No jargão dos economistas, quando se está convencido de que algo irá ocorrer (em geral, algo negativo), diz-se que “está contratado” ou “está precificado”. Muito bem, acredito que podemos dizer isso sobre o caos que está sendo instalado pelo governo do deputado Jair Bolsonaro que ainda está por ser iniciado.
Nunca se viu nada igual. Ainda falta mais de um mês para o governo começar e o que se vê é uma confusão generalizada. Decisões estapafúrdias de um lado, conflito entre diferentes alas do futuro governo de outros.
Eu já havia falado em uma coluna anterior sobre o quão absurda seria a decisão de mudar a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. A escolha do nome do novo chanceler parece indicar que essa ideia infeliz será levada adiante. Causará um enorme prejuízo econômico para o Brasil, em particular para o agronegócio. Perderemos importantes mercados conquistados no mundo árabe e, principalmente, mulçumano. Ao mesmo tempo, não vejo o que teremos a ganhar, visto que Israel jamais condicionou seus negócios com Brasil à mudança de nossa embaixada.
Todavia, diante do que veio depois, essa questão da embaixada em Isael se tornou menor. A saída dos médicos cubanos sem um plano alternativo já pronto para ser implementado gerará um desastre na saúde pública nas comunidades mais carentes do país. Se o deputado Bolsonaro não estivesse impondo posturas tão ideológicas a algumas áreas do seu futuro governo, teria negociado uma saída organizada dos médicos cubanos.
O SUS já está numa situação periclitante, principalmente após a aprovação da chamada “PEC da morte”. A saída repentina dos mais de oito mil médicos cubanos só piorará muito as coisas. Numa área que é considerada pelos brasileiros de modo geral a mais importante e problemática do país.
Li na mídia tradicional que está em estudo um Projeto de Lei para criar no Brasil algo que já existe em outros países, em particular da América Latina, qual seja, o serviço civil obrigatório para médicos recém-formados. É uma boa medida e que pode ser implementada com certa brevidade. Todavia, não conseguirá substituir a contento os médicos cubanos, que são reconhecidos mundialmente por sua excelência na atenção primária (vale a pena ler, entre outros, o editorial do New York Times de 19 de outubro de 2014, sobre o impacto que os profissionais cubanos tiveram na solução da epidemia de ebola na África Ocidental). De qualquer forma, essa solução levará alguns meses para ser posta em prática. Até lá, o caos está contratado!
P.S.: O presidente eleito prometeu na campanha que formaria um ministério com técnicos de alto nível, sem políticos suspeitos de corrupção. Com poucas exceções, infelizmente, é o inverso do que estamos vendo nos nomes anunciados até aqui.