Um Nando Reis ‘in natura’

Vanessa Perroni - Hoje em Dia
29/11/2015 às 08:12.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:08
 (Bruno Trindade/Divulgação)

(Bruno Trindade/Divulgação)

O músico Nando Reis está com disco novo na praça, mas, antes de falar ao Hoje em Dia sobre o álbum “Voz e Violão – No Recreio – Volume 1”, o cantor, compositor e instrumentista fez um desabafo. “Queria dizer que a tragédia ocorrida em Mariana diz muito da nossa natureza, de como o Brasil se desrespeita, e sobre o conluio entre empresas e governantes. Isso compromete e devasta nosso país. É lamentável e chocante. Antes, o Brasil era tido como o país do futuro, mas nosso futuro foi para o passado”, diz o artista, em tom de revolta.

No disco, lançado no início deste mês, Reis entrega ao público 14 faixas registradas em show único, realizado em 2014, no Citibank Hall, em São Paulo. “Voz e Violão” apresenta um Nando Reis in natura. Despido do lado “Infernal”, o artista fez um registro sincero e despretensioso de canções como “Relicário”, “Por Onde Andei” e “All Star”.

Mas não foram somente os grandes sucessos que foram alistados: algumas canções “lado B”, bem como faixas conhecidas pelo grande público na voz de outros artistas – como “Diariamente” e “Sutilmente” – complementam o trabalho. “É uma espécie de equação. O disco é uma seleção do que fiz até hoje, e quis também registrar canções que nunca gravei”, explica ele.

Nando confessa que foi a primeira vez que se apresentou no formato voz e violão em uma grande casa de shows, e o nervosismo deu as caras. “A pressão é inevitável, ainda mais sabendo que estava sendo gravado. Tinha tocado uma música inédita, mas me embananei todo e não a coloquei no CD”, revela.

E por falar em tropeços, o músico conta que escorregou na letra de duas canções, mas não as deixou de fora do álbum. “A princípio, registrei como documento. Mas achei que, por ter essa espontaneidade, contém aquilo que é louvável em um trabalho. É da natureza do ao vivo, esse aspecto humano da não perfeição”.

Tanto que em alguns momentos, Nando conversa com o público e expõe seu nervosismo. “É um momento no qual o artista elimina o distanciamento do público, ou a ideia equivocada de que é um ser especial. O artista é apenas um sujeito com uma habilidade de formatação de suas angústias, pensamentos, amores...”, comenta.

‘Será que estou virando uma espécie em extinção?’, questiona

Nando também fala sobre o subtítulo do trabalho, “No Recreio” – nome de uma das canções que não entraram no disco. “É um apelido para aquilo que está na margem do que faço. É um intervalo. Uma brincadeira no sentido de não ser oficial”. Quanto a um volume 2 ele deixa em aberto. “Não está programado. Mas tem muita coisa que gravei informalmente que pode fazer parte dessa ideia”, diz.

Disco lançado, é hora de colocar o pé na estrada, e a turnê de “Voz e Violão – No Recreio – Volume 1” terá início no próximo ano. Dia 27 de fevereiro é a data que o “ruivão” cravou em sua agenda para mostrar o repertório do novo trabalho em BH, no Chevrolet Hall

Amante de discos físicos, Nando tem opiniões pontuais sobre música na internet e streaming. “A Internet tem muitos aspectos louváveis, como a disseminação da música do modo mais livre possível, sem qualquer interferência de rádios ou gravadoras. Mas tem aspectos que acho muito ruins”.

Um deles, pontua, é a ideia de que os direitos autorais não devem ser remunerados. “Isso é absurdo”, esbraveja. Outro senão, diz, é a pulverização do disco. “A internet alimenta uma tendência ansiosa de as pessoas quererem só o que conhecem. E assim acabam consumindo faixas, e não um disco como um todo. O artista vira o cara de uma música só por preguiça dos ouvintes”, lamenta.

Reis vê esse comportamento como empobrecedor. “Uma coisa é você ler um livro e sublinhar as frases que mais gostou. E outra é viver somente de citações. Será que estou virando uma espécie em extinção?”.



 

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