
O ano já começou com a inflação dando as caras e mostrando que 2023 não vai ter refresco no custo de vida. Em Belo Horizonte a taxa bateu a média nacional e termina janeiro como a quarta maior alta de preços entre as capitais brasileiras. Com aumento de 0,82% no mês, a cidade superou o índice nacional de 0,53% e ficou atrás apenas de Salvador, Vitória e Fortaleza, de acordo com o Índice Geral de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Tanto no Brasil quanto na capital mineira, o grupo “Alimentos” foi novamente o grande puxador de preços. Em BH, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mede a variação do índice, o destaque ficou com o feijão, com alta de 8,7%; batata inglesa, 15,7%; e cenoura, com 23,8% de aumento no mês. Alimentos básicos para a mesa do belo-horizontino.
Um custo que pesa para pessoas como dona Maria Raimunda, que tem 90 anos e mora com uma filha no bairro Dom Cabral, região Noroeste da capital. Ela conta que os alimentos pesam muito, mas, apesar disso, ainda é preciso fazer caber no orçamento outros gastos inevitáveis.
“O problema é que não foi só em alimentos, foi em quase todos os produtos. Remédios, todos tiveram aumento. Frutas também. Maçã, por exemplo, a última vez que comprei paguei R$ 16,99”, conta Denise Freitas, responsável pelas compras na casa.
Dona Maria, que é pensionista, destaca que os preços sobem, mas o salário que é bom, nada. “Tem aumentos no preço dos legumes, frutas e remédios; sem falar nas contas de água, luz, gás e telefone. Mas aumento de salário não tem, né?”, questiona.
Impacto generalizado
A economista Mafalda Valente, professora das Faculdades Promove, confirma essa impressão. Segundo ela, ainda que os alimentos tenham maior peso nas contas feitas pelo IBGE, o aumento generalizado em outros grupos impactaram na inflação de janeiro.
Segundo ela, o resultado foi melhor que aguardado por especialistas, mas que só o aumento dos alimentos não explica o índice. É preciso considerar também o aumento no grupo de habitação e educação.
“O aumento da inflação foi abaixo do esperado e teve o impacto de mensalidade de escolas, aluguéis e condomínios, que são corrigidos de acordo com índices de inflação do passado e tiveram um peso importante no todo”, avalia.
De acordo com o IBGE, o aumento no preço da tarifa de água e esgoto em Belo Horizonte foi um dos principais responsáveis pelo aumento da média nacional no grupo de habitação. Segundo o instituto, essa taxa aumentou 12,73% na capital mineira em janeiro.
Expectativa
O índice em janeiro de 2023 ficou próximo do registrado no mesmo mês de 2022. Porém, segundo Mafalda, não é possível prever ainda como será o comportamento dos preços ao longo do ano.
“Um ponto a destacar é a reoneração dos combustíveis, previsto para março. A desoneração foi mantida pelo presidente Lula (PT), mas, aparentemente, não há movimentos do governo, até este momento, indicando que esta desoneração será prorrogada e isso pode pesar na inflação nos próximos meses”, destaca.
O economista-chefe do banco Itaú, Mário Mesquita, avalia que essa reoneração deve acontecer e pode influenciar nos preços administrados pelo governo. Porém, segundo ele, esse pode ser um sinal do governo mostrando ao mercado preocupação com o equilíbrio fiscal das contas públicas, e deve ter menos impacto nos preços determinados pelo mercado.
“A inflação desceu um patamar no último ano, passou de 10% para 6% e deve manter esse patamar. Mas é uma inflação qualitativamente melhor do que foi no ano passado. A inflação de preços livres deve cair. O que deve aumentar é a inflação de preços controlados pelo governo”, avalia. Dessa forma, segundo Mesquita, seria possível pensar em uma queda nos juros, importante para o reaquecimento da economia.