Crise econômica sobe os morros das cidades históricas mineiras

Giulia Mendes
gandrade@hojeemdia.com.br
24/03/2016 às 17:03.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:37
 (Flávio Tavares/Hoje em Dia)

(Flávio Tavares/Hoje em Dia)

As cidades históricas de Minas Gerais, que têm no turismo uma das principais fontes de renda, viram a crise econômica subir as ladeiras no ano passado. E com base nos três primeiros meses deste ano, empresários esperam um impacto ainda maior ao longo de 2016.

Para atrair os visitantes, pousadas e hotéis de Diamantina, Mariana, Ouro Preto, São João del-Rei e Tiradentes, que sofrem com a recessão, já reduziram os valores das diárias, inclusive para a Semana Santa, que historicamente é uma data de grande movimento e faturamento para o setor e o comércio.

Em Ouro Preto, na região Central do Estado, a ocupação caiu entre 30 e 35%, em janeiro e fevereiro deste ano, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Minas Gerais (Abih-MG), na comparação com o ano passado. No Carnaval de 2016, a queda foi de 70%.

César Trópia, proprietário da Mezanino, que fica a 70 metros da Praça Tiradentes, em Ouro Preto, conta que nunca havia passado por crise como esta. Na pousada dele, a diária para duas pessoas caiu de R$ 195, no fim do ano passado, para R$ 160 este ano. “Minha expectativa era passar a tarifa para R$ 200, mas ultimamente tenho abaixado cada vez mais”.

Para Trópia, outra dificuldade é manter o fluxo de caixa. “Os hóspedes não fazem mais reservas com antecedência, só em cima da hora. E pedem para parcelar mais vezes. No ano passado, a essa altura, eles já teriam quitado a reserva para a Semana Santa, antes mesmo do Carnaval”, lamentou.Ricardo Bastos/Hoje em Dia/10-8-2014 / N/A

Ocupação nos hotéis de Ouro Preto caiu cerca de 30% nos dois primeiros meses do ano

Barragem

Hotéis e pousadas da vizinha Mariana também registraram queda de 50% na ocupação. Além da crise, o turismo foi afetado pelo rompimento da barragem da Samarco, localizada no distrito de Bento Rodrigues, em novembro de 2015.

“É uma série de fatores negativos. A redução da diária média vem afetando, sim, o equilíbrio dos empreendimentos. Mas agora não acreditamos que seja o momento certo para aumentar o preço das diárias”, recomenda a presidente da Abih-MG, Patrícia Coutinho.

Segundo o presidente do Sindicato dos Empregados em Turismo e Hospitalidade de Ouro Preto e Região, Octaviano Mendes, muitos turistas cancelaram a visita a Ouro Preto com medo de uma nova “catástrofe” com barragens de rejeitos de mineração.

“Quem nunca visitou acha que região toda corre perigo por estar próximo a Mariana. Conheço pessoas que viriam para a Semana Santa e para o tradicional Festival de Inverno, mas desistiram por causa do ocorrido no ano passado em Bento Rodrigues. A cidade de Congonhas também está na mesma situação”, disse.

Epidemia também tira turistas dos municípios mineiros

A epidemia de zika, chikungunya e dengue no país é mais um motivo para espantar os visitantes, especialmente estrangeiros, argumenta o vice-presidente da Associação Empresarial e Comercial de Ouro Preto, Raimundo Saraiva, que também é proprietário do hotel Luxor e da pousada Minas Gerais.

“Com a alta do dólar, era de se esperar que mais turistas estrangeiros visitassem a região. Em vez disso, percebemos uma queda. Nossa expectativa é a de que o movimento volte com a temporada de eventos, em meados de 2016”.

Em outro roteiro tradicional de Minas, Tiradentes, na região do Campo das Vertentes, a queda na ocupação foi de 30% em relação a 2015. “Tiradentes costuma ter uma ocupação muito boa por causa da questão cultural, da gastronomia, dos eventos, mas, mesmo assim, os empresários sentiram a queda. Cada hotel tem uma especificidade de público. Alguns não sentiram o impacto da recessão econômica porque o público deles não está em crise”, explicou a presidente da Abih-MG, Patrícia Coutinho.

Não é o caso do proprietário da pousada Encantos de Minas, Geraldo Fonseca, que precisou dispensar dois funcionários este ano. Agora, só trabalham ele e mais uma pessoa.

“Normalmente, nesta época do ano, estaria com todas as reservas preenchidas e já indicando outras pousadas. Mas estou apenas com 50% da ocupação para o feriado. Aos finais de semana, recebo no máximo dois hóspedes. Nem as promoções em sites de compra coletiva estão tendo saída”, contou.

“Enquanto isso, os custos com lavanderia, energia e fornecedores continuam subindo”, completou Fonseca.

Confiança

Já Lourenço Gontijo, proprietário da Oratório Pousada Boutique, também em Tiradentes, manteve o tarifário do ano passado – R$ 765 o fim de semana – porque sentiu uma pequena queda no movimento.

Contudo, durante o feriado de Páscoa ele estará com a casa cheia e não espera que os impactos da recessão em seu negócio sejam grandes em 2016.

“As cidades históricas estão sentindo a crise, pois as pessoas estão viajando menos. Mas, talvez, pousadas menores estejam sendo mais impactadas. Para mim, o movimento mais forte começa agora, a partir do fim de março. Estou confiante”.Flávio Tavares/Hoje em Dia / N/A

Pousadas menores são as que mais sofrem com a crise financeira em Tiradentes

Menos confortáveis, hostels e repúblicas são opções baratas

O setor hoteleiro sofre com a concorrência dos hostels e repúblicas, onde muitos jovens, grupos de amigos ou famílias preferem se hospedar por causa do preço. Eles não se importam em compartilhar o mesmo quarto nem de abrir mão de um café da manhã mais caprichado.

“Realmente no hostel o valor da estadia sai bem mais barato. Grandes redes de hoteis como a Hilton e a Accor estão apostando em hostels agora. É uma tendência. O compartilhamento está na moda”, afirma Patrícia Coutinho, presidente da Abih-MG.

Em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, e Ouro Preto as repúblicas conseguem abocanhar boa parte dos turistas que buscam diversão durante o Carnaval. Mas fora desta época também há quem prefira gastar menos e dividir o espaço até com desconhecidos.

“Famílias inteiras ou grupos de amigos que vêm para Ouro Preto para formaturas ou festivais costumam procurar repúblicas e hostels, pois não se importam em dividir o quarto. É um público diferente”, disse César Trópia, da pousada Mezanino.

Ele conta que já adaptou a pousada para um desses grupos para não perder as estadias. “Uma família de 30 pessoas procurou minha pousada e abaixei o preço. Cobrei R$ 50 por pessoa com um café da manhã bem simples”.

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