Vizinhos são a bola da vez no mercado internacional

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
08/11/2015 às 11:12.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:23
 (MSP/Divulgação)

(MSP/Divulgação)

SÃO PAULO – Na última hora, o técnico de som de “A Terra e a Sombra” foi improvisado como “dublê” de um dos protagonistas numa das cenas mais importantes do filme colombiano, ganhador do prêmio Camera d’Or do último Festival de Cannes.

O diretor César Augusto Acevedo, que acompanhou as exibições do filme na 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, encerrada na quarta (4), revela ao Hoje em
Dia que a troca não foi motivada pela precaução, para evitar algum acidente com o ator.

Embora a cena ocorresse em meio a um grande incêndio, filmado de forma real num canavial, o que levou o técnico a deitar numa maca e se passar por um personagem enfermo foi justamente a necessidade de aproveitar o fogo para a realização de um segundo take.

“E foi essa cena que ficou na edição final, mas o espectador não perceberá isso”, diverte-se Acevedo, ao comentar a ausência de efeitos especiais para a realização da sequência. “Ela tem um clima dramático muito forte, com o fogo representando o inferno e a renovação”, explica.

Sem a permissão dos donos de engenhos de açúcar, cenário de uma história familiar e social sobre a dificuldade de abandonar as origens e o aproveitamento de mão-de-obra barata, a produção arrendou algumas terras e construiu uma casa.

Espera

A sombra do título se refere à casa, que deve permanecer fechada para a fuligem das queimadas não invadir os seus cômodos e prejudicar a saúde do filho. “Na cena do incêndio, imaginamos que só teríamos uma tomada, mas foi possível fazer mais uma, só que o ator já tinha saído”.

A narrativa é lenta, reproduzindo o adiamento de uma decisão aparentemente simples: a necessidade de sair daquele lugar. O grande tema do filme é a espera. “É uma espera constante, de todos. Não só daqueles que estão na casa como dos donos de terra e do Estado, cujas soluções chegam tarde”, observa.

Para o diretor, o principal conflito de “A Terra e a Sombra” está na resistência das pessoas em permanecer numa terra que vale muito pouco, por “culpa” do progresso. Apesar da crítica à exploração do trabalho, o filme não carrega tom panfletário.

“Queria que o filme mostrasse a realidade, para poder senti-la e vê-la, como um diálogo, para compararmos os nossos problemas”, destaca. Lembra, porém, que esse tipo de temática não costuma atrair público no país, a exemplo do que acontece no Brasil.

Por sinal, só agora os espectadores estão percebendo o crescimento da produção cinematográfica colombiana. “Fizemos muitos filmes ruins no passado”, explica o diretor. A mudança só ocorreu devido ao investimento do Estado, há 15 anos.

“Com a lei de incentivo, pudemos nos profissionalizar, contar melhor as histórias. Antes tínhamos muitas falhas formais e técnicas. Naquela época, lançávamos um, dois filmes. Nesse ano vamos chegar a 60, o maior da história”, comemora.
 

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