Filme argentino homenageia clássicos do horror e aborda passado de violência na américa latina

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
02/08/2021 às 08:59.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:34
 (Pandora/Divulgação)

(Pandora/Divulgação)

“O Diabo Branco” praticamente não tem efeitos especiais, algo bastante raro em relação às produções atuais no gênero terror. O filme argentino, com estreia nesta quinta-feira nos cinemas, aposta mais na fantasia e no suspense, sem perder de vista referências a obras icônicas como “Sexta-Feira 13”, “A Hora do Pesadelo” e “A Bruxa”. “Tendo a gostar mais do que a fantasia e o suspense geram para o terror do que o que é explícito ou da explicação desse terror. Quando ele é explicado ou a fonte do terror é mostrada diretamente, o mistério que lhe dá força se perde em grande parte, além de perder algo da fantasia, da imaginação do espectador”, defende o diretor Ignacio Rogers, em entrevista ao Hoje em Dia. Pandora/Divulgação / N/A

Combinação - história do diretor Ignácio Rogers aposta na fantasia e no suspense As limitações de orçamento também pesaram na balança. “Tive que escolher com muito cuidado cada efeito, movimento de câmara e cena, porque não tínhamos muitas possibilidades de repetir. Acho que essa forma de planejar e fazer favoreceu o filme, dando-lhe um caráter tenso, onde nada é supérfluo e há sempre uma ameaça constante, dramaticamente construída, que paira sobre os protagonistas”. Na história, um quarteto de amigos vai parar numa pousada à beira de um lago, quando um deles percebe que pessoas ensanguentadas rondam o lugar. “Originalmente, era a história de um curta sobre um casal que ia acampar, narrada quando estão num estado de meio sonhando/meio acordados. Aos poucos e quase sem perceber, ela se tornou um longa, com os sonhos virando pesadelos”, registra. 
A partir daí, o filme se assumiu como obra de terror, um gênero que sempre fascinou Rogers. “Aos cinco anos, passei das fitas infantis para as de terror, sem estágios intermediários. Acho que tudo aconteceu de forma muito natural graças à fantasia que o gênero desperta em mim. Talvez uma forma de destilar toda a escuridão e violência que percebo no mundo e em mim mesmo”, analisa.
Passado violento
O realizador afirma que é possível fazer uma leitura mais política e social de “O Diabo Branco”, especialmente quando terríveis fatos do passado são ocultados, quando não cultuados. “Acho que, especificamente na América Latina, embora pudesse ser falado da mesma forma na maior parte do mundo, andamos no chão e vivemos um presente cujo passado é violento”. 
Para Rogers, estamos diante de uma tragédia de alguma forma esquecida, mas que continua ativa e poderosa. “A terra está salpicada de sangue. No passado e no presente existem horror e violência. A ideia do filme é trazer isso à tona em uma situação muito banal e leve, fazendo-o sair com força. De certa forma, é dizer que a ferida da conquista do continente ainda está aberta, não curada”, explica.
Ele avalia que a produção de terror vive uma fase de crescimento na Argentina, só interrompida pela pandemia e pelos governos de direita. “Mas tenho esperança de que logo cresça novamente. O potencial é enorme, temos tudo a descobrir nesta área. No meu caso, pretendo continuar fazendo terror, entre outros gêneros”, avalia Rogers, que atualmente escreve roteiros para um thriller e duas séries de horror. Leia mais:
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