
Minas Gerais corre o risco de passar por uma desaceleração da economia ainda mais forte do que a prevista para o país. Na última terça-feira (17), o mercado reduziu na última terça-feira (17) para 1,79% a previsão de crescimento da economia brasileira em 2014 (leia na pág. 9) e elevou, para 5,9%, a expectativa da inflação para o ano.
O problema é que, sobre Minas, além da deterioração das projeções de crescimento, pesa a expectativa de menor demanda mundial e a maior exposição de sua economia ao cenário de crise global em virtude da economia pouco diversificada e fortemente atrelada a setores exportadores, sobretudo minério de ferro e café.
A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) confia em PIB com variação positiva de 2,1% para o Brasil e de 1,8% para Minas Gerais em 2014. Em 2013, que ainda não teve os dados divulgados, a entidade aposta em alta de 2,3% para o país e de 0,3% para o Estado.
Impacto do câmbio
A expectativa de uma desvalorização continuada do real frente ao dólar, beneficiando consequentemente os exportadores de commodities, deverá ser contrabalançada pelo recuo da demanda e dos preços internacionais, e ainda pelo aumento dos juros e do financiamento da produção. “Isso torna mais pronunciado em Minas Gerais o ciclo econômico com viés de crescimento tímido”, afirmou o professor de economia do Ibmec, Reginaldo Nogueira.
“O quadro global conspira contra a economia mineira. A China deve crescer 7,3%, porém o modelo não é mais de crescimento em cima unicamente de investimentos. Há um deslocamento para o mercado interno”, disse o vice-presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Fabrício Augusto de Oliveira.
Crescimento mais vigoroso demorará
A vulnerabilidade da economia mineira aos ciclos econômicos globais pouco favoráveis não encontra proteção nem mesmo no câmbio.
“O real desvalorizado ajuda muito a economia mineira, muito ligada a exportação. Mas a concentração da economia em poucos setores puxa para baixo os indicadores quando o ciclo não é favorável. É isso que vai acontecer e vamos crescer abaixo do Brasil em 2013 e em 2014”, disse o economista da Fiemg, Guilherme Veloso.
A influência positiva do dólar na economia mineira não deverá ser percebido de imediato, alerta o professor de economia do Ibmec, Reginaldo Nogueira. “Os exportadores trabalham com contratos que foram fechados com preço do dólar antes do movimento de valorização. Os novos contratos, com o real desvalorizado, chegaram ao mercado gradualmente, a partir do segundo semestre. Além disso, ao mesmo tempo que o dólar ajuda de um lado, a queda no preço das commodities limita esse impacto”, afirmou.
Café é beneficiado
No caso específico da indústria do café, sinais de recuperação começam a ser percebidos, com preços mais altos e demanda consistente. Porém sua manutenção não é dada como certa. A seca prolongada nas principais regiões produtoras no Sudeste brasileiro coloca um ponto de interrogação na safra 2014, que começa a ser colhida no final de abril.
Embora a dimensão dos estragos ainda tenha que ser medida, o fenômeno colaborou para a uma alta nos preços da saca. Em reais, as cotações para entrega em março na Bolsa de Nova Iorque fecharam o dia 7 de fevereiro a R$ 427,04/saca e dia 14 estavam a R$ 441,18/saca.
O corretor de café do escritório Carvalhaes, Eduardo Carvalhaes, avaliou que o cenário atual indica retomada.
“Hoje o cenário é bom para o ano de 2014, mas os estragos causados pela seca ainda são uma incógnita. Os dados de projeção de safra são vistos com desconfiança. Especialmente no Sul de Minas, o problema foi muito sério e pode comprometer, inclusive, safras futuras”, disse.
Segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), em janeiro foram embarcadas 2.6 milhões de sacas de café, aproximadamente 6% mais que no mesmo mês do ano anterior.