Tempo de celebrar o samba de Noel Rosa

Elemara Duarte - Do Hoje em Dia
01/07/2012 às 10:48.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:14
 (Reprodução do livro "Pixinguinha, o Gênio e o Tempo" )

(Reprodução do livro "Pixinguinha, o Gênio e o Tempo" )

Noel Rosa talvez não soubesse que “farrapo” vestir para ir ao samba para o qual foi convidado. Mas sua faceta de compositor sabia, como ninguém, tirar partido desse tipo de situação corriqueira para embasar, com humor, boas letras.

Coisa de gente sabida, e que agora, 75 anos após sua morte, vira tema de doutorado – coisa de intelectual. É com base na ironia “noelina” que a pesquisadora do Departamento de Letras da USP, Mayra Pinto, investiu seus estudos. Eles estão consolidados no recém-lançado livro “Noel Rosa: O Humor na Canção” (Ateliê Editorial).

“As músicas dele têm uma confluência da cultura popular e da erudita. O lado erudito fica por conta do trabalho poético, das letras. O popular, por conta do ritmo”.

Singularidade

“Noel Rosa: O Humor na Canção” é resultado da defesa da tese de doutorado da pesquisadora, pela Faculdade de Educação, da USP. “O Noel ajudou a formatar a canção popular urbana. Até então, as letras não tinham tanta segurança poética”. Mayra diz que esta ironia “é a singularidade do poeta de Vila Isabel em relação a seus contemporâneos, como Braguinha, Lamartine Babo e Ismael Silva”.

O jeito como maneja esta ironia também é relevante. Sugestão: acesse o YouTube e digite “Gago Apaixonado”. O internauta vai encontrar uma gravação dos anos 1930, onde Noel, aos 20 e poucos anos, canta com humor. “Ali, na interpretação, há matizes da língua falada dos quais Noel se apropria muito bem”, indica.

Língua Afiada

Não bastasse falar dos outros com a língua afiada, Noel também tira sarro de si mesmo. Isso é evidente no clássico “Com que Roupa”, que compôs aos 19 anos e elevado ao sucesso em 1931.

Esta foi sua primeira canção de repercussão, um ano após a crise econômica norte-americana de 1929, que lançou estilhaços também no Brasil. “Agora eu não ando mais fagueiro, pois o dinheiro não é fácil de ganhar”. “Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro”, admite o poeta, “não consigo ter nem pra gastar”. “Até o malandro sofre com a crise”, constata a autora. l

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