Versátil, Alexandre de Sena mostra seu talento como ator, produtor, DJ e programador visual

Vanessa Perroni - Do Hoje em Dia
19/02/2013 às 09:56.
Atualizado em 21/11/2021 às 01:08
 (Samuel Costa)

(Samuel Costa)

Versatilidade é uma das palavras que definem o rapaz inquieto, de voz mansa, olhar doce e ideais firmes. Atuante na cena cultural de BH desde a década de 90, o ator, produtor, DJ e programador visual Alexandre de Sena rouba a cena nos palcos e set list que embalam festas da cidade.

Formado em Artes Cênicas pela UFMG e pelo Centro de Formação Artística da Fundação Clóvis Salgado (Cefar) e com vários cursos livres de interpretação, Alexandre atua em grupos teatrais como Espanca! e Burlantins. Na música, se tornou DJ após tocar em muitas festas de amigos, e integra a banda Todos os Caetanos do Mundo, que deve lançar, ainda nesse semestre, o EP gravado no final de 2012 no Teatro Bradesco.

É difícil saber o que veio antes na vida de Alexandre, o teatro ou a música, mas as lembranças de infância sugerem um caminho. "Em casa meu pai cantava músicas sertanejas antigas e populares de uma forma muito delicada. Minha mãe tinha uma vitrola que batizou de Januária".

Assim ele foi apresentado aos vinis, logo vieram as fitas K7, as lambadas, Roberto Carlos e, mais tarde, os CDs. "Meu primeiro CD foi uma coletânea de Lulu Santos", lembra, acrescentando que a faixa predileta era "Samba dos Animais", de Jorge Mautner.

Trajetória

Nascido e criado no bairro Goiânia, região Nordeste da capital, em um família de oito irmãos, Alexandre começou a trabalhar aos 16 anos, na Rede Ferroviária Federal. Mas nunca deixou as artes de lado.

Com 12 anos já participava do grupo teatral de seu bairro, o "Movimento", e quando trabalhava de office boy em um jornal conheceu a diretora teatral Grace Passô. "Ela foi imprimir o texto de uma peça. Vi e comentei que fazia teatro. Ela me falou do curso do Palácio das Artes e fui tentar".

Entrou para o Cefar, conheceu muita gente. Depois entrou para a UFMG, participou e ainda participa de teatros de mobilização. Foi apresentado para o músico e ator Maurício Tizumba que o convidou para fazer o curso de tambor. "Com ele participei da fundação do grupo Tambor Mineiro onde dirigi alguns ensaios e dei aulas de tambor. Tizumba, Regina Spósito (que hoje assina Souza) e Amaury Vieira são alguns nomes responsáveis pela minha crescente participação na cena cultural".

Ele decidiu unir música e teatro e faz isso em um processo criativo que não finda. O resultado são trilhas sonoras para espetáculos como "O Último Vôo do Flamingo", que recebeu Prêmio Sinparc/2007 de melhor trilha.

Engajamento social resulta em festa, coletivo e performance

Envolvido com questões sociais, Alexandre de Sena vive em busca de formas para colaborar com o mundo. Dessa vontade ele criou o Radiola Picumãh, uma festa em que convida outros músicos para dialogar com o universo negro. "A ideia não é ser só uma festa, mas que haja um diálogo. Tanto que começou só com música, mas depois participaram atores, videomakers, editores de vídeo, fotógrafos".

O engajamento social deu início ao coletivo Paisagens Poéticas. "Trabalhamos com grupos sociais marginalizados. Queremos que as pessoas reflitam sobre a cidade e as diversas formas de habitá-la".

A performance "Tudo que Não Vaza É Pele" foi baseada em uma história real de preconceito vivida por Sena, em julho de 2011, em Blumenau (SC), quando participava do 24º Festival Internacional de Teatro Universitário (Fitub). O ator foi agredido em um posto de conveniência por policiais militares que o chamaram de "negão". "A agressão foi um disparador de várias coisas na minha vida, como pensar o Radiola de uma forma mais aguda e a construção de performances".

Projetos

Em 2012, esteve em cartaz com "Diário do Último Ano", "A Noite Devora Seus Filhos" e "Tudo que Não Vaza É Pele". Os projetos para este ano são muitos. "Vou estar no teatro com algumas peças, na banda, e pretendo enviar um projeto para o Festival de Arte Negra", adianta.

Sobre a cena cultural de Belo Horizonte, ele é enfático: "Hoje vejo as pessoas mais envolvidas, mas também vejo ações que jogam isso por terra, como um teatro municipal estar fechado. Isso não faz a cultura andar. Mas ao mesmo tempo tem gente vestindo a camisa e indo pra luta. É um momento de tensão".

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