Woody Allen: estreia de filme do diretor nova-iorquino é sempre um acontecimento

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
27/08/2015 às 07:50.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:31
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

É Deus no céu e Woody Allen na Terra. Os fãs do diretor nova-iorquino não precisam ser religiosos (até porque Allen não acredita em vida após a morte e já fez ótimas piadas sobre suas origens judaicas), mas o tom fervoroso como defendem o realizador de “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” e “Blue Jasmine”, entre outros tantos títulos, não deixa dúvidas sobre a expectativa gerada a cada filme com a sua assinatura que chega aos cinemas.   Apesar de as bilheterias de seus longas – no Brasil ou em qualquer outra parte do mundo – não fazerem cócegas em blockbusters como “O Senhor dos Anéis” e “Os Vingadores”, a estreia é sempre um acontecimento. Prova disso é que, em razão do lançamento de “Homem Irracional”, aquela velha frase “um Allen mediano é ainda melhor do que qualquer outro filme” já vem sendo proferida.   É uma espécie de escudo contra aqueles que, do outro lado da corrente, acham as histórias do cineasta de quase 80 anos (a data redonda será comemorada em 1º de dezembro) muito chatas. Jordana Menezes recorre a esse adjetivo ao falar, em forma de brincadeira, da exibição do Cine Garagem, no bar da Benfeitoria, que ontem iria “comemorar” a estreia do novo Allen com um de seus antigos trabalhos.   Em torno da pipoquinha   No facebook da Benfeitoria, os organizadores conclamavam os frequentadores a “comer uma pipoquinha e nos reunir para falar mal desse grande camarada”. Com um público formado basicamente por jovens, o ponto de vista, obviamente, é dessa faixa etária. Mas, mão à palmatória, essa visão também já vem mudando. “Nos seus últimos filmes, ele vem abordando temáticas mais atuais, o que acaba atraindo mais gente”, observa Jordana.   “Filme cabeça”   Também integrante da Benfeitoria, coletivo que ocupa um galpão da Rua Sapucaí, no bairro Floresta, João Andere estabelece um marco na carreira de Allen: “Match Point”, exibido em 2005. “Muita gente não gostava de Allen, por achar que ele fazia ‘filmes cabeça’, em que você levava cinco minutos para entender a piada, mas, a partir de ‘Match Point’, ele passou a ter contato com esse público mais jovem”, salienta João.   Élcio Antunes de Melo, proprietário da locadora BH Vídeo, enxerga um Allen mais “solto” de uma década para cá. “Os filmes dele estão ficando mais bonitos, não se limitando mais às frases inteligentes e ácidas. Woody Allen está menos rabugento”, analisa. Os mais jovens, segundo ele, passaram a ter curiosidade sobre tudo o que realizador fez antes, desde o final da década de 60.   “Geralmente indico um dos primeiros filmes dele, ‘Um Assaltante Bem Trapalhão’, e falo que não precisam pagar se não gostarem – o que nunca aconteceu”, revela. Élcio tem uma seção inteira dedicada ao mestre do humor e, na época que os cinemas recebem um filme inédito, percebe um efeito em cadeia, aumentando a procura por sua obra na locadora. “Quando gostam, há uma tendência a acompanhar a trajetória da pessoa”.   O cinéfilo Bob Tostes é um dos que cultuam Allen   O músico e radialista Bob Tostes já um é velho conhecido da filmografia de Allen. Tomou contato com “Manhattan” (1979) e de lá para cá só aumentou a constatação de que o diretor é um dos raros casos que nadam contra a corrente da obviedade no cinema americano. Com o tempo, passou a admirar principalmente as trilhas, com standards do jazz que marcaram a infância de Allen.   Fã das produções musicais dos anos 40 e 50, ele cita como um dos seus momentos antológicos a cena final de “Todos Dizem Eu Te Amo” (1996), que homenageia “Sinfonia de Paris” (1951), com Gene Kelly e Leslie Caron. “Woody está com Goldie Hawn, dançando próximo ao rio Sena, quando ela começa surpreendentemente a levitar”, registra.   Jam session   A cada revisão, Bob descobre mais elementos. “Com a vivência, nossos conhecimentos se ampliam e passamos a focar outros detalhes e mensagens”, salienta ele, que chegou a ver Allen nos palcos, com o seu bongô, durante uma das jam sessions que participava, às segundas, numa casa noturna de NY. “Isso, nos anos 80. Vi de longe, pois o lugar estava lotado”.   Essa predileção levou o diretor Marcus Nascimento a fazer uma referência a “Meia-noite em Paris” (2011) no roteiro de “Não é Cinema”, ainda não filmado, usando os mesmos diálogos do instante em que Owen Wilson dialoga com uma moça (a francesa Lea Seydoux, hoje badaladíssima) que acabara de conhecer numa barraquinha de discos, caminhando nas margens Sena. “No lugar do escritor, mostramos um diretor que também tenta se consolidar em sua profissão”, adianta.   Sem Woody Allen no elenco, o filme “Homem Irracional” acompanha um professor de filosofia em crise existencial (Joaquin Phoenix) que desperta o fascínio de uma de suas alunas (Emma Stone)

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