Trinta anos após vencer Berlim, Marcélia Cartaxo segue angariando prêmios

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
18/10/2015 às 11:45.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:06
 (JÚNIOR ARAGÃO)

(JÚNIOR ARAGÃO)

Extasiada com o prêmio de melhor atriz recebido num dos principais festivais do mundo (o de Berlim), ainda mais em seu début no cinema, Marcélia Cartaxo recebeu um banho de água fria da mãe, quando ligou para contar a novidade. “Urso? Não tem espaço aqui para esse bicho, não”, disse a genitora, diretamente da cidade paraibana de Cajazeiras. Marcélia, claro, não estava levando nenhum animal na mala. O único “urso” era uma estatueta desejada por todas as atrizes.

A atriz ri, deliciada, ao lembrar esse caso, quando estimulada pelo repórter a falar dos 30 anos de “A Hora da Estrela”, dirigido por Suzana Amaral e baseado no livro homônimo de Clarice Lispector. Muito de sua carreira, admite, deve-se ao papel de Macabéa.

“Essa facilidade que tenho de expressar coisas sem falar, devo a Suzana. Foi meu grande laboratório. Ela me dizia para fazer uma coisa de cada vez. Era no sentido de fazer gestos bruscos, falar com o olhar e com o corpo. O cinema tem um tempo diferente do da TV”, ressalta.
 
MUITOS PRÊMIOS

O momento atual da atriz de 51 anos é tão bom quanto em 1985. Há quase um mês, ganhou o troféu Candango do

Festival de Brasília, um “velho conhecido” seu. Na capital do país, já recebeu outras três estatuetas – a primeira justamente por “A Hora da Estrela”.

Depois vieram, ainda em Brasília, os prêmios por “Fronteiras” (1987) e “Dezesseis Zero Sessenta” (1995), ambos como coadjuvante. Em 2015, tendo Mariana Ximenes como concorrente principal, levou por “Big Jato”, produção de Cláudio Assis.

Em 2014, Marcélia também ganhou a Menina de Ouro, nome da estatueta do Festival de Paulínia. O papel era outro, o da calada Querência, em “A História da Eternidade”. Personagem que a fez lembrar da parceria com Suzana Amaral, três décadas atrás.

“Foi um trabalho muito intenso, o mais difícil que fiz. Filmamos num lugar muito pequeno, no qual só havia os personagens com quem contracenávamos. Como ela não fala, praticamente, fiz um trabalho mais para dentro”, registra.
 
SOBREVIVENTES
 
Quando foi convidada para “Big Jato”, Marcélia pensou se tratar de um trote. Não imaginava que seria comandada num set por “Claudão”, com quem trabalhara em “Baixio das Bestas” (2007). “Tinha perdido o contato com ele. Achei que estava voltado para outras artistas”.

Sua personagem é uma mãe severa. Como nunca teve filhos, Marcélia teve que “buscar” essa autoridade. O melhor de tudo foi atuar ao lado de Matheus Nachtergaele, que interpreta seu marido. “Eu me sinto muito à vontade com ele”, afirma.

Marcélia também está feliz com os bastidores do cinema: trabalha na divisão de audiovisual da Secretaria de Cultura de João Pessoa. Sob sua coordenação, a cidade está lançando um inédito edital para produção de filmes (três longas-metragens e dez curtas).

Também prepara a realização de seu terceiro curta, “Redemoinho”, e sonha com um longa documental sobre um grupo de ciganos na Paraíba. O Urso de Prata está na estante da sala, “ainda muito saudável”, brinca. “Passamos por muitas dificuldades, mas sobrevivemos”.

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