Visita virtual do CCBB destacas práticas funerárias do Egito Antigo

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
28/12/2020 às 20:31.
Atualizado em 27/10/2021 às 05:25
 (CCBB/DIVULGAÇÃO)

(CCBB/DIVULGAÇÃO)

Para a arqueóloga e historiadora Cintia Gama, o frisson em torno de múmias é tão grande que, muitas vezes, acabam acentuando um aspecto mágico inexistente e deixando de lado o principal: o ser humano que foi coberto de natrão (cristais de sal), envolvido em faixas e depositado em sarcófagos durante o Egito Antigo.

“A gente exagera nas múmias. Todo mundo adora e, do século 19 até o início do século 20, as pessoas até participavam de encontros para se abrir múmias. Há uma mitificação em torno dela, especialmente devido ao cinema. Mas ela é um corpo, que passou por um processo de conservação”, analisa.

O mais importante, para Cintia, é o processo cultural de um povo, sendo a múmia um dos muitos aspectos interessantes presentes na exposição “Egito Antigo: Do Cotidiano à Eternidade”, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo e que estava prevista para a unidade de BH em setembro – cancelada devido à pandemia.

A partir desta ,terça (29), às 10h,as redes sociais do CCBB Educativo disponibilizarão uma visita virtual mediada pela arqueóloga. “A múmia é, no fundo, um corpo. Tem que hora que é preciso parar de ver com os olhos de Hollywood e enxergar ali uma pessoa que morreu como qualquer um de nós. Por isso é preciso tratá-la com respeito e não apenas como objeto de exposição”.

De Lyon, na França, onde passa o final de ano com familiares, Cintia assinala que a mostra é uma rara oportunidade para conhecer mais fundo a cultura do Egito Antigo. “O Brasil tem poucos artefatos, apesar de termos algumas coleções, sendo a maior dela no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, ainda que o local tenha sofrido um grande incêndio em 2018”, ressalta.

Ao todo, “Do Cotidiano à Eternidade” apresenta 140 peças, todas elas do Museu de Turim, na Itália, um dos mais importantes em egiptologia. A múmia é do corpo de uma mulher chamada Tararo, que pertencia à Dinastia Núbia, originária de onde hoje é conhecido como Sudão, na África.

Segundo a arqueóloga, trata-se de uma exposição muito bem montada, por ser abrangente, “indo desde a vida cotidiana ao post mortem, com artefatos faraônicos”. Os organizadores deram carta branca para Cintia se concentrar num tema e o escolhido foi a sala de religião e práticas funerárias, uma de suas especialidades.

Contramão
“Eu sempre gostei de trabalhar com esta questão de práticas funerárias. Comecei no mestrado, em que tive um orientador excelente, o Antonio Brancaglion Júnior, do Museu Nacional. Estudei as estafetas funerárias, conhecidas como shabits. Depois fui me interessando nisso e até meu pós-doutorado foi sobre esse assunto”, explica.

Cintia registra que há uma característica no post-mortem egípcio que lhe chamou a atenção: a busca em fazer uma cópia do mundo dos vivos. “Não é válido para todos os períodos, nem para todas as pessoas da sociedade, mas teve essa camada mais abastada que levou para o pós-vida artefatos relacionados ao cotidiano. A partir disso, você consegue imaginar, na contramão, como eles viviam”.

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