
Aos poucos, quase que engatinhando, o padrão de beleza que, por décadas, dominou as passarelas de todo o mundo, vai perdendo força para dar lugar à diversidade de gêneros, biotipos e etnias. Prova disso foram os desfiles que ganharam destaque nas semanas de moda de São Paulo, no fim de agosto, e de Nova York, que terminou na última quinta-feira. O estilista mineiro Ronaldo Fraga e o colega nova-iorquino Michael Kors são exemplos de quem já entendeu que abraçar o fora do padrão é o futuro da moda não faltam.
“O conceito de beleza anteriormente estabelecido era uma ilusão. Hoje, estamos mais próximos da realidade. A beleza muda de acordo com a tribo: brancos, negros, gordinhos, magrinhos, transgêneros”, observa o diretor do Instituto Europeu de Design (IED), Victor Megido. Ele acredita que a flexibilização do estereótipo de beleza é uma tendência.
Millenial
Esta mudança que está em curso tem como protagonistas, principalmente, os mais jovens, apontam especialistas no assunto.

Ashley Graham
Diretora da École Supérieure de Relooking no Brasil, Vandressa Pretto afirma que as gerações millenial e Z (nascidos nos anos 2000), por terem sido criadas de forma mais livre, são quase desprovidas de preconceito e aceitam naturalmente as diferenças.
“E esses são os consumidores que mais têm acesso hoje à internet, compram regularmente pela web, potencializando a concorrência”, resume. Para ela, as marcas que têm visão atenta a isso saem na frente, sabem o que o cliente quer.
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Para Aldo Clécius, professor e pesquisador de tendências do Centro Universitário Una, os jovens estão promovendo uma verdadeira revolução no mundo da moda, a partir do momento em que buscam outras formas de beleza.
“Quando elejo alguém como um padrão e não consigo atingi-lo, vou me tornar uma pessoa infeliz e o que a gente busca na vida é a felicidade, que passa muito pela autoaceitação. Ver alguém na passarela que traduz um pouquinho nós mesmos é um alento”, coloca Clécius.
Paradigma
O comportamento dessa que é a atual e também futura geração de consumo contrário à exclusividade do biotipo hipermagro de modelos adotado pelas marcas em desfiles foi responsável por uma recente decisão sem precedentes no segmento fashion.
Em 6 de setembro, um dia antes do início da New York Fashion Week, dois grandes grupos franceses de luxo – LVMH e Kering, proprietários de marcas como Saint Laurent, Gucci, Dior e Louis Vuitton – selaram um código de ética no qual comprometem-se a não trabalhar com modelos extremamente magras e menores de 16 anos.
“A moda é um grande intérprete da sociedade, acredito que esse movimento talvez seja o espelho máximo do que está acontecendo. A flexibilização do padrão de beleza está possibilitando que a moda renasça. Estamos vivendo uma mudança de paradigma”, assegura Victor Megido, diretor do IED.
Ele acredita que, finalmente, é dada voz a todo mundo, e “ao que é bonito e autêntico. Não é mais a estética que manda na moda, é a ética”.