
A chuva ininterrupta que cai sobre boa parte de Minas desde o fim do ano passado frustrou o otimismo do setor de turismo para janeiro. Estradas bloqueadas, deslizamentos de terra, inundações e alertas de autoridades para que as pessoas não saiam de casa e só viajem em caso de extrema necessidade deixam hotéis e pousadas vazios após sucessivos cancelamentos de reservas no mês que tradicionalmente turbina as finanças dos estabelecimentos.
Agências de turismo relatam desistências de pacotes e clientes assustados com a situação em vários municípios do Estado, sobretudo nos últimos dias. A tragédia em Capitólio, onde dez pessoas morreram após um paredão de pedra atingir uma lancha no lago de Furnas, teria contribuído para a mudança nos planos dos clientes. Na tentativa de tranquilizar os turistas e amenizar as perdas do segmento, um dos mais afetados pela pandemia da Covid-19, representantes do setor pedem investimento em prevenção e segurança.
De acordo com a Abav-MG (Associação Brasileira de Agências de Viagens de Minas Gerais), o efeito das chuvas no turismo ainda está sendo apurado, mas os relatos dos empresários são de desalento e insegurança.
“Janeiro era aguardado com muita expectativa pelo turismo. Seria um mês essencial para recuperação do setor, que foi o primeiro a fechar na pandemia e um dos últimos a retomar. Mas, infelizmente, os relatos são de cancelamentos em passagens e pousadas”, afirma Peter Mangabeira, presidente da Abav-MG. Ele é dono da agência Pampulha Turismo e estima que 30% das viagens da empresa foram canceladas ou remarcadas desde o último sábado.
Henrique Felix, da agência de turismo Vem pra Minas Tur, recebeu ainda no sábado, 8, logo após a tragédia em Capitólio, o cancelamento de um grupo do Rio Grande do Sul (RS) que visitaria as cidades históricas de Ouro Preto, Mariana e Tiradentes nesta semana.
“Estamos tendo vários cancelamentos, as pessoas estão falando que não vêm mais por medo. A percepção das pessoas é que o Estado inteiro está debaixo d’água e que não é seguro vir para cá”, relata. Só com o cancelamento deste grupo, o prejuízo foi de R$6 mil.
Para Angelo Oswaldo (PV), prefeito do Ouro Preto e vice-presidente da Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais (ACHMG), a situação deve se normalizar na segunda quinzena de janeiro.
“As chuvas fortes têm prejudicado a circulação de turistas, até porque alguns monumentos estão fechados, assim como as minas de ouro, porque o solo ouro-pretano está encharcado e não é recomendado visitar estas galerias com esse clima”, disse.
De acordo com o prefeito, não há dados para comparar a quantidade de visitantes com outros períodos, mas o número de turistas na cidade histórica é “razoável”. “Estamos sofrendo também com a interdição de estradas, principalmente no interior do município, que foram bastante atingidas por deslizamentos, além dos problemas na BR-040”, afirma.
Em Capitólio, expectativa é por definição de critérios de segurança para retomada de passeios
Em Capitólio, local da tragédia do desabamento da rocha que vitimou dez pessoas, a expectativa do segmento é de suspensão de visitas à região, pelo menos até que o inquérito da Marinha sobre o desastre seja concluído, afirma Fausto Costa, secretário executivo da Associação dos Municípios do Lago de Furnas (Alago).
Para contornar a situação e voltar a atrair viajantes, ele acredita que vai ser preciso investir em segurança e prevenção. “O que a gente espera é celeridade da Marinha e dos Bombeiros de Minas Gerais, que têm o conhecimento técnico, para que seja dada uma resposta precisa no sentido de estabelecer critérios de segurança para as pessoas normalizem a atividade de turismo na região. Isso não pode demorar muito”, disse.
Para o presidente da Abav-MG, Peter Mangabeira, episódios envolvendo, especialmente, barragens no Estado prejudicam a imagem de Minas pelo país.“O Estado precisa ter uma fiscalização mais pesada em relação às barragens porque isso tem prejudicado uma cadeia gigante. Nós vamos em feiras divulgando nosso Estado e só nestes últimos dias, tivemos ameaças de barragens da Vallourec e a de Pará de Minas, o que espanta o turista”, afirma.
Leia também:
Nível Piracicaba já é quase o dobro do limite de alerta em Nova Era e duas mil pessoas tiveram de
Pequenas erosões são identificadas em barragem de Congonhas, mas não há risco de rompimento
Cidade de Paula Cândido, na Zona da Mata, está comovida com morte de família em Brumadinho
'Fizemos as malas e ficamos na sala com a porta destrancada', conta moradora de Betim após temporais