A internet é um universo de possibilidades no qual qualquer um, com criatividade e alguma dose de sorte, pode se transformar em fenômeno da noite para o dia. O estudante de Publicidade mineiro, Ricck Lopes, de apenas 19 anos, por exemplo, se tornou meio que um especialista em redes sociais e tem uma legião de 2,4 milhões de seguidores, que diariamente acompanham, comentam e compartilham as pérolas de sua personagem Gina Indelicada, no Facebook.

O perfil, criado há menos de seis meses, se tornou um fenômeno na rede social de Mark Zuckerberg, e se alimenta de assuntos cotidianos e percepções que seu autor busca até mesmo dentro do ônibus.

Facebook

Depois de ter obtido bons resultados no Twitter com o perfil "Vou Confessar Que", com mais de 800 mil seguidores, Ricck Lopes percebeu a debandada dos internautas para outra rede social, o Facebook. E não perdeu tempo.

"Criei um personagem fictício que era uma dona de casa – cheguei a usar uma foto da minha mãe –, e tive mais de dez mil fãs. Mas queria algo diferente, que não vinculasse à imagem de alguém real".

Lopes ficou um bom tempo procurando uma cara para o perfil, até que, um belo dia, estava na cozinha quando se deparou com a imagem estampada no prosaico paliteiro. "Corri para o computador e criei o perfil. Com uma semana já tinha mais de um milhão de fãs", conta o publicitário, que observou que o internauta não quer apenas ler, mas participar das postagens.

Nem um palito

E como o sorriso decano da garota propaganda dos palitos de dentes saiu das gôndolas dos supermercados e mesas de piz-zarias para ganhar uma mídia de proporções descomunais, como o Facebook, era mais que natural que o fabricante esboçasse reação. "Eles entraram em contato comigo e disseram que gostaram do conteúdo e do perfil e que não se importam de eu manter a imagem".

Nota à imprensa

Em setembro, de fato, a empresa divulgou nota à imprensa: "A marca Gina declara não ter qualquer responsabilidade, conhecimento ou interferência no conteúdo publicado (...) Foi uma surpresa e resultou na maior visibilidade da marca. Isso mostrou o quanto a Gina continua presente no gosto popular. Mas a empresa tem responsabilidades. Estamos acompanhando e avaliando os desdobramentos", afirmou Alfredo Rela Neto, presidente do Conselho de Administração.

Ricck reitera que não há nenhum vínculo entre ele e o dono da marca. "Há quem acredite que estou ganhando dinheiro com isso, mas, até agora, não ganhei nem um palito sequer", brinca.

Apesar de não oferecer nenhum tipo de retorno financeiro, a brincadeira dá trabalho. "Não existe um cronograma de produção. Muitas vezes, no ônibus, eu ouço algo que me chama atenção. Saco meu smartphone e publico o post". A maior dificuldade de gerar conteúdo está no perfil dos internautas. "Cerca de 40% dos que curtem são jovens entre 18 a 24 anos, e 25%, na faixa entre 25 a 30. Mas, assim como há leitores com mais de 40 anos, há adolescentes, é preciso cuidado para escrever algo que seja atrativo para todas as idades".

Para tentar segmentar seu conteúdo, Lopes utiliza uma ferramenta do próprio Facebook, que filtra o perfil de público que irá visualizar o post.

"Posso escrever algo que seja relevante entre mulheres de 20 a 25 anos, com base em livros que estejam lendo, assim como filmes a que estão assistindo. E a partir disso crio a piada, de forma que conseguirei melhores resultados".

Mas todo esse trabalho e pesquisa para segmentar públicos, e criar conteúdos atrativos para os fãs de Gina Indelicada gera algum retorno? "Não recebi nenhum palito de dentes, mas confesso que ofertas de trabalho, sim", diz o publicitário, que trabalha em uma agência justamente com redes sociais para um cliente no ramo de produtos de limpeza.
 

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