Alta nos custos e rumos da pandemia preocupam setor do transporte escolar em BH

Leíse Costa
leise.costa@hojeemdia.com.br
07/01/2022 às 21:29.
Atualizado em 10/01/2022 às 02:02
 (Fernando Michel)

(Fernando Michel)

Após dois anos de paralisação das atividades, por conta das restrições da pandemia, as empresas que prestam serviço de transporte escolar se preparam para voltar ao mercado carregadas de apreensão. Os motivos são a incerteza do cenário da pandemia e a necessidade de um reajuste entre 40% e 50% no valor da mensalidade, conforme estimativa do Sintesc (Sindicato dos Transportadores Escolares da Região Metropolitana de Belo Horizonte). Na prática, porém, o aumento deve ficar entre 20% a 30%, já que o segmento teme que os pais não consigam arcar com um aumento tão alto devido ao comprometimento da renda, desemprego e alta da inflação.

A mensalidade de transporte escolar na capital mineira varia de acordo com a região, mas o Sintesc estima que, antes da pandemia, o serviço custava, em média, R$300 por aluno. Um acréscimo de 50%, elevando a mensalidade para R$ 450, é visto como inviável. “Ocorreu um endividamento geral do país, muitos pais perderam a renda e emprego e optaram por colocar os filhos em escolas públicas ou perto de casa; isso criou uma evasão do sistema”, diz Carlos Eduardo Campos, presidente do sindicato. 

Dados da BHTrans (Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte) mostram que o registro de condutores de transporte escolar caiu 10,1% nos últimos dois anos. Em 2019, 2.501 operadores estavam aptos a circular em BH. O número caiu para 2.246 em 2022. “A maior parte desistiu temporariamente e foi trabalhar com carga ou como motorista de aplicativo durante a pandemia, mas deve voltar em 2022”, avalia Carlos Eduardo. 
Segundo ele, quem voltou a circular no segundo semestre de 2021 relatou que o número de clientes caiu. Por isso, a volta às aulas presenciais no primeiro semestre deste ano vai colocar o setor à prova.

Os custos dos empreendedores do setor envolvem manutenção de veículos, pagamento de impostos, equipe e o principal: combustível. O diesel, usado nas vans escolares e micro-ônibus, subiu 44,6% em 2021, segundo levantamento da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

Com baixa procura, setor já admite reduzir margem de lucro para atrair clientela 

Para não assustar os pais, a estratégia dos prestadores de serviço de transporte escolar na capital será cortar na margem de lucro. Segundo o Sintesc, o faturamento bruto de um veículo com capacidade para transportar 30 alunos era, em média, R$9.000, e o lucro líquido era estimado em 30% antes da pandemia. Em 2022 , essa margem deve ficar entre 20% e 25%. 

Claudinei Alves de Paula, o Dudu Escolar, atua há 30 anos com serviços de transporte escolar na região Oeste de Belo Horizonte. Durante a pandemia, precisou vender um dos seus quatro veículos, demitiu todos os 7 funcionários e foi trabalhar como motorista de aplicativo. Ele enxerga a retomada das atividades em 2022 com cautela. Em 2019, ele transportava 220 alunos. No segundo semestre de 2021, retornou com dois veículos e com menos de 50% dos clientes. Na volta, o reajuste para a região que atende foi de 20% a 25%, com a mensalidade passando de R$280 para R$330. “A procura ainda está pouca, não é a retomada que a gente acreditava”, diz. Em 2022, ele acredita em novo reajuste de 15%, o que deve elevar o valor para cerca de R$380.

Há 25 anos no setor, Gleiton Oliveira é proprietário de seis veículos escolares que atendem 32 bairros da capital mineira. Em média, ele cobrava R$300 mensalmente por aluno, com reajuste previsto de 20%, o valor vai subir para R$ 360. “Espero voltar com pelo menos quatro carros. Tivemos uma parte que parou, o que diminui a oferta dos serviços, mas estamos no escuro em relação ao tamanho da demanda. Não dá para saber se vai compatível”, diz.

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