'Turma da Mônica' de mineirinhos estreia nesta quinta nos cinemas de todo país

Paulo Henrique Silva
24/06/2019 às 08:48.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:14
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Realizar um filme em live action da Turma da Mônica é um sonho de muitos anos do cartunista Mauricio de Sousa, responsável pelos personagens brasileiros mais famosos dos quadrinhos. Coube à graphic novel “Laços”, criada em 2013 pelos irmãos mineiros Lu e Vitor Cafaggi, a inspiração para o que aponta ser uma rentável franquia nos cinemas. Dirigido por Daniel Rezende, o primeiro longa-metragem estreia nesta quinta-feira em todo o país. Em entrevista ao Hoje em Dia, os irmãos Cafaggi falam da experiência em ver a história deles na telona.

Como foi a sensação ao ver a graphic novel que criaram em 2013 ganhando formato de cinema? 
Vitor Cafaggi – A gente já sabia que iria ter algumas alteraçõezinhas, mas tudo o que foi colocado a gente achou perfeito, enriquecendo mais ainda o tema que estava sendo tratado. Fomos para o cinema meio sabendo que já íamos gostar. Mas acabou indo muito além. (Ver o filme) Foi uma coisa muito mágica e especial. Para todo mundo que leu Turma da Mônica um dia, que carrega um sentimento gostoso de nostalgia, da infância, acho que o filme vai conversar muito, trazendo essa sensação de estar vendo uma coisa nova e, ao mesmo tempo, familiar. Para a gente, é a coisa mais maravilhosa que vimos na vida. Não posso falar isso para as pessoas porque vão achar que estou exagerando, pois a coisa mais maravilhosa da vida é uma coisa muito séria, né? A gente ficou muito, muito encantado.
Lu Cafaggi– A sensação é mesmo de estar revisitando uma coisa que é familiar, que é boa de lembrar. Ao mesmo tempo, tivemos uma sensação de descobrimento, de surpresa em encontrar uma coisa nova que, por acaso, é a nossa nova coisa favorita. A gente sabia que iria ser legal, pois percebemos o cuidado que o pessoal colocou, respeitando o nosso trabalho e o do Mauricio e as várias gerações que construíram essa relação. Há coisas muito frescas do filme que nasceram da espontaneidade das crianças na produção, da experiência do (diretor) Daniel Rezende, do jeito que ele conduziu as crianças. O Daniel fala que a gente dificultou a vida dele, pois colocamos no filme criança, cachorro e cenas na floresta à noite. Colocamos todas as armadilhas que atrapalham a vida de um diretor. (risos) 

Os diálogos do filmes são os mesmos dos quadrinhos?
Vitor – Uma coisa muito legal que a gente viu na filmagem foi que Daniel não deu o roteiro para as quatro crianças lerem hora nenhuma. Nenhuma fala do filme é decorada. É 100% improvisado por eles. O que ficou mais próximo do quadrinho é a conversa deles com o mendigo. 
Lu – Teve alguns enquadramentos também iguais (à graphic novel). Num deles, Cebolinha está triste no quarto, após receber a notícia de que Floquinho sumiu, e a turminha o visita. 

E em relação à história? O que mudou?
Vitor – Daniel conseguiu levar a história para um patamar mais alto e, ao mesmo tempo, valorizou muito o nosso trabalho, a nossa visão. E a do Maurício (de Sousa). Como é o primeiro filme (em live action), não dava para ser só “Laços”, só Turma da Mônica. Tinha que ter a turma do Maurício também. Ele foi muito feliz neste equilíbrio. A proposta de “Laços” era ser uma graphic novel da TM, diferente da TM da banca. Tem muita cena de noite, tem eles se machucando de verdade, para dar este arco um pouco mais graphic novel. Já no filme não dava para ser assim. Tinha que ser a TM clássica também. Uma preocupação nossa, antes do Daniel entrar, era com os atores que fariam a turma. “Laços”, desde o início, foca nos quatro personagens. Não tem hora nenhuma que se desvia deles. Para nós, tinham que escolher quatro atores muito bons porque eles carregariam o filme.

Vocês tiveram direito a veto nas decisões sobre as diversas etapas de produção?
Vitor– Somente na parte de roteiro. Podíamos dar palpites, sugestões. De resto, nada, nada. 

E chegaram a palpitar no roteiro?
Vitor – Não, meio que por nossa culpa. Eles mandaram o roteiro para gente e ficamos meio com preguiça de ler. Tínhamos um pouco de medo em ficarmos decepcionados. 
Lu – Ainda bem que era bom. (risos) 

O mote central do filme é a ideia de trabalhar em conjunto para vencer os obstáculos que surgem. Isso já estava no quadrinho?
Vitor – É mais do filme. A revista fala muito da amizade deles, que precisa ser maior que as brigas que Cebolinha e Mônica possam ter, mas é tudo muito natural, sem conflitos. Já no filme, eles tentam uma vez o plano do Cebolinha, não dá certo e, depois, em conjunto, tentam de novo.

Os produtores poderiam ter escolhido qualquer outro livro ou revista da Turma da Mônica para transformar em filme. Optaram por “Laços”. Vocês já enxergavam nele uma narrativa cinematográfica?
Vitor – Quando recebemos o convite, a primeira coisa que eu e a Lu combinamos foi que tentaríamos contar como se fosse um longa. Mas não imaginávamos que isso viria a acontecer. Fizemos com o pensamento de que, se a revista fosse um filme, como ele seria. No mesmo dia que recebemos o convite, à noite, sem receber nenhum briefing ou sugestão de tema, já sabíamos qual seria a história, sobre a jornada do herói, remetendo a filmes como “Os Goonies” e “Conta Comigo”.

Vocês fizeram “Lições”, a continuação para “Laços”. No cinema, ele também será a base para uma futura segunda parte?
Lu – Possivelmente, mas ninguém falou ainda.
Vitor – O Mauricio se empolga muito com as coisas. Na coletiva, garantiu que vai ter. Obviamente, é preciso esperar o resultado deste primeiro. Já estão trabalhando com a ideia, adiantando algumas coisas. “Lições” é mais difícil de ser adaptado. É muito diferente de “Laços”.
Lu – Ele tem uma narrativa quebrada. Precisaria mudar a cara do filme para fazer deste jeito. 
Vitor – Em “Laços”, acompanhamos a jornada de crescimento deles até o final. Em “Lições”, eles são obrigados a se separar e lidar com as consequências. Li uma crítica que resume bem a história: eles vão ter que jogar com as cartas que a vida tem para lhes dar. As coisas nem sempre acontecem do jeito que se quer. Um amigo meu chegou a dizer que “Lições” termina mal, que seria uma b... Mas depois de tomar banho e pensar na história, mudou de opinião. Tem tantas sutilezas que, numa leitura rápida, parece que termina mal. Exige atenção maior e, por isso, fazer um roteiro dele será mais difícil. Neste caso, vamos ter que ajudar um pouco mais e evitar de ficar enrolando. (risos)

Depois de “Lições”, ainda teve o “Lembranças”. A intenção é produzir mais histórias com a Turma da Mônica?
Lu– A história se fechou em “Lembranças”. Acreditamos que ela se encerrou de um jeito legal. Colocamos tudo que tínhamos ali. Uma história nova será mais difícil de construir. Teríamos que sair do zero. Mas com o filme, essa vontade (de fazer outro livro) acaba voltando.
Vitor – Cada livro que fizemos tem uma história bem diferente. “Laços” é uma aventura. “Lições” é um drama e “Lembranças” tem um pouco de comédia, pois é mais solto. 

Outro trabalho pelo qual Vitor é lembrado é “Valente”, publicado em “O Globo” e que tem um cão em busca de seu amor como protagonista. A ideia é mesmo aposentar o personagem neste ano?
Vitor – No contrato com “O Globo” já coloquei que, quando acabar, acabou. Em todos os meus trabalhos, vejo que tem que ter um fim. Não posso ficar em cima deles a vida inteira, pois estaria me repetindo. Em dez anos, praticamente fiz apenas Turma da Mônica e Valente. Não posso ficar mais dez anos fazendo só eles.

 Ouça o recadinho de Mauricio de Sousa sobre o filme:

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