. E o atendente do boteco continua a trabalhar e a passar na porta do teatrinho. Até que um dia a curiosidade assalte a sua normalidade.


Serviço

"O Líquido Tátil" estreia no dia 1º de setembro e segue em cartaz até o dia 23 do mesmo mês, quarta e quinta-feira, sábado e domingo, às 20 horas, no Teatro Espanca! (rua Aarão Reis, 542, Centro, BH. Ao lado do Viaduto Santa Tereza). Ingresso: R$ 10 (inteira) R$ 5 (meia).

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