(Wesley Rodrigues/Hoje em Dia)
Depois de adotar medidas de fomento ao mercado imobiliário no começo do mês, a Caixa deu um passo para trás.
Desde ontem, quem tenta fechar negócio com a instituição utilizando linhas de crédito que usam recursos da poupança (SBPE) precisa desembolsar mais. Os juros chegaram a aumentar até 1,3 ponto percentual ao ano.
Na prática, um cliente que deseja financiar R$ 300 mil e tem relacionamento com a Caixa, incluindo depósito do salário no banco, vai pagar R$ 210,65 a mais na prestação, que com a taxa anterior seria de R$ 2.439,82, e R$ 75.834 ao final de um contrato de 360 meses.
Neste caso, os juros saltaram de 9,50% para 10,50%. Como consequência, o valor final a ser pago ao banco passa de R$ 878.335,20 para R$ 954.169,20, segundo levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Financiamentos feitos com FGTS e o programa “Minha Casa, Minha Vida” não serão afetados. Segundo a Caixa, o aumento nos juros é “decorrente de alinhamento ao atual cenário econômico”.
O último reajuste do banco foi em outubro do ano passado. Naquela época, a instituição financeira atribuiu a elevação à Selic, que estabilizou em 14,75% em julho, após sete altas seguidas.
Resgates na poupança
Dessa vez, a queda no saldo da poupança pode ser um dos motivos da elevação dos juros. Em um ano, mais de R$ 12 bilhões foram retirados da poupança, que mantém os empréstimos.
Na avaliação do presidente da Comissão de Direitos Imobiliários da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG), Kênio de Souza Pereira, a fuga da poupança é reflexo de um melhor cenário para os fundos de investimentos, que têm rendido 11% ao ano.
“A poupança rende menos, cerca de 7,5%. Por isso, mesmo os investidores mais conservadores têm mudado a carteira. Como há menos dinheiro para emprestar, a Caixa restringe aumentando os juros”, explica.
Quadro geral prejudica
O cenário econômico adverso, caracterizado pela alta da inflação, que corrói a renda do consumidor, também contribui para o aumento das retiradas da caderneta.
Outro fator macroeconômico que pode ter reflexos no mercado imobiliário no médio prazo é o desemprego.
Com o aumento das demissões, haverá retiradas do FGTS. “Se os recursos do FGTS forem reduzidos, pode haver aumento dos juros desse tipo de financiamento no futuro”, diz o especialista.
Concorrência
O vice-presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-MG), Pedro Paulo Pettersen, afirma que o aumento dos juros pode ser uma forma de alcançar as taxas de outros bancos, normalmente mais altas.
Há, ainda, a possibilidade de a Caixa, por deter quase 70% dos financiamentos, puxar os juros dos bancos privados para cima.
“Como o mercado não está aquecido, é um pouco difícil que isso aconteça agora”, avalia.
Os bancos concorrentes negam uma elevação de juros. “Por enquanto, nada muda na estratégia do banco”, disse, por meio de nota, o Itaú-Unibanco.
“Não houve realinhamento das taxas praticadas pelo Banco do Brasil.
O BB monitora constantemente os movimentos do mercado e procura sempre oferecer as melhores condições possíveis aos seus clientes”, afirmou a assessoria de imprensa do BB.
O Bradesco garantiu que “as taxas permanecem as mesmas”. Segundo o Santander, não há definição quanto a algum aumento nas taxas atuais.Editoria de arte / N/A