Terry Gilliam volta à Veneza com denúncia aos excessos da tecnologia

AFP
02/09/2013 às 16:57.
Atualizado em 20/11/2021 às 21:34

VENEZA - O veterano cineasta Terry Gilliam voltou nesta segunda-feira a Veneza para competir na 70ª edição do Festival com um filme surrealista de ficção científica que denuncia os excessos do presente tecnológico, a solidão, os amores virtuais e que em sua primeira exibição foi recebido com vaias e aplausos.

Com roteiro de Pat Rushin, "The Zero Theorem", realizado com baixo orçamento e muita imaginação, descreve um futuro não muito distante, em um mundo corporativo como uma espécie de pesadelo, com pessoas conectadas e vigiadas de forma permanente, em que dominam mensagens de publicidade, avisos com proibições, todo o tipo de venda de objetos, inclusive de igrejas.

"Narro uma sociedade na qual a solidão deixou de existir. Todo o mundo está conectado o tempo todo à internet, incapaz de viver o momento de forma plena porque tem ânsia de comunicar imediatamente aos outros o que está vivendo e sentindo", conta o cineasta britânico nascido nos Estados Unidos, de 73 anos, ex-membro da trupe inglesa de comédia Monty Python e autor do célebre "Brazil", uma versão livre do livro de George Orwell "1984".

A obsessão do cineasta pelo futuro transforma seu último filme em uma denúncia do presente, apesar de reconhecer que decidiu deixar o final em aberto, como uma mensagem de esperança, em que o amor pode ser o caminho da redenção.
    
"O amor é perigoso para a sociedade", comentou Gilliam durante a apresentação do filme à imprensa.

Em um mundo controlado por Management, que observa todos os movimentos através de câmeras instaladas nos olhos das pessoas, como uma espécie de Grande Irmão dos dias atuais, Qohen Leth (Christoph Waltz), um gênio da informática tenta resolver o teorema zero: o sentido da vida.

A partir de sua estranha residência, uma igreja gótica, escura e em ruínas, cheia de ratos e objetos informáticos, Qohen espera a ligação telefônica que resolverá o complicado teorema matemático existencial.

"Eu não me vejo nem com um 'nerd' nem como um 'geek', mas me sento ao computador e me deixo seduzir", admite o diretor, que denuncia à sua maneira as relações virtuais, a falta de comunicação entre os jovens, o temor frente às decepções da realidade.

"A nova fé é a tecnologia", sustenta Gilliam, que rodou seu filme em Bucareste (Romênia) em apenas 27 dias e com atores amigos, que trabalharam gratuitamente, entre eles Matt Damon.

"Temos que ter controle sobre nossa vida, seja ela virtual, real ou surrealista", propõe o diretor, que confessou ter usado seu iphone para completar o filme.

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