Contas básicas no prego

Cerca de 1,5 milhão de dívidas registradas no Serasa são de luz, água e gás

Hermano Chiodi
hcfreitas@hojeemdia.com.br
25/07/2022 às 06:00.
Atualizado em 25/07/2022 às 14:54
Arrocho familiar, reflexo da inflação e desemprego, já ultrapassou os gastos supérfluos e vem comprometendo o pagamento de contas básicas (Fernando Michel)

Arrocho familiar, reflexo da inflação e desemprego, já ultrapassou os gastos supérfluos e vem comprometendo o pagamento de contas básicas (Fernando Michel)

O arrocho provocado pela inflação – que bateu quase 12% em 12 meses – é tão grande que já está comprometendo o pagamento de contas básicas de muitas famílias brasileiras. Falta dinheiro para quitar faturas de luz, de água e gás, e o atraso está levando o nome de muita gente para a lista de devedores dos órgãos de proteção ao crédito.

Dados da Serasa mostram que 22,7% dos consumidores que estavam com o “nome sujo” no cadastro em maio deste ano – último levantamento divulgado pela instituição – tinham dívidas em aberto com as contas de serviços básicos, como água, gás e luz. Isso representa cerca de1,5 milhão de dívidas vencidas.

O número é o maior para um mês de maio desde 2018, segundo a Serasa Experian, e fica atrás apenas dos consumidores endividados com serviços financeiros e cartão de crédito, que representam 29,7% do total.

Para a economista Mafalda Valente, professora das Faculdades Promove, a alta taxa de endividamento com serviços essenciais é uma demonstração de que boa parte da população brasileira está chegando em um limite perigoso de estrangulamento financeiro e, nesses casos, a melhor alternativa é buscar formas de negociação, oferecidas tanto pelas empresas prestadoras dos serviços como pelas instituições de proteção ao crédito.

RENEGOCIAÇÃO
“A inflação elevada e distribuída por vários setores acaba fazendo com que as pessoas percam o controle e entrem em endividamentos que não consigam pagar. Nesses casos, o que tem mostrado bons resultados é a busca por renegociação”, orienta Mafalda.

Moradora da região do Barreiro, em Belo Horizonte, Márcia Kuster até seguiu este caminho, mas ainda não conseguiu resolveu os problemas financeiros. Ela sempre trabalhou como auxiliar de setores administrativos e, assim, conseguiu criar a família. Porém, ficou desempregada e não tem conseguido pagar as contas em dia.

“Com a Cemig, estou fazendo daquele jeito: pago um mês e deixo o outro para depois. Com a Copasa eu negociei, mas o valor para pagamento é muito alto e acaba sobrecarregando, pois a gente tem que pagar a conta do mês e a parcela da renegociação”, diz.

E os problemas dos consumidores nem sempre se limitam à falta de dinheiro. No caso da Márcia, ela ainda questiona uma falha na prestação de serviços da fornecedora de água que, segundo ela, cobrou por um vazamento no equipamento da empresa, não de sua residência, e diz que terá que levar a questão para a Justiça.

RANKING
De acordo com a Serasa, Minas Gerais é o terceiro Estado com a maior quantidade de endividados. São 6,3 milhões de dívidas inscritas no serviço de proteção ao crédito. Muitas dessas com valor inferior a R$ 100 e que podem ser renegociadas até na própria Serasa.

Os descontos podem chegar a 90% e também é possível parcelar os acordos. Com o pagamento da primeira parcela, o nome do consumidor já é retirado do cadastro de inadimplentes.

A gerente do Serasa Limpa Nome, Aline Maciel, alerta que “é fundamental concluir o pagamento das demais parcelas para que a dívida não seja retomada”.

Sobre o assunto, a Cemig disse que oferece aos clientes residenciais e comerciais de baixa tensão "a oportunidade de dividir em até 18 vezes suas contas em atraso" e que os clientes podem procurar o serviço pelos canais de atendimento presencial e telefônico ou canais digitais, pelo atende.cemig.com.br ou WhatsApp (31 3506-1160).

A Copasa também foi procurada para falar sobre o assunto, mas não respondeu até o fechamento da edição.

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