Cidade-sede da Copa do Mundo de 2014, Belo Horizonte terá um incremento de 1,1 ponto percentual em seu Produto Interno Bruto (PIB) em função das obras e um ganho permanente de 0,484 ponto percentual no indicador. O PIB mede o total de bens e serviços produzidos em determinado local.
O choque econômico na cidade, superior ao do país, estimado em 0,69 ponto percentual, será gerado pela melhoria da infraestrutura urbana, que se estenderá no longo prazo e beneficiará o setor produtivo. Na fase atual, de obras visando a Copa, estima-se que sejam gerados 42,2 mil empregos em Belo Horizonte.
As projeções estão quantificadas pelo estudo “Copa do Mundo 2014: Impactos Econômicos no Brasil, em Minas Gerais e Belo Horizonte”, desenvolvido pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Ganhos e riscos
No Estado, o acréscimo ao PIB chega a 0,5 ponto percentual na fase de obras e 0,4 ponto percentual após as intervenções. O último levantamento do PIB de Minas Gerais, de 2011, registrou crescimento de 2,5%. Caso as obras fossem realizadas naquele período, a variação seria de 3%.
Mas, além dos benefícios econômicos, o estudo aponta os riscos criados em função dos investimentos estarem sendo feitos basicamente com recursos públicos. O orientador da pesquisa, professor Edson Paulo Domingues, observa que o estudo mediu a “taxa de retorno de mobilidade” e concluiu que o financiamento público impede benefícios mais significativos.
“O impacto econômico tende a diminuir com o financiamento público para as obras, uma vez que implicam ou no crescimento da dívida pública ou na redução do gasto das diferentes esferas de governo envolvidas”, diz o estudo, que também é assinado pelos doutorandos Admir Antonio Betarelli Junior e Aline Souza Magalhães.
Em Belo Horizonte, dos 11 projetos para a Copa, que consumirão R$ 1,4 bilhão, todos são integral ou parcialmente financiados por recursos públicos. “No caso de Belo Horizonte, o Mineirão, por exemplo, é uma parceria público-privada, o que inclui aporte privado e reduz esse impacto negativo”.
A tese da UFMG cita exemplos internacionais onde o financiamento público causou sérios danos à economia. “Somente em 2006, após 30 anos da realização dos Jogos Olímpicos, a cidade de Montreal conseguiu sanar uma dívida cerca de R$ 2,8 bilhões”, relata o estudo.
Outra citação se refere aos gastos gerados com equipamentos subutilizados após o evento. Por ano, o governo da Grécia despende aproximadamente R$ 202 milhões na manutenção da infraestrutura construída para os jogos olímpicos.
Interior encolhe durante as obras
Na medida em que Belo Horizonte contabiliza ganhos com os investimentos da Copa, o interior sofre com a transferência de empresas e mão de obra para atender a demanda da cidade-sede. De acordo com o estudo da UFMG, o PIB do restante de Minas Gerais, excluída a Capital, está reduzido em 0,2 ponto percentual na fase de obras.
“O investimento é todo em Belo Horizonte. Além da prestação de serviços e contratação de mão de obra, grupos empresariais podem mudar seu planejamento. Quem, antes, construiria um hotel em Montes Claros, aproveitaram a oportunidade investir em Belo Horizonte”, disse o orientador, Edson Paulo Domingues.
Outro ponto da tese questiona os benefícios intangíveis propalados pelos responsáveis pelo mega-evento. Conforme o levantamento, na Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, as expectativas estavam sobrevalorizadas e os empregos adicionais eram somente temporários. A conclusão foi a de que os principais beneficiários foram a FIFA e a German Foootball Association (DFB).
Investimento em mobilidade gera ganhos permanentes
O orçamento total para a Copa em Belo Horizonte é de R$ 2,6 bilhões, sendo R$ 1,4 bilhão para obras de mobilidade urbana. Essa grande fatia aportada no segmento pode ser um diferencial, como ocorreu em outras cidades sedes de grandes eventos. Em adição aos investimentos na construção de arenas para as Olimpíadas, Barcelona (1992) e Seul (1988) recuperaram inteiramente suas infraestruturas urbanas . Quando revitalizadas, tem potencial para reduzir custos e fornecer um impulso de produtividade à própria economia. Barcelona é maior exemplo disso, e considera-se que se transformou após sediar o evento.