'Foi o maior desafio da minha carreira', diz Juca de Oliveira sobre 'Rei Lear'

Thais Oliveira – Hoje em Dia
11/03/2016 às 07:35.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:45

Do alto dos seus 80 anos, após fazer mais de 60 peças, dezenas de trabalhos na TV e 12 filmes, Juca de Oliveira fala à reportagem do Hoje em Dia com a mesma ou, talvez, mais alegria do que um ator que acaba de conseguir o primeiro papel importante.

“Interpretar textos de Shakespeare é o grande sonho de todo e qualquer ator”, declara. Pela quarta vez, Juca desfrutará de tal privilégio. Neste sábado (12), sábado e domingo, ele encena o espetáculo dramático “Rei Lear”, no Teatro Sesiminas, em BH.

Com tradução e adaptação de Geraldo Carneiro e direção de Elias Andreato, pela primeira vez na história, a peça será apresentada como solo. Motivo esse de enorme desafio, especialmente para Juca, que tem a missão de levar seis personagens mais a consciência do monarca para o palco.

“Houve um momento em que cheguei à seguinte conclusão: seria impossível fazer a peça; não iria conseguir fazer as filhas do rei, o Bobo... Quase cancelamos a nossa produção. Só não cancelamos porque me deu um pânico tremendo disso. Trabalhei por duas noites sem dormir”, conta o ator e dramaturgo.

Tanto esforço levou Juca à construção da cena do “grand finale”. No espetáculo, Lear é o rei da Bretanha, que decide dividir seu reino entre as três filhas. Ao fazer a partilha, Lear é ludibriado pelos discursos de Goneril e Regan e acaba deserdando Cordélia, que escolhe não bajular o pai.

“Tem uma cena de Lear e Cordélia que é a mais linda! Pensei que, se a peça terminasse com ela, poderia dar certo”, indica.

Dilemas

Como não é mais um menino de 15 anos, como o próprio diz, o ator tinha também que superar a questão da postura física. “O texto de Shakespeare pressupõe uma condição física para interpretá-lo. A minha preparadora corporal, a Melissa Vettore, me ajudou muito nisso”, frisa.

O ineditismo da peça respingou ainda na adaptação do texto escrito por Shakespeare, entre 1604 e 1606. Conforme Juca, a tradução é fiel ao original. “A linguagem de Shakespeare é muito bem elaborada, por isso, outro desafio foi tornar esse texto mais coloquial para o público embarcar na história”.

Todos esses dilemas, diz Juca, os deixaram desamparados. “Ficamos perdidos, porque não sabíamos onde chegaríamos. Como trata-se do primeiro solo desse texto, estávamos sem modelo, o que terminou sendo a nossa grande sorte. Quando você fica desamparado no trabalho de criação, desencadeia forças de dentro para superar o problema”, afirma.

No fim das contas, eis o resultado: “como você não copia, torna-se uma coisa absolutamente nova e, às vezes, autêntico, que foi o que aconteceu conosco”, celebra.

Pátria do ator

Para Juca, o teatro é a "pátria do ator", ambiente no qual o profissional tem a oportunidade de "afinar seus instrumentos", além de cumprir uma função social. "Sempre que se está em cena, você tem a presunção de que vai modificar o homem, tornando-o, sobretudo, mais solidário. É isso que move o trabalho do ator", explica.

É também essa expectativa que ele espera atingir com "Rei Lear". Recebido durante as apresentações com um silêncio absoluto em São Paulo e Rio, o que significa, para Juca, respeito do público pela obra, ele reitera a sua satisfação.

“Esse foi o maior desafio de toda a minha carreira; o papel mais difícil. Partimos para essa aventura complicada e audaciosa, mas chegamos a um grande resultado”, finaliza.

Serviço: “Rei Lear”. Sexta e sábado, às 21; e domingo, às 19h, no Teatro Sesiminas (rua Padre Marinho, 60). Ingressos: R$ 50 a R$ 70. Informações: 3241-7181.

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