Emprego e carreira

Crescem matrículas de alunos com mais de 50 anos em cursos profissionalizantes

Jader Xavier
@ojaderxavierjsbarbosa@hojeemdia.com.br
Publicado em 12/11/2022 às 10:00.
“Fui atrás do que me interessava fazer. Vou atuar como MEI e já estou em contato com possíveis trabalhos em Portugal”, diz Márcio (Maurício Vieira)

“Fui atrás do que me interessava fazer. Vou atuar como MEI e já estou em contato com possíveis trabalhos em Portugal”, diz Márcio (Maurício Vieira)

À margem do mercado de trabalho ou em busca de novos caminhos profissionais, pessoas com mais de 50 anos têm recorrido aos cursos profissionalizantes para conseguirem uma melhor colocação ou até mesmo se tornarem empreendedores. Nos últimos 12 meses, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), registrou um aumento de 43% no número de matrículas de alunos com mais de 50 anos. Em 2021 eram 4.965 matrículas de pessoas nessa faixa etária. Neste ano, são 6.911.

O ex-bancário Márcio Brandão, de 59 anos, é um desses alunos. Após anos dedicados ao trabalho em instituições financeiras, ele se viu em busca de fazer algo que lhe desse mais satisfação. No início deste ano, Márcio decidiu voltar para a sala de aula, com o objetivo de se profissionalizar em uma área que, avalia ele, será cada vez mais requisitada.

A um mês de completar seis décadas de vida, ele cursa o técnico de Refrigeração e Climatização no Senai. “Eu não queria mais voltar para a área bancária, então, vi que a demanda nessa área de ar-condicionado e afins estava muito grande, inclusive surgindo novas tecnologias no mercado. Fui atrás do que me interessava fazer. Vou atuar como MEI. Inclusive, já estou em contato com possíveis trabalhos em Portugal”, ressalta o quase sexagenário.

E a idade não é, de forma alguma, um limitador para esses alunos. “Eles se integram na turma mesmo. E é muito interessante porque o Senai é conhecido pela formação de jovens. Temos alunos aqui com 14 anos. Mas a interação de quem tem 50, 60 ou até mais de 70 anos com os jovens é muito positiva. É uma troca de visão de mundo legal”, avalia o gerente de unidade do Senai, Gerson Freitas Gonçalves.

Ele garante que a procura está maior até mesmo do que nos anos anteriores à pandemia de Covid-19. Apesar disso, o gerente conta que é comum ouvir relatos dos alunos mais velhos alegando que, durante o período de medidas de distanciamento, notaram a necessidade de se especializar para voltar ao mercado de trabalho.

Questionado sobre como a idade impactava no aprendizado, o aluno ex-bancário respondeu que não existe qualquer dificuldade. “Basta a pessoa ter boa vontade, disposição e gostar do que está fazendo”, garante Márcio Brandão.


Formação para empreender ou para cobrir aposentadoria
A professora de economia das Faculdades Promove Mafalda Valente afirma que esse fenômeno é resultado de uma somatória de fatores que vêm exigindo dos trabalhadores mais velhos uma busca ativa por atualização de conhecimentos. 

“É necessário renovar o conhecimento em um momento em que a tecnologia anda muito em pequeno intervalo de tempo. Tem a necessidade também gerada pelo aumento do prazo da aposentadoria no Brasil. Com isso, o trabalhador precisa trabalhar mais anos para se aposentar”, afirma.

As projeções, segundo Mafalda, apontam que o Brasil está se tornando um país com uma população cada vez mais velha. “Tem mercado de trabalho para essas pessoas, a depender do setor. Mas vale ressaltar que a gente está no meio de uma crise, pendendo a voltar para o pior cenário”, diz a professora.

Mais capacitada
Aos 52 anos, Luciane Augusto também decidiu voltar para a sala de aula. Ao levar a filha de 19 anos para se inscrever no curso de Tecnologia da Informação (TI), ela perguntou se havia limite de idade para estudar. “Basta você comprovar que fez o ensino médio”, responderam.

Foi o bastante para a Luciana, que já tinha vontade de se formar na área para ajudar na profissão que exerce há quase quatro décadas, decidir se matricular também. “Eu sou cantora há 37 anos. E isso me faz ter que me virar com tecnologia, por exemplo, no momento de gravar, de me apresentar. Já tinha essa vontade de fazer TI há muito tempo”, conta.

E Lucinha Santos, como é conhecida nos palcos, não deve parar por aí. “Depois que acabar o curso, eu tenho interesse em me formar também em desenvolvimento de sistema, meio que para continuar na área, né?!”.

Microempreendedores
A busca por esses cursos profissionalizantes também tem outro apelo. Muitos voltam a estudar para se tornarem empreendedores. O número de MEIs com mais de 50 anos também vem crescendo em Minas. Em janeiro de 2022 havia 373,7 mil microempreendedores individuais nessa faixa etária no Estado, número que saltou para 384,4 mil em setembro, um aumento de 2,87%. Os dados são do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Os MEIs com idade superior aos 50 anos representam 23,9% do total da categoria no Estado.

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