Uma mostra, dois olhares sobre a vida moderna

Clarissa Carvalhaes - Hoje em Dia
07/10/2014 às 08:14.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:30
 (BDMG/Divulgação)

(BDMG/Divulgação)

A solidão e o consumismo. O efêmero, o individualismo e a fragilidade das coisas. Todos estes temas foram escolhas individuais que, em algum momento, se cruzaram nos trabalhos das pintoras Renata Laguardia, 23 anos, e Virgínia Braccini, 58. Artistas que a partir desta quinta-feira expõe juntas na Galeria BDMG Cultural.

Inicialmente, as propostas artísticas foram enviadas para o programa Mostras BDMG como exposições individuais. No entanto, a curadoria do espaço considerou um diálogo significativo entre as obras – já que ambas tratam do cotidiano urbano.

A mostra, batizada “Dois Espaços” traz, de um lado, as paisagens repletas de interferências visuais de Virgínia. Uma pintura áspera, cinza e opaca – assim como é a sujeira das cidades urbanas. 

Diante do trabalho da artista, o espectador é convidado a ver cenários belo-horizontinos prejudicados pelo tempo e acomodados em um desordenado improviso.

É, portanto, do incômodo e da livre observação que nascem os oito quadros de Virgínia apresentados na mostra.

“Sempre que me propunha pintar uma paisagem, havia algo na frente dela: um muro, uma placa, um arame farpado, qualquer coisa que me impedia de ver e de construir a pureza da imagem”, recorda a artista.

“E eles estão aí, atravessando as estruturas, representando a melancolia da cidade. Talvez, mais do que isso. Essas interferências são barreiras que tratam da solidão no cotidiano urbano e da exclusão que implicam diretamente no nosso dia a dia”, comenta Virgínia.

GELADEIRA NOSSA

De semelhante observação silenciosa, Renata Laguardia assina sete pinturas espessas e com cores delicadas. Um trabalho leve com o poder de transportar o observador para um mundo que ele conhece muito bem.

“Certo dia abri minha geladeira e percebi um caráter estético dentro dela. Decidi começar a pintar as coisas que haviam ali. Primeiro, era só uma geladeira tradicional de classe média. Tinha Yakult, Danoninho. Depois, passei a ir na casa de amigos e pedir para ver suas geladeiras e, então, as fotografava. E isso é uma coisa muito íntima porque a gente não sai abrindo a geladeira das pessoas, assim, sem pedir licença”, brinca.

Da mesma observação e “invasão” do espaço alheio, Renata passou a enxergar outros paralelos – um estudo quase antropológico baseado exclusivamente na geladeira das pessoas.

“É curioso porque há tempos já não levamos mais para casa produtos de sobrevivência, saímos do padrão animal, somos bichos consumistas. E a partir desse olhar, pude incluir o oposto da conservação nas minhas geladeiras imaginárias. Objetos como retratos e vasos de plantas passaram a ser figuras presentes dentro delas também”. 

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