Paixão por Farnese de Andrade muda vida de Vandré Silveira

Miguel Anunciação - Do Hoje em Dia
15/07/2012 às 11:57.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:34
 (Divulgação)

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´Pintor, escultor, desenhista, gravador e ilustrador, Farnese de Andrade nasceu em Araguari, no Triângulo Mineiro. Radicou-se em Belo Horizonte para estudar com Guignard, depois mudou-se para o Rio de Janeiro, onde foi tratar-se de tuberculose e ampliar as perspectivas profissionais. Lá, faleceu aos 70 anos, quando já havia construído uma carreira e tanto, absolutamente única nas artes plásticas.

Nascido em Belo Horizonte, ator formado no Cefar, Vandré Silveira só veio a conhecer Farnese e sua obra no Rio, onde mora há sete anos. Um encontro para sempre: “Fiquei louco, alucinado e nesses cinco anos passei a pesquisar tudo, vida e obra, a ter contatos com os amigos dele e a tentar produzir um espetáculo”, frisa o ator. Tomado de paixão, obteve recursos para erguer “Farnese de Saudade”, produziu, colaborou na dramaturgia (de manuscritos e entrevistas de Farnese), interpreta e bolou a cenografia.

Dirigido por Celina Sodré, sempre ligada à experimentação no teatro, seguidora de Grotowski e Stanislavski, o monólogo esteve em cartaz de março a abril, na galeria de exposições do Teatro Sérgio Porto, no Humaitá. Colheu elogios de público e crítica, menção na revista Bravo! e indicação ao Prêmio Shell pela cenografia, na disputa com as demais estreias da avultada cena teatral carioca do 1º semestre deste ano.

Inspirado numa escultura da francesa Louise Bourgeois (1911-2010), a cenografia estabelece dois planos: uma imponente estrutura de ferro cercada por areia. Assim Vandré efetiva sua leitura da personalidade cindida do homenageado, cuja obra soaria sinistra, taciturna para muitos, povoada por diversos santos, embora ele mesmo fosse irônico, sarcástico e alimentasse repulsa aos dogmas católicos. Um sujeito especialmente sensível, que manteve uma relação considerada bélica contra a família, inclusive pai e mãe, e contra as crianças, por considerá-las “permanente tortura chinesa para os adultos”.

Apesar da fragmentação evidente das suas obras, construídas de peças dispersas que se articulam admiravelmente, Farnese não separava vida e obra. Foi autobiográfico em tudo que criou, diz Vandré, por isso tanto o admiraria. Por isso tanto se empenhou em obter os objetos adequados ao que pretendia.

Durante dois anos, vasculhou praias (veja no site do ator), feiras populares e antiquários recolhendo “o que Farnese gostaria”. “Às vezes, pagando muito caro. Sendo ainda mais radical, despido de vaidades, raspou a cabeça para estar em cena, como as cabeças que as obras de Farnese costumava trazer, e a cada sessão a submetia à pintura de um artista convidado.

Por Farnese não fez por menos, foi longe, se expôs. Admite o desgosto por não participar da última edição do FIT, uma ótima chance de poder vir a BH. Eram dois mineiros vivendo limites em cena, justifica. Menos pior, a peça volta em setembro, na Lapa, já foi sondada pelo Palco Giratório, do Sesc, e os comentários positivos até hoje não cessam.

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