Carros seminovos valorizaram mais que investimentos como CDB e ações na Bolsa

André Santos
andre.vieira@hojeemdia.com.br
15/10/2021 às 19:33.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:04
 (Fernando Michel)

(Fernando Michel)

O aumento da procura por carros seminovos e a oferta que não consegue suprir o mercado transformou o que sempre foi um bem de consumo em uma espécie de novo ativo de investimento. É o que aponta uma pesquisa realizada pelo site especializado Mobiauto, tendo como base a evolução dos preços de 555 automóveis modelo 2021 de 13 marcas que atuam no Brasil. O levantamento mostra uma valorização média de 16,41% entre janeiro e agosto deste ano, índice bem superior a muitos investimentos tradicionais, como CDI, Tesouro e até mesmo algumas ações da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).

Para se ter uma noção, nesse mesmo período – já descontado a inflação oficial –. o CDI (Certificado de Depósito Interbancário), principal responsável pelos CDBs (Certificados de Depósito Bancário), por exemplo, acumulou alta de 1,83%. Outros investimentos, como o Tesouro IPCA+ com vencimento em 2026 e o Tesouro Prefixado 2023, chegaram a uma rentabilidade de 2,12% e 4,15%, respectivamente. E quem apostou suas fichas no mercado de ações viu o índice Ibovespa apresentar alta de 1,83%.

A disparada nos preços é justificada pela alta demanda de consumidores por automóveis, aliada às dificuldades de produção de veículos novos pela indústria automobilística, que vem enfrentando dificuldades para encontrar insumos como semicondutores, por exemplo. Segundo Reinaldo Lacerda, gestor do Fundo de Investimento Imobiliário Vereda e proprietário do Portal Auto Shopping, em Belo Horizonte, a rentabilidade dos veículos seminovos se dá por um momento de anormalidade das cadeias produtivas. “Tivemos uma descontinuidade das cadeias produtivas que causou este boom. O fato é que estamos no ápice deste processo de valorização, que deve seguir para uma estabilização de preços em 2022, com a normalização da produção”, explica Reinaldo.

Vendas

Com listas de espera por um zero quilômetro que chegam a até sete meses, o mercado de seminovos vive um momento de explosão de vendas. De acordo com a Federação Nacional das Associações de Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), o crescimento nas vendas foi de 55% em 2021 em comparação com o ano passado. Somente em Minas Gerais foram 161.151 unidades vendidas em setembro. No acumulado do ano a alta é de 26,6% em comparação a 2020. Para Glênio Júnior, presidente da Associação dos Revendedores de Veículos Usados de Minas Gerais (Assovemg), as vendas devem continuar em alta pelos próximos meses. “Ainda vamos seguir este boom até o fim do primeiro semestre do ano que vem. Até quando isso perdurar, não sabemos o que vai acontecer em termos de aumento de preços, mas, em relação a procura, esta deve permanecer em alta”, acredita o dirigente. 

Lucratividade

A maior procura por seminovos e a menor oferta de veículos no mercado têm feito com que revendedores tenham que diminuir sensivelmente as margens de lucro para permanecer competitivos no mercado. Segundo a Associação dos Revendedores de Veículos Usados de Minas Gerais (Assovemg), antes da pandemia da Covid-19, a margem chega a 15% e, hoje, não ultrapassa os 7% do valor total de revenda do veículo. 

Com margens menores, muitos revendedores estão fazendo um pente fino na hora de comprar carros, para diminuir os custos de preparação para revenda. “A nossa engrenagem de negócio está muito baseada na venda dos novos. Sempre falo que o zero tem que estar rodando para o nosso negócio funcionar porque, no momento da compra do zero, fica um seminovo na concessionária. Sem isso, é cada vez mais difícil  encontrar este carro mais atrativo para vender”, explica Marlon Vieira, dono de uma concessionária no bairro Padre Eustáquio e conselheiro fiscal da Assovemg.
Pelo lado dos consumidores, a maior dificuldade está em conseguir comprar um veículo que encaixe nas condições financeiras atuais. O autônomo Jean Correia, de 37 anos, está em busca de trocar de veículo, mas os altos preços tem feito a escolha ser adiada. “Está tudo muito caro e as opções não são as melhores. Quero trocar o carro, mas não sei se o momento é melhor, mesmo sabendo que vai ter valorização”, afirma Jean.

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