Yara de Novaes e Débora Falabella se reencontram em “Contrações”

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
11/04/2014 às 07:37.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:04
 (João Caldas)

(João Caldas)

Amigas nos bons e maus momentos. Daquelas de “sair para jantar e deixar chorar no ombro”, define Yara de Novaes, ao falar sobre a parceria com Débora Falabella, versão mineira da dobradinha entre as cariocas Andréa Beltrão e Marieta Severo ao compartilharem uma afinidade que, a despeito da diferença etária, transita com invejável força dentro e fora dos palcos.

O segredo dessa união está na “consanguinidade teatral”, como destaca Yara, mas também na forma como dividem suas aspirações em relação à profissão. Fundadoras do Grupo 3 de Teatro, ao lado do produtor Gabriel Paiva, elas encenam, a partir de hoje, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), um exemplo claro de como os seus projetos estão cada vez mais “antropofágicos, com uma nutrindo a outra”, de tão “geminadas” que estão.

Quarto trabalho da companhia, “Contrações” marca um esperado encontro de Débora e Yara em cena, algo que não acontecia desde “O Continente Negro”, apresentado em 2007. “Mas, nesse espetáculo, no máximo passávamos uma pela outra, sem trocar diálogos. Temos uma identidade profissional muito grande e esperávamos encontrar um texto em que pudéssemos trabalhar juntas”.

Foi o diretor de cinema Rafael Conde (do longa-metragem “Fronteira”) quem apresentou o texto de Mike Bartlett para a dupla. Em Nova York, durante curso de doutorado, o realizador mineiro se apaixonou pela peça “Cock” e fez muitas recomendações. “Quando lemos, percebemos que não oferecia exatamente o que queríamos e fomos atrás de outras obras dele”, recorda Yara.
 
Jogo de poder que pauta as relações
 
Não pensem que a escolha de Débora Falabella e Yara de Novaes recaiu sobre um texto que contemplasse o valor da amizade – as duas se conhecem desde 1996, quando contracenaram juntas na peça infantil “The Adams”, adaptado por Edmundo de Novaes Gomes, irmão de Yara.

Em “Contrações”, a dupla vive uma relação nociva entre patrão e empregado, reflexo do jogo de poder que costuma pautar o mundo dos negócios. “Não se resume apenas ao capitalismo, pois até no teatro há uma subjugação a partir do diretor, mas aqui as benesses são outras”, registra Yara.

Ela interpreta uma autoritária gerente que faz da eficiente Emma (Débora) um exemplo para a implantação de norma que proíbe aos funcionários qualquer relação sentimental ou sexual com outro empregado da empresa. O preço para Emma permanecer no seu cargo é a perda da liberdade.
 
Submissão

“Essa lógica capitalista já está introjetada nas pessoas. Para você ter um mundo de coisas, como produtos de marcas e viagens, aceita estabelecer uma relação escravagista. E para se ter grana para comprar, acaba se vendendo”, observa Yara, que comprovou essa submissão em cursos para executivos.

“É surpreendente a quantidade de gerentes que faz o curso como forma de mudar o ponto de vista e se tornar mais aberto. Notei que as viagens para países exóticos são uma forma de diversão deles. E como são caras, mais dinheiro precisam ganhar. Esse é um dos aspectos que a peça trata”, reflete.

A atriz de 47 anos destaca que até mesmo a felicidade passou a ser “terceirizada”, bem como a criação dos filhos. “E quando querem mostrar que estão em busca de uma melhora como seres humanos, entram em aulas de ioga especiais e caras, e colocam os filhos em mil cursos e terapias. Tenho um aluno de 19 anos que não sai do divã há 15 anos”, exemplifica.

Professora na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e com residência fixa em São Paulo, Yara destaca que o Grupo 3 de Teatro é um espaço de pesquisa e que a escolha do repertório obedece a certas prerrogativas. Uma delas é o “pé” na literatura. “Formei em Letras e a literatura é muito presente na minha família”, explica.

É por isso que ela revela um grande apreço pelo texto teatral, pela sua capacidade de significações. “Outro motor é a necessidade de urgência, de que aquele texto precisa ser montado. Sobretudo, a possibilidade de prospecção teatral, que vai da sonoridade à visualidade”, resume.

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