Crise leva metade dos belo-horizontinos a deixar de pagar alguma conta em dia

Bruno Moreno
bmoreno@hojeemdia.com.br
27/06/2016 às 19:52.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:05

Na casa da vendedora Cláudia Martins, 38 anos, fechar as contas do mês tem sido uma tarefa difícil, e não raro uma ou outra fatura fica para depois. Em tempos de recessão econômica, ela não é um caso isolado. Junto a ela está praticamente a metade (48,7%) da população da capital mineira, de acordo com pesquisa da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio), divulgada ontem.

O número é expressivo, já que em novembro de 2015, na última pesquisa realizada, o percentual de pessoas que deixavam de pagar alguma conta do mês era de apenas 5%.

De acordo com a analista da Fecomércio, Elisa Castro da Mata Ferreira, a diminuição da renda das famílias e a inflação levam à falta de planejamento e à inadimplência.

“Por isso, precisam recorrer a recurso financeiro para poder terminar de cumprir os gastos básicos”, avalia. A pesquisa começou a ser feita em 2013 e, segundo Elisa, nunca houve uma variação tão significativa.

O índice de pessoas que admitem recorrer ao financiamento para cobrir os gastos mensais saltou de 2,1% (novembro) para 42,1% (junho) .

A expectativa de Elisa Castro é a de que apenas em junho de 2017 os números devam retornar aos patamares verificados anteriormente.

Cláudia Martins trabalhou por muitos anos como vendedora em lojas de roupas na Savassi. Com o fechamento de vários estabelecimentos e também após o nascimento do filho, há 11 meses, ela não conseguiu voltar para o mercado formal de trabalho.


Por isso, decidiu vender paçoca e amendoim com leite condensado. A renda ajuda a arcar com as contas da casa e, às vezes, alguma compra do supermercado.

“Mas quando aperta mesmo, deixo de pagar a luz e até o condomínio”, lamenta. No entanto, apesar da dificuldade, ela não recorre a empréstimos, e também corta tudo o que não é básico.

 Lucas Prates/Hoje em Dia 

Cláudia - Aperto para pagar despesas mensais

Lazer e Poupança

A pesquisa da Fecomércio também indicou que o morador da capital mineira tem destinado o dinheiro que sobra do orçamento mensal ao lazer (27,6%) e à poupança (26,1%).

No entanto, Elisa Castro enfatiza que normalmente a população poupa mais do que gasta com diversão, mas a renda está tão baixa que a opção de guardar dinheiro está perdendo espaço.

Trabalhar mais e gastar menos, estratégias para conseguir honrar os compromissos

Uma das medidas adotadas pelos belo-horizontinos para conseguir honrar as contas em dia é trabalhar um pouco mais. E é justamente isso o que faz o taxista Sander Alves, 56 anos.“Prefiro não atrasar o cartão, porque tem os juros mais altos de todos. Mas quando vejo que vai ficar apertado para pagar tudo, trabalho ainda mais aos finais de semana”, revela Sander.

A prática é adotada por 3,3% dos moradores da capital que responderam à pesquisa da Fecomércio.

O restante da população corta gastos com supérfluos, ou deixam de pagar alguma prestação, dentre outras ações. No entanto, Sander só consegue gerar mais renda porque é dono do carro. “Trabalho há 20 anos como taxista, e só há quatro anos sou proprietário”, revela.

Dívida

Já o estudante de Ciências Aeronáuticas Fernando Alexandre, 26 anos, tem uma dívida de R$ 2,3 mil com uma operadora de telefonia celular, e está tentando renegociar.


O valor é resultado de uma série de atrasos ao longo dos últimos anos. Natural de Cuiabá (MT), ele mora em Belo Horizonte há um ano e meio, e depende da ajuda dos pais.


Nesse período, o dinheiro enviado por eles não teve reajuste, porque a situação em casa também não está fácil. Por isso, Fernando teve que priorizar as contas essenciais, como a mensalidade da faculdade, moradia, alimentação e transporte.
 

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