Cura integrada: médicos se rendem à medicina integrativa para potencializar tratamentos

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
11/05/2018 às 10:23.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:46
 (Cléo Regina Baptista/Divulgação)

(Cléo Regina Baptista/Divulgação)

Prevenir é melhor do que remediar, já ensina o ditado popular. Seguindo essa premissa, o uso de terapias alternativas tem se tornado realidade em abordagens médicas convencionais e até mesmo dentro de hospitais. O objetivo é potencializar os efeitos do tratamento por meio de uma participação mais ativa do paciente. Os resultados são avaliações mais completas – observando causas e não somente consequências – e a cura sistêmica dos problemas de saúde.

Médico nos hospitais Madre Teresa, na Zona Sul, e Santa Rita, na região do Barreiro, ambos em Belo Horizonte, o otorrinolaringologista Dário Antunes Martins propõe a interação com a natureza como complemento dos tratamentos realizados em consultório. 

Uma vez ao mês, pacientes com queixas de infecções frequentes são levados a uma área verde da capital para meditar, refletir sobre a vida que levam e cuidar de hortas. “O mundo mudou muito rápido. Há cem anos, usávamos braços e pernas como força de trabalhar e muito pouco a mente. Hoje, só usamos as pontas dos dedos para abrir o vidro do carro e acionar o controle remoto. Observo que as pessoas adoecem pela angústia que surgiu da mudança”, pondera o médico, sugerindo uma adaptação à nova realidade. 

De acordo com ele, 95% das sinusites estão associadas à baixa imunidade acarretada por liberação de cortisol (hormônio do estresse) e adrenalina, em função, principalmente, do excesso de trabalho, das atribulações e do tempo que se gasta no trânsito, só para ficar em alguns exemplos. 

“Amigdalites e labirintites são um curto-circuito do cérebro, que não está mais suportando tanta informação. Estresse é cansaço que os médicos tratam como doença, presságio de problemas mais graves, como tumores e depressão”, coloca o especialista. 

Desacelerar

Na horta-terapia, onde são bem-vindos também parentes e amigos dos pacientes, todos são estimulados a desacelerar e repensar o que têm feito da vida. Por meio do contato com a terra estabelecem conexão mais profunda consigo mesmos, tornando-se mais conscientes e capazes de modificar aquilo que não vai bem. 

Empresária de 36 anos, Juliana Assunção Pedrosa experimentou uma profunda transformação. Queixando-se de tonturas e zumbidos frequentes no ouvido, foi convidada pelo otorrino a participar das sessões de horta-terapia. “Eu poderia ter procurado outro médico, que me prescrevesse remédios. Mas decidi buscar essa mudança na minha vida, dentro de mim”, relata. Além dela, a filha participa dos encontros mensais. 

O otorrino ressalta que nem sempre é possível substituir por completo o uso de medicamentos alopáticos por tratamentos complementares. Em muitos casos, quando a doença já está instalada, o melhor é associar as ferramentas para um resultado mais completo e duradouro. 

A dica do profissional é para que as pessoas revejam o ritmo das atividades diárias, as relações pessoais e no trabalho e, mais importante, a forma como percebem os sinais dados pelo próprio corpo. “Não vou tirar ninguém do hospital, mas do caminho dele. É um trabalho muito mais do que de cura, de prevenção”, diz.

Antroposofia também foca em diagnóstico sistêmico

Especialista em medicina de família e homeopatia, Iracema Benevides atua a terapia antroposófica há mais de 15 anos. Braço da medicina integrativa, consiste em um sistema terapêutico complementar, que prioriza o indivíduo e o uso de medicamentos naturais, obtidos a partir de substâncias minerais, vegetais ou animais.

Criado na Europa, o sistema é usado em mais de 60 países. No Brasil, para atuar como médico antroposófi-co é preciso ser formado em medicina e fazer curso da Associação Brasileira de Medicina Antroposófica (ABMA), cuja duração é de três anos.

Presidente da ABMA, Iracema Benevides explica que a premissa do método é compreender o ser humano de forma ampliada e individualizada. No consultório, o paciente é submetido à anamnese convencional e a um diagnóstico sistêmi-co, que inclui informações sobre sono, alimentação e outros aspectos da rotina. 

“Tudo passa pela compreensão da parte orgânica, biológica, da parte emocional e psíquica e também do ser humano, como indivíduo único. O profissional faz o diagnóstico convencional, conforme a área em que atua, e um complementar, buscando identificar disfunções no organismo vital da pessoa”, detalha. 

A advogada Fabiana Lemes, de 38 anos, começou, há mais de três, um tratamento antroposófico para as crises repetidas de sinusite. A resposta, comenta, foi demorada, porém mais positiva e duradoura do que os tratamentos com antibióticos. “Praticamente não fico mais doente e se aparece um resfriadinho já começo com a medicação (antro-posófica) e os resultados são bem mais rápidos”, diz.Lucas Prates

Fabiana recorreu à medicina antroposófica há três anos; desde então, não tomou mais antibióticos

Além disso:

Prevenir doenças com tratamentos personalizados é a linha de atuação do nutrólogo Adriano Faustino. O profissional, cujo consultório fica no bairro Belvedere, em BH, utiliza a medicina integrativa como pilar dos atendimentos. “Cada paciente tem uma abordagem diferente. No caso de um tratamento para obesidade, por exemplo, não existe um pacote fechado. Cada caso é um caso, tratado conforme as necessidades daquele paciente, ritmo e modo de vida”, explica. Dentre as terapias empregadas estão reposição nutricional, acupuntura e ozonioterapia.

Na Grande BH, o Instituto Melo, no bairro Vila da Serra, é outro que utiliza a medicina integrativa. Proprietário da clínica, o médico José Roberto de Melo Filho explica que o foco é a “limpeza de terreno e mudança de curso”. “Tratamos o paciente, não a doença. Avaliamos o meio onde ele vive, as influências que sofre, os hábitos. Só assim abrimos caminho para o processo de cura”, explica.

Pioneiro a incorporar abordagens integrativas no cuidado com os pacientes, o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, incluiu, há dez anos, terapias corporais com foco no bem-estar na conduta com pacientes oncológicos e internados no centro de hematologia. O objetivo é auxiliá-los a ser protagonista da própria cura. A instituição de saúde também oferece curso de pós-graduação em Bases de Saúde Integrativa e Bem-Estar. Criada em 2013, a formação tem como ponto de partida a promoção coletiva de saúde e bem-estar por meio da atuação de equipes multidisciplinares. 

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