O apelo à emoção e a Deus no último programa eleitoral na TV não será suficiente para encobrir o ódio que separam os dois duelistas e seus aliados na campanha pela Prefeitura de Belo Horizonte. Nunca antes na história dessa cidade uma disputa desceu tanto o nível em agressão e baixaria. Chegam ao final dessa campanha espantando o eleitor no momento em que ele estava mais descrente, e a democracia sequer foi convidada para a disputa.
Vamos para as urnas amanhã sem discutir e sem avançar, um milímetro sequer, nas soluções dos graves problemas de BH, em especial na saúde, segurança e mobilidade urbana. Em vez disso, os 11 candidatos do primeiro turno e os dois do segundo travaram confrontos pessoais, que nada contribuem para o exercício da democracia e afirmação da política, que tantas vezes é maltratada pelos políticos, como dessa vez. Nivelaram todos por baixo, como a justificar o que repeti aqui, no dia 9 de outubro, que a escolha e que o voto responsável, aquele diante da urna, seriam pelo “menos pior”.
A briga figadal, como as outras, expõe muito mais a disputa pelo poder, algo que é mais amplo do que nossa ingênua objetividade pode alcançar. O eleito, resultado do confronto entre João Leite (PSDB) e Alexandre Kalil (PHS), vai administrar a terceira cidade do país, com 2,5 milhões de habitantes e outros 2,5 milhões no entorno da Grande BH e um orçamento de R$ 11,5 bilhões. Isso já não é pouco, mas tem mais gente envolvida e brigando por trás dos dois finalistas.
Jogo de perde e ganha
Por exemplo, o governador Fernando Pimentel (PT) e o senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, colocaram na cabeça que o futuro político de ambos (2018) está sendo definido nessa disputa municipal. O resultado de amanhã afeta, sim, do ponto de vista político, mais ao tucano do que ao petista. Pimentel não está diretamente na disputa; seu candidato, ou de seu partido, não foram aprovados na eleição, perdendo protagonismo em ambos os turnos eleitorais. Tudo somado, já está perdido, mas poderia ainda obter uma pequena e saborosa vitória com a derrota do adversário.
Aécio tem mais a perder, porque está na disputa com candidato de seu partido e acabou por colocar a cara na reta final, o que, aliás, foi um erro de Kalil. Estava vencendo João Leite e quis derrotar mais gente, ao chamar pra briga Aécio, Antônio Anastasia (senador tucano) e outros. Resultado, Kalil conseguiu unir os tucanos e seus aliados em torno de João Leite, colocando Aécio na campanha de João Leite. Fizeram lá outros despachos e misturaram, juntos, no mesmo barco, evangélicos, cruzeirenses, além de tachar o rival de mau patrão, sonegador, mau gestor, entre outros.
Agora, Aécio, que sempre fez corpo mole com João Leite, não quer que esse barco afunde, para que seu futuro não siga junto. Pimentel ficou distante, mas poderá ser atingido, porque a vitória fortalece o inimigo tucano no momento em que a Assembleia Legislativa se prepara para o terceiro turno, votando até o dia 23 de novembro seu futuro político.
Mais do que a política, Aécio e Pimentel têm mais problemas com a Justiça, onde terão que responder por denúncias nas operações Lava Jato e Acrônimo.