'Um trisal é como qualquer outro casal'; entenda quem é quem

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
01/04/2016 às 18:47.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:44
 (Flávio Tavares/Hoje em Dia)

(Flávio Tavares/Hoje em Dia)

Casar, ter filhos e viver feliz para sempre. Esse ideal de um relacionamento amoroso é compartilhado por Reinaldo, Luiza e Jennifer. Os nomes são fictícios, para preservar a privacidade – ainda não são todos os familiares que sabem sobre esse “trisal” formado há sete meses, depois que Luiza, companheira de Reinaldo, passou a se envolver afetivamente com a amiga lésbica Jennifer.

Morando juntos há cinco anos, Reinaldo e Luiza sempre tiveram curiosidade sobre a possibilidade de incluir outra pessoa no sexo. “Foi complicado no início, porque não conhecíamos ninguém que vivia dessa forma e sempre aparecia empecilhos, como o ciúme e a insegurança sobre qual seria o melhor lugar para se fazer isso, se dentro de casa ou num local de swing”, registra Luiza, de 33 anos.

Esses desejos eram sempre confidenciados para Jennifer, que ouvia atentamente a respeito das tentativas frustradas de se encontrar uma mulher (Reinaldo não admitia em hipótese alguma que fosse um homem) para a sua concretização. “Até que me apaixonei por Jennifer. Era algo mais sentimental do que carnal, a priori”, lembra Luiza, que imediatamente contou para Reinaldo.

“Na hora foi um susto”, revela o companheiro de 30 anos, indagado se elas poderiam sair juntas. “Perguntei se ele não se sentiria traído. Disse que não. Homem tem curiosidade de ver duas mulheres juntas e pensamos que poderia ser um para um futuro ”, continua Luiza

“Nunca havia tido atração por mulher. Foi só com a Jennifer. Se um homem bonitão passar na rua, posso até falar ‘hum, delícia’. Mas mulher não me gera atração física”, assinala Luiza, que, depois de novos encontros com Jennifer, resolveu que era hora de pôr todos para conversar. “Nem eu nem a Jennifer fizemos pressão para ela ter que escolher um ou outro”, conta Reinaldo.

De papel passado

Ele salienta que tem com Jennifer também um casamento, mas sem o contato físico. “Compartilhamos tudo juntos. Há companheirismo e tudo aquilo que faz funcionar um casal, menos o sexo”, relata Reinaldo. O trio pretende registrar a união no cartório no próximo ano, já que a legislação permite o casamento a três.

“Fazer sexo com a Jennifer não igual a estar com o Reinaldo, mas o amor por eles é igual. E seria diferente também se, no lugar de um homem e uma mulher, estivessem dois homens. Cada ser humano é diferente do outro, mas complementar”, registra Luiza, que se diz incomodada apenas com a condenação das pessoas.

“Julgam que é putaria. Não conseguem enxergar o sentimento envolvido. Um ‘trisal’ é como qualquer outro casal”.

As pessoas querem desenvolver suas possibilidades na vida

Autora de 11 livros sobre relacionamentos amorosos, entre eles o recém-lançado “O Livro do Amor” (Best Seller), a psicanalista Regina Navarro Lins analisa que, daqui alguns anos, menos pessoas vão querer se fechar numa relação a dois, optando por relações múltiplas.

“Isso ocorre porque o amor romântico, calcado na idealização do outro e que se prega a fusão, ou seja, os dois transformarem numa só pessoa, está dando sinais de sair de cena. As pessoas hoje buscam a individualidade, querem desenvolver suas possibilidades na vida”, destaca Regina

Homem pode, mulher não

A psicanalista sublinha que, ao sair de cena, o amor romântico está levando sua característica básica: a exigência de exclusividade. “A monogamia surgiu, e é importante saber que foi somente para a mulher, quando apareceu a propriedade privada (minha terra, meu rebanho)”, constata.

Segundo ela, a mulher foi trancada e controlada porque o homem não queria correr o risco de deixar a herança para o filho de outro. “As coisas só começaram a mudar a partir dos anos 60, com o advento da pílula anticoncepcional. A partir daí, o padrão ‘homem pode, mulher não’ foi corroído. Hoje, as mulheres têm tantas relações extraconjugais quanto os homens”.

Regina registra que, quando a fidelidade não é natural, o preço se torna muito alto e pode inviabilizar a própria relação. “Ninguém deveria se preocupar se o parceiro transa ou não com outra pessoa. Deveriam se preocupar em responder a duas perguntas: 1) Sinto-me amado (a)?; 2) Sinto-me desejado (a)?”.

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