O Grupo Corpo, uma das principais companhias de dança contemporânea em atividade presenteia o público de Belo Horizonte neste final de semana com a apresentação dos espetáculos "Bengelê" e "Sem Mim". Como não é ano de estreia, que acontece de forma bienal, "presentear" é o verbo mais adequado, sobretudo porque a última vez que "Bengelê" subiu aos palcos por aqui foi em 2003.
 
Assistir às coreografias de Rodrigo Pederneiras é um privilégio com sabor de primeira vez. Vale atentar-se àquela movimentação de quadris - assinatura do Corpo -, aos cenários (De Fernando Velloso e Paulo Pedereneiras para "Bengelê" e deste último para "Sem Mim") e figurinos (Freuza Zechmeister) sempre surpreendentes, à música especialmente composta por artistas de peso (João Bosco e José Miguel Wisnik) e a iluminação perfeita de Paulo Pederneiras.
 
A turnê que começou no deste mês em São Paulo, finalmente chega ao Palácio das Artes, com apresentações entre os dias 23 a 26 de agosto. Depois, os bailarinos seguem para Rio de Janeiro (Theatro Municipal, 6 a 9 de setembro), Curitiba (Teatro Guaíra, 15 e 16 de setembro) e Porto Alegre (Teatro do Sesi, 22 e 23 de setembro). Como habitual, a rota de apresentações segue para o exterior e, em outubro, o grupo vai para os Estados Unidos, levando na bagagem "Ímã" e "Sem Mim". Para aplaudir de pé.
 
Benguelê

Com música original assinada por João Bosco e título que evoca o sentimento de nostalgia que acometia os cativos oriundos do reino Benguela, Benguelê é uma obra marcada pela teia de influências (africanas, mouras, europeias) que ajudaram a moldar a música produzida pelo compositor mineiro – o grande homenageado do Prêmio da Música Brasileira este ano –; por uma ocupação, no mais das vezes, anárquica do espaço cênico; e pela interferência incisiva da cenografia sobre a escritura coreográfica. Utilizada com parcimônia, a criação de um segundo plano, longitudinal e recuado, dois metros acima do palco por Fernando Velloso e Paulo Pederneiras contribui de maneira surpreendente para o desenvolvimento de um sentido quase que dramatúrgico que Rodrigo Pederneiras quis emprestar ao balé.

Como numa abertura de ópera, os "temas" que serão desenvolvidos ao longo do espetáculo são apresentados no adágio que lhe dá início. Logo, a força da herança africana sobre a nossa cultura vai ganhando forma e, o balé, velocidade. Ritualizada, a "pequena África" brasileira serve de ponto de partida para uma viagem, que rompe oceanos e percorre territórios longínquos e diversos que ajudaram a fazer do nosso um país culturalmente miscigenado. Até empreender sua travessia de volta e desembocar na africanidade festiva do congado mineiro.
 
Sem Mim

Lançado em agosto de 2012, sem mim chega a sua segunda turnê pelo país azeitado por 39 apresentações entre o Brasil e a França – 16 das quais em temporada consagradora na Maison de la Danse, em Lyon. O balé é embalado por uma trilha primorosa urdida a quatro mãos pelo espanhol da Galícia Carlos Núñez e o paulista de São Vicente José Miguel Wisnik a partir do único conjunto de peças do cancioneiro profano medieval galego-português que chegou aos nossos dias com as respectivas partituras de época: o célebre "ciclo do mar de Vigo", de Martín Codax.

Entremeadas por temas instrumentais dos repertórios populares galego, português e brasileiro, as sete canções, datadas do século XIII, retratam o anseio de jovens apaixonadas pelo reencontro com o amado-amigo, levado pelas águas de Vigo. E é este mar impetuoso e lascivo evocado na lírica do trovador medieval viguês o grande manancial de inspiração dos irmãos Pederneiras e Freusa Zechmeister – a trinca de criadores que há mais de 30 anos confere luz, forma e movimento aos espetáculos do Grupo Corpo.
 
Serviço

Grupo Corpo - Benguelê e Sem Mim
Quinta, sexta e sábado, 20h30
Domingo, 19 horas
Duração: 1h48m
Inteira: R$ 70,00
Meia: R$ 35,00
Balcão de informações: 3236.7400
Ingresso.com.br | 4003.2330

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