'Transe' instrumental: Esdras Nogueira grava versão de clássico de Caetano

Lucas Buzatti
06/04/2019 às 16:40.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:07
 (Ricardo Theodoro/Divulgação)

(Ricardo Theodoro/Divulgação)

“You don’t know me / Bet you’ll never get to know me”. É quase automático cantar os primeiros versos de “You Don’t Know Me” depois que a frase cantada ao violão anuncia a música que abre o disco “Transa” (1972), de Caetano Veloso. Imagine, então, uma versão da icônica faixa sem o vocal marcante do baiano – mas com um potente sax barítono que se encarrega de desenhar a famosa melodia. Essa é uma das diferenças da releitura do saxofonista brasiliense Esdras Nogueira para a música, que também ganhou um arranjo dançante, cheio de novos elementos rítmicos. 

Trata-se do primeiro single do álbum “Transe”, que apresenta um olhar instrumental para o clássico álbum de Caetano. Gravado com os músicos Rodrigo Balduíno (baixo), Marcus Moraes (guitarra) e Thiago Cunha (bateria), o disco será lançado amanhã em plataformas digitais. “You Don’t Know Me” já está disponível nas redes, com um divertido lyric video onde quem canta é o instrumento do brasiliense, que integrou a banda Móveis Coloniais de Acaju e é referência no cenário da música independente brasileira. 

Esdras Nogueira conta que a ideia do disco surgiu de forma inusitada, a partir da sugestão de um amigo, a princípio estranhada por ele. “Me falou que eu tinha que gravar o ‘Transa’, que seria um discão. Achei uma ideia meio doida, mas comecei a ouvir o álbum com mais atenção e vi que tinha muitas coisas para explorar”, diz. 

“Transa”, opina o artista, é um disco solto, em que os músicos estão livres e o Caetano “está incrível”, cantando em português e em inglês. O trabalho é um dos registros mais importantes da carreira do baiano, gravado em Londres, durante exílio na época da ditadura. “Período muito triste da nossa história”, lembra o instrumentista. “Sempre gostei muito do Caetano, mas o ‘Transa’ é um disco que eu nunca tinha parado apara escutar com atenção. Encarei a chamada desse amigo como uma ordem inesperada que aparece para fazer a gente pensar”.

A partir daí, Nogueira reuniu o grupo que o acompanha há mais de cinco anos e passou 2018 trabalhando os arranjos do álbum. Diz que foi um desafio grande traduzir a música cantada para a instrumental, fazendo referências diretas à letra, sem soar como um cover. “O álbum tem pegada dançante, a melodia do Caetano está em todas as músicas, mas elas ganharam formas diferentes de execução”, sublinha. “Fomos brincando, pesquisando as referências rítmicas. Tem ska, tem afrobeat”. 

Para Nogueira, a voz é como um instrumento – e o contrário também é possível. “Quando a banda soa bem, ninguém se sobrepõe. Os instrumentos e a voz têm o mesmo peso. Foi assim num show que vi do Caetano no Primavera Sound, em Barcelona. Ele cantava incrivelmente e também havia uma força incrível da banda”, afirma. “Espero que Caetano goste do disco porque a gente fez tudo com muito carinho”.

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