Uma garota muito destemida em meio à terra de gigantes

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
25/01/2016 às 08:02.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:09
 (Divulgação)

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A ideia ganhou fôlego a partir do sonho de fazer um filme com Pedro Almodóvar. “Em conversa com o diretor Felipe Kurc, meu amigo, veio a ideia de produzir uma websérie (“Fale com Veca”, nome inspirado no filme “Fale com Ela”) contando a minha trajetória, para chegar ao cineasta espanhol. Além disso, quero mostrar meu dia a dia e as barreiras que enfrento no mundo dos ‘gigantes’”, conta Verônica Ned, em fala que também revela o bom humor com o qual encara a vida.

A cantora e atriz, de 35 anos, é filha do mineiro (de Ubá) Nelson Ned (1947 – 2014). A websérie por ela citada tem como foco quebrar os paradigmas do nanismo, servindo como uma espécie de “diário virtual”. O projeto prevê dez episódios, trazendo relatos de como Veca enfrenta (e vence) o preconceito no seu dia a dia.

“Semana passada, na praça Roosevelt, por exemplo, um senhor me abordou querendo dar R$ 10, por que disse que tinha ficado com pena de mim”. Não, ela não ficou triste. “Apenas agradeci e, como fazia calor, aproveitei para comprar uma caipirinha. Pena que só R$ 10, né?”, diverte-se ela, lembrando que, numa hora dessas, a melhor saída é lidar com gentileza – e deixar que o preconceito fique com o outro.

“Existe, no mundo, gente de tudo quanto é jeito, e, como já dizia Shakespeare, o que vai diferenciar é o tamanho da alma. O preconceito existe – e é enorme. Está nas ruas, no trabalho, na balada, na internet. Mas, de uns tempos para cá, ser preconceituoso pega mal – e eu estou adorando. Porque o respeito cabe em qualquer lugar”, avisa.
 
Rir com o outro, não "do"
 
Instada a falar sobre a alegria que se destaca em sua persona, ela logo diz: “Vem do céu, né? É uma porção que recebi, e tão grande, que transborda. Me considero privilegiada”. Mais que isso, ela entende que tudo na vida tem um propósito. “E o meu é fazer o outro feliz. Sou dessas que acreditam que ninguém é feliz sozinho, ou pensando só em si. Então, em vez de rir do outro, vamos rir com o outro”, pontua, toda sábia.

Problema, pondera Veca, todos têm. “Meus pais se separaram muito cedo e fiquei meio perdida. Fui filha consignada, cada hora estava em um lugar! Uma hora na casa dos tios, ou dos avós, de professores, casa dos amiguinhos. Onde era para passar só um dia, eu ficava semanas! E como meu pai viajava oito meses por ano, quem tinha um tempinho disponível, acabava ficando comigo”, diz, sem mágoas.

Prova do bom astral é a referência a Almodóvar. “O modo como ele vê a vida – e coloca, nessa vida, os seus personagens – é algo maravilhoso, de uma verdade tão pura e, ao mesmo tempo, tão cruel na sua beleza, que fascina. É arte pura em seus textos nas suas cores e na sua direção”.

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