TVs por assinatura “brigam” com a Netflix pelos usuários

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
07/02/2016 às 09:32.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:20
 (Frederico Haikal/Hoje em Dia)

(Frederico Haikal/Hoje em Dia)

Ela vem sendo chamada de Uber da televisão, por incomodar as grandes operadoras de TV por assinatura no país. Hoje não há quem não conheça aquelas sete letrinhas, porta de acesso às séries mais badaladas do momento e filmes que podem ser vistos no televisor, no computador ou no celular.
 
“A Netflix é fruto de uma mudança de comportamento da audiência. As pessoas querem ver conteúdo na hora que quiserem, do jeito que quiserem”, observa Pedro Filiz- zola, diretor de marketing da empresa mineira Sambatech, que trabalha com tecnologia de vídeo on-line para as emissoras de TV.
 
A briga é mundial, como atesta Pedro, após participar de uma feira do setor nos Estados Unidos, no ano passado. “A empresa não está errada. Está dançando conforme a música. Cabe às emissoras se adaptarem a esse comportamento”, registra Pedro, que tem como principal cliente o SBT.
 
As operadoras estão se movimentando nos bastidores para interromper essa trajetória ascendente da Netflix, empresa americana que iniciou suas atividades no Brasil em 2011. Após perder quase um milhão de assinantes, desde 2014, elas querem obrigar a empresa a aumentar os seus valores, muito baixos em relação à TV paga.
 
Conteúdo top
 
Uma das maneiras, conforme antecipado pelo Uol, seria o desembolso de R$ 3 mil por filme disponibilizado, taxa exigida pela Agência Nacional de Cinema. Também sugerem que o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) insira sobre o serviço, além da exigência de 20% de conteúdo nacional.
 
Pedro assinala que o preço não é o principal diferencial da empresa. “É o conteúdo. Sou fã da série ‘House of Cards’, exibida na Netflix, e pagaria qualquer valor para vê-la. Assim como gosto de esportes e pagaria para ter Sportv, ESPN ou Fox Sports. As operadoras precisam criar formas interessantes para o conteúdo chegar ao usuário”.
 
Os canais pagos já dispõem hoje de versões em streaming, como o Now e o HBO Go, mas sem a mesma facilidade de navegabilidade que a Netflix, que também não proíbe o empréstimo de senhas de acesso. “Ela usa uma tecnologia inteligente, tratando cada usuário de forma diferente. E isso agrega valor”, pondera.
 
Serviços de streaming investem em produção de conteúdo
 
Se já não bastasse mudar a configuração do mercado de TV por assinatura, a Netflix e a Amazon, que também oferta filmes em streaming, começam a entrar forte na área de produção de conteúdo.

O que significa que elas poderão bancar os seus próprios filmes e decidir se eles estrearão primeiramente na rede virtual, interrompendo um ciclo que tem como ponto de partida as salas de cinema. “Isso pode ocorrer, sim. Mas seria uma mudança grande, que alteraria radicalmente uma indústria, o que não deve acontecer agora”, analisa Pedro Filizzola.
 
Às compras
 
Uma boa prova dessa direção foi dada no Festival de Sundance, evento americano voltado para filmes independentes. A Amazon adquiriu “Love & Friendship”, “Complete Unknown”, e “Wiener-Dog”.

Já a Netflix levou para casa “Tallulah”, protagonizado por Ellen Page, “The Fundamentals of Caring”, com Paul Rudd, o documentário “Audrie”, e “Under the Shadow”, filme de horror iraniano.
 
Um dos principais críticos de séries de TV do país, Paulo Gustavo Pereira destaca que as distribuidoras tradicionais ainda detêm a expertise do mercado: “A Netflix não consegue chegar a muitas salas”.
 
Ele lembra que o filme “Beasts of No Nation”, comprado pela Netflix e que rendeu ao ator principal Idris Elba o prêmio de melhor ator coadjuvante no SAG Awards, foi lançado em apenas duas salas nos Estados Unidos. Apesar de bem recebido pelos analistas, não recebeu nenhuma nomeação ao Oscar.
 
Na telinha, o filme chegou a ter três milhões de views em poucos dias. A preferência por um bom lançamento nos cinemas é o que tem pesado na balança a favor dos grandes estúdios de cinema.
 
Além disso...
 
A TV a cabo de casa foi “aposentada” por Gustavo Abreu, proprietário da editora Letramento. “Só uso para ver jogos de futebol”, explica o usuário da Netflix, que, por estar sempre viajando, viu no celular a principal maneira de ter acesso à programação.
 
“Independentemente do suporte, a exibição em streaming tem boa qualidade. Só se a conexão estiver muito ruim para a imagem travar”, afirma Gustavo, que, para não ficar sem a sua série preferida, “Black Mirror”, pagaria até R$ 70 para continuar a ter acesso ao Netflix.
 
O crítico Paulo Gustavo lembra que, na maioria das cidades do interior, a qualidade da banda larga ainda não é boa e, por isso, lamenta o fechamento das locadoras de vídeo. “As pessoas se encantam fácil pela tecnologia, mas não é bem assim”, questiona.
 
A Netflix, por sinal, foi a principal responsável pelo fechamento de grandes redes de videolocadoras, como a Blockbuster. “Ela começou como um serviço de entrega de DVD pelo correio e depois se dedicou 100% ao streming, matando as locadoras”, registra Pedro Filizzola, da Sambatech.
 
Já a briga com as TVs por assinatura teve um novo capítulo na última semana, quando uma ação judicial impetrada pelo Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal conseguiu a suspensão a cobrança da Condecine, contribuição usada para o incremento do audiovisual brasileiro.

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