Uma boa ideia na cabeça e o céu como limite: projetos ganham vulto na web e se tornam fonte de renda

Thais Oliveira
taoliveira@hojeemdia.com.br
24/02/2017 às 16:32.
Atualizado em 16/11/2021 às 00:42

De início, a ideia era compartilhar, seja conhecimento, reflexão ou arte. O público foi gostando e vieram, então, cadernos, ímãs, ecobags, almofadas, pôsteres, marcadores de livros. Tudo fruto de iniciativas como “Um Lambe Por Dia”, “Chão Que Eu Piso”, “Um Poema Por Dia” e “Serimaginário”. Atualmente, as ações, que ganharam vulto nas redes sociais, tornaram-se fonte de renda para os criadores e são indicativos de que não há crise quando sobra criatividade.

O escritor e produtor cultural Leonardo Beltrão, criador do “Um Lambe Por Dia”, conta que não tinha a menor pretensão de ganhar dinheiro com o projeto. No começo de 2015, ele colou os primeiros lambes em postes da cidade com o intuito de intervir no dia a dia da população por meio de versos poéticos como “era capaz de atravessar a cidade em bicicleta só para te ver dançar” ou “o segredo do coração é não saber mentir”.

Logo, ele mostrou o resultado na internet e aí a coisa ficou séria. “Meus amigos me propuseram um desafio: fazer um lambe diferente por dia”, recorda.

Meses depois, Leonardo resolveu inscrever a iniciativa na Virada Cultural de Belo Horizonte. Deu certo. “Fiz uma grande colagem, bem no centro de BH. Foi maravilhoso poder ter contato com as pessoas”. 

Com a exposição, veio a demanda. “Muita gente começou a me chamar para fazer murais para eventos”, afirma. 

Retorno imensurável

O passo seguinte foi a criação de ecobags para venda, que hoje soma 20 modelos. “Trata-se de uma linha de textos sobre signos, que ficou famosa. O Marcelo Freixo (deputado estadual do Rio de Janeiro) comprou uma (ecobag), a (atriz) Letícia Sabatella postou (nas redes sociais) os meus lambes. Meu trabalho teve repercussão e acabei vendendo para todos os estados brasileiros”, celebra Leonardo, que possui mais de 21 mil curtidas no Facebook e 21 mil seguidores no Instagram.

Com o sucesso, Leonardo apostou na diversidade dos produtos e, hoje, é possível adquirir também ímãs, adesivos e caixinhas com frases poéticas do projeto. “Mas o objetivo continua sendo espalhar a poesia”, frisa. 

“E o retorno é imensurável, não só financeiro, porque pega o coração. Chega gente me dizendo que aquilo é a cara dela ou que o poema foi feito para ela. É um prazer enorme para mim tocar as pessoas, tornar o ambiente da cidade mais leve, já que estamos num mundo tão caótico”, afirma o produtor cultural.Lucas Prates / N/AUM POEMA POR DIA – “Esse trabalho ajuda a completar a renda, mas não faço por isso. Escolhi fazer coisas nas quais acredito. É um negócio importante para mim, uma forma de me expressar”, diz Pedro Valentim

 Um Poema Por Dia

O arte educador e produtor cultural Pedro Valentim também resolveu exercitar a escrita na web. Em 2015, criou a página no Facebook “Um Poema Por Dia”, na qual reúne também outra grande paixão: a caligrafia urbana. “Esse trabalho tem muito a ver com minha história com a cultura hip-hop. Fiz também grafite durante um bom tempo. Sou muito interessado no picho, na tipografia”, explica.

Não por acaso, os poemas de Pedro têm a métrica e ritmo do hip-hop. “Os versos podem se encaixar em qualquer batida. Muitos poemas vieram de trechos que escrevi para música”. Assim como o movimento cultural, muitas poesias de Pedro propõem uma reflexão de cunho social ou político. Em um dos posts mais recentes, por exemplo, Pedro diz: “Geração avançada/Progresso nos plays/Retrocesso nas leis/Educação congelada”. 

“Os poemas são, de alguma forma, um reflexo daquele dia, algo que pensei ou um assunto que está muito em voga naquele momento”, explica.

Hoje, os versos de Pedro podem ser vistos também em cadernos, cadernetas, cartões, pôsteres, imãs e marcadores de página, feitos à mão e encontrados em feirinhas de artesanato, conforme divulgado na fanpage oficial da iniciativa. Renato Weil/Divulgação / N/ACRIATIVIDADE – Paola Carvalho e Raíssa Pena entre os charmosos caderninhos estampados da linha Chão que Eu Piso

 Inspiração para produtos diversos veio de pisos fotografados mundo afora

A jornalista e empresária Paola Carvalho sempre gostou muito de ir a museus e locais históricos. Porém, uma coisa sempre a incomodada nessas jornadas. “Via as pessoas fazendo selfie sem saber a história do lugar”, relata. Do incômodo, brotou, em 2013, a ideia de fotografar os pisos dos pontos visitados. As fotos eram postadas no Instagram pessoal dela, sempre com textos explicativos sobre o lugar. “Comecei a usar a tag ‘chaoqueeupiso’ e, quando vi, pessoas desconhecidas também estavam fazendo o mesmo”.

Atualmente, o perfil da iniciativa no Instagram reúne mais de 10 mil seguidores. Ao todo, a ação já recebeu mais de 10,5 mil fotos tiradas de diversos lugares do Brasil e do mundo e, em 2014, Paola convidou a designer Raissa Pena para participar do projeto. A dupla começou então a desenvolver produtos que remetessem as figuras dos pisos publicados nas redes sociais. 

“A demanda surgiu das próprias pessoas. Uma vez, por exemplo, uma seguidora pediu para que a gente fizesse a capa de um livro de receitas para presentear a avó dela no aniversário”, conta Paola.Raíssa Pena / N/ACHÃO QUE EU PISO - Ecobag é um dos produtos criados a partir da iniciativa

 Entre os produtos provenientes da ação estão ecobags, pôsteres e quadros bordados. No ano passado, após uma campanha de financiamento coletivo, o Chão Que Eu Piso ganhou também um livro. “Tínhamos a meta de conseguir R$ 42 mil e atingimos R$ 52 mil”, recorda.

O livro, intitulado de “Casa e Chão” traz a história de 37 casas de BH e seus pisos e pode ser comprado, assim como os produtos derivados, na Casa Leopoldina (rua Leopoldina, 357, Santo Antônio), no Guaja (av. Afonso Pena, 2881, Centro) e nas redes sociais do projeto. 

 Facebook/Reprodução / N/ASERIMAGINÁRIO - As máscaras da iniciativas estão é sucesso de venda nesse Carnaval


Casal dá vazão à imaginação e cria almofadas e máscaras

A união de Efe Godoy e Ana Clara Ligeiro não só tem rendido um romance, como também um meio de sustentação. Desde o fim de 2015, o casal tem transformado a criatividade em fonte de renda por meio do Serimaginário – uma coisa inventada “para espalhar um pouco de fofura, loucura, diversão e afeto pelo mundo”, como diz a descrição da fanpage do projeto. 

, artista plástico e músico

A ideia partiu dos desenhos que os dois faziam juntos. Do material, surgiram bonecos, almofadas e, mais recentemente, máscaras, que têm sido um sucesso nesse Carnaval. 

Apesar de várias imagens remeterem a animais, Godoy diz que não existe uma fórmula específica na hora de criar. “O conceito é para ser bem diluído. Pensamos em criar algo que não existe, mas que existe no pensamento. O que fazemos é dar forma a isso”, afirma.Facebook/Reprodução / N/ASERIMAGINÁRIO – Todas as peças são feitas à mão, portanto, são exclusivas

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