'Troco qualquer videogame por uma roda de choro', avisa bandolinista de 13 anos

Elemara Duarte - Hoje em Dia
03/09/2015 às 15:34.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:37
 (Hoje em Dia)

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Como boa parte dos meninos da idade dele, Ian Coury, aos 13 anos, anda de skate. Mas na trilha sonora pelo fone de ouvido, entre uma manobra e outra, nada de rap ou funk. O que ele aprecia mesmo é o som de Hamilton de Holanda, Jacob do Bandolim. "Sério isso?", deve estar se perguntando o sonoro leitor. A questão é que Ian toca bandolim e se você quiser tirar a prova de que ele manda bem, pela primeira vez, ele estará em BH, nestas quinta e sexta-feira (3 e 4) para duas apresentações com seu talento juvenil. No repertório: clássicos do chorinho.

Neto de mineiros, Ian nasceu em Brasília, onde ainda vive com a família. Mesmo iniciante, o garoto já mantém diálogo com grandes músicos das cordas como o próprio Hamilton de Holanda, que sempre o convida para algumas canjas nos shows que faz por lá. "Ele manda um e-mail para mim avisando quando vem se apresentar. Eu o admiro muito também por causa da humildade".

Os instrumentistas Armandinho e Manassés de Sousa e o saxofonista Paquito d'Rivera também são outros artistas do universo instrumental que já permitiram a divisão de seus respectivos espaços no palco com o garoto.

No espaço entre uma apresentação e outra, na playlist de Ian do Spotify só toca coisa fina. O guitarrista Pat Metheny, mais Hamilton e uns sambas do Diogo Nogueira. "Troco qualquer videogame por uma roda de choro", avisa o adolescente.

"Meus colegas gostam funk, sertanejo universitário, rap. Numa festa para dançar, tudo bem. Mas para tocar na minha playlist...", diz, reticente, sobre a impossibilidade de isso acontecer.

Bem-vindo, garoto!

Nas rodas de choro e também de samba do planalto central, Ian troca ideia com músicos de 30, 50 anos de idade por meio do idioma da música. Lá vem aquele moleque de novo... Nada disso, caro leitor! "Acho que eu sou até bem acolhido quando chego numa roda. 'Oh, Ian, chega aí!', dizem. Acho que os músicos gostam porque são poucos da minha idade que gostam de choro", avalia.

E na escola? Olha lá, aquele menino que toca aquele violãozinho esquisito! Outro ledo engano. "Sou o único aluno que toca bandolim. E é como se eu fosse um cantor sertanejo. A escola inteira me conhece. 'Aí, bandolinista!', dizem. Tinha amigo que nem sabia o que é um bandolim", lembra.

Pelo bambolim de dez cordas de Ian Coury também passam algumas melodias do conterrâneo Renato Russo e também do Clube da Esquina, assim como algumas composições próprias. Em Brasília, tem lugar cativo em alguns restaurantes, mas apenas nos fins de semana, para não atrapalhar a escola, a natação, o inglês... Tudo sob o olhar atenciosa da mãe, Cláudia Coury, que também é produtora dele.


A saga do pai de um "músico-bebê"

O pai de Ian, Carlos Coury, servidor público, tem lá a sua interferência nisso tudo. Ele toca percussão, um cavaco, um pandeiro e tal, mas nada profissionalmente. Quando o menino nasceu, ele saiu de um grupo de choro, em Brasília, para dar atenção maior à família.

Mas é aquela relação que o mestre destino insiste em reconstruir: Carlos deixou a música, mas a música não o deixou. "Tenho muitos amigos músicos. Fazia umas rodas aqui em casa. Ian ficava de olho. Dei um cavaquinho para ele. Coloquei na escola, mas ele queria uma guitarra. Mas ele tinha 7 anos! Achei um instrumento muito pesado".

O dilema agora era achar algo compatível com o miúdo. Então, Carlos levou o filho ao show de Armadinho e o músico baiano estava tocando bandolim. Entenda o caso: cavaquinho tem quatro cordas, bandolim, oito ou dez. E ainda tem mais: "O cavaquinho é mais de acompanhamento. E bandolim, mais para solo", explica o pai.

Pronto! "Fui à loja de instrumentos musicais no outro dia e comprei um bandolim para ele. Caso contrário eu tinha que dar a guitarra". Ian aceitou e voltou para as aulas no Clube do Choro, em Brasília. "Isso foi há cinco anos. Ele está desenvolvendo. E já tem o bandolim de dez cordas – dá para solar e fazer acompanhamento", constata o pai.

Guitarras? Pick-ups? Batidão? Isso é para outros adolescentes. Hoje Coury leva o filho para as chamadas "Roda de Choro com Ian”. "É o trabalho formal dele, digamos assim", explica o pai do menino.

SERVIÇO

Shows com o bandolinista Ian Coury:

- Dia 3/09, às 20h30, no Bar Pedacinhos do Céu (rua Belmiro Braga, 774, Alto Caiçara). Couvert: R$ 10. A apresentação terá a participação dos músicos Lucas Telles, Pedro Trigo, Lucas Ladeia e Daniel Guedes. - Dia 4/09, as 20h, no Restaurante Mosteiro (rua Santa Rita Durão, 940, Savassi). Couvert: R$ 10. Onde o jovem instrumentista será o artista convidado do "Grupo de Choro de Ronaldo do Pandeiro".

 

Acompanhe algumas canjas de Ian Coury nos shows dos mestres:

Com Hamilton de Holanda:

 

Com Armandinho Macedo:

Com Paquito d'Rivera:

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