Transição do poeta de livro para letrista de música foi natural, analisa Ivan Junqueira

Paulo Virgilio - Agência Brasil
18/10/2013 às 09:43.
Atualizado em 20/11/2021 às 13:26

RIO DE JANEIRO - Ao se voltar mais para as letras de música, a partir dos anos 50, o poeta Vinicius de Moraes fez uma escolha natural, um desdobramento até previsível em sua obra. A avaliação é do também poeta, crítico literário e ensaísta Ivan Junqueira, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL). "A poesia que Vinicius publica na década de 40, sobretudo no livro 'Poemas, Sonetos e Baladas', já contém uma musicalidade de tal ordem que se poderia até prever que ele acabaria se enveredando pelas letras de música. E isso foi exatamente o que aconteceu", disse Junqueira, em entrevista.

Para ele, a escolha de Vinicius trouxe um enorme benefício para o cancioneiro popular brasileiro. "Não há porque criticá-lo nesse ponto. Mas, de fato, ele deixou de lado a grande poesia que escreveu até 1949. Nesse ano, quando ele publica 'Pátria Minha', é quase uma despedida do Vinicius como o grandíssimo poeta que foi. A partir daí, ele só vai lidar com música popular", ressaltou.

Autor dos ensaios "Vinicius de Moraes: Língua e Linguagem Poética" e "Os Herdeiros do Modernismo", o acadêmico inclui Vinicius em um grupo de poetas que teve influência muito grande sobre o que se escreveu depois, nas décadas de 40 a 60. São os poetas que começaram a publicar suas obras nos anos 30, como Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Henriqueta Lisboa, Odylo Costa Filho e Manoel de Barros. "A poesia deles não traz aqueles equívocos e cacoetes dos poetas do início do modernismo, que se você ler hoje, é uma poesia muito datada por causa da ideologia do próprio movimento modernista", analisou Junqueira.

A variedade de temas na poesia de Vinicius pode ser explicada, segundo o crítico, pelo fato de ele ter sido um poeta nato. "Eu considero muito importante a observação do Carlos Drummond de Andrade para se entender o Vinicius de Moraes: é que ele foi o único poeta daquela época que levou uma verdadeira vida de poeta. Todos os outros se recolheram a gabinetes. O Manoel Bandeira isolado naquela casa de Santa Teresa, o próprio Drummond trabalhando no Ministério da Educação e Cultura", disse.

Para Ivan Junqueira, Vinicius de Moraes era um vocacionado para a escrita, mesmo fora da poesia. "Ele se deu bem em todas as vertentes literárias porque era um homem de um talento inesgotável", destacou.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por